Pedagogia sistêmica e a construção da rede de atenção psicossocial: uma experiência integrada de inclusão, cuidado e promoção de equidade em Santa Cruz Cabrália

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Pedagogia Sistêmica na Construção de Redes de Cuidado e Justiça Restaurativa: Uma Abordagem Integrativa, Intercultural e Espiritual
1. Pedagogia Sistêmica, Pertencimento e as Ordens do Amor
A base teórica da proposta desenvolvida em Santa Cruz Cabrália repousa sobre a Pedagogia Sistêmica, conforme as formulações de Bert Hellinger, que introduz os conceitos das ordens do amor: pertencimento, hierarquia e equilíbrio. Estes pilares sustentam não apenas as relações familiares, mas também escolares, comunitárias e interinstitucionais (HELLINGER, 2001). Como aprofundaram Joan Garriga, Carola Castillo e Jan Jacob Stam, a ampliação da escuta, o respeito à ancestralidade e o olhar para o sistema como um campo vivo são essenciais para qualquer prática educacional ou terapêutica.
2. Educação Popular, Intersetorialidade e Escola Restaurativa
A perspectiva de Jaqueline Moll, uma das maiores referências da educação popular no Brasil, reforça que a escola deve ser espaço de formação integral, diálogo comunitário e justiça social. Em Santa Cruz Cabrália, essa visão foi incorporada a uma proposta que envolveu saúde, cultura e educação como campos interdependentes. A contribuição das Professoras Thais Veras, Viviane Aquino e Maria Cristina Martins foi determinante para a implementação de uma dinâmica de formação restaurativa e integrativa no ambiente escolar e comunitário.
3. Terapia Comunitária Integrativa e Espiritualidade Popular
A Terapia Comunitária Integrativa, criada por Adalberto Barreto, trouxe a força dos saberes populares, das redes de apoio e da escuta coletiva como elementos estruturantes da proposta terapêutica utilizada. As práticas de abertura com celebrações no WhatsApp e encerramentos com oração ou meditação foram inspiradas não apenas em Adalberto, mas também no Professor Ubiraci Paraxó, que fortaleceu a presença espiritual e cultural nas dinâmicas de grupo.
4. Pensamento Integrativo, Cuidado Ancestral e Redes Sistêmicas
Josemar Freitas, Maria Eugênia Franca, Janaron Pataxó, Jeff Pataxó e os irmãos Távora contribuíram com saberes interétnicos, ecológicos e espirituais, promovendo uma abordagem de cuidado intercultural e integrativa, onde o território é compreendido como corpo vivo, campo terapêutico e espaço de memória. A ancestralidade indígena e afro-brasileira foi honrada não apenas como símbolo, mas como metodologia de cuidado.
5. Instituto Imensa Vida e o Círculo como Espaço de Cura
Durante a pandemia, os professores do Instituto Imensa Vida ampliaram o alcance dos grupos de estudo de constelação familiar pelo whats app e telegram, entre outras redes sociais e após a pandemia, prosseguiu através de vários protagonistas, o aumento da potência das práticas integrativas e da disseminação do pensamento sistêmico por meio de encontros híbridos e ações online. Entre os que atuaram diretamente, contribuindo com Santa Cruz Cabrália estão:
Hércules Randazzo,
Sandra Lage (cujo curso de pensamento sistêmico foi um divisor de águas em 2023),
Elaine Assis,
Jane Teodoro,
Daniela Baveda,
Pablo Delgado,
Maria Aparecida Dionísio,
Marcus Dultra
Léia Santini
Luceni Ransolin,
Lizete Maria de Paula.
Esses nomes, essas almas, contribuíram para o aprofundamento do campo fenomenológico, intuitivo e espírito comunitário da proposta cabraliense.
6. Arquivologia Sistêmica e Memória Digital Restaurativa
O uso da plataforma FamilySearch como espaço de arquivamento espiritual e terapêutico e o engajamento às aplicações da Autossuficiência Brasil foi possível graças à sensibilização e ação de voluntários como:
Maria Aparecida Gomes,
Altina Farias,
Gustavo Prado,
Renê Portela,
Jerusa Jacondo
Iracema Ferro
Argemiro Barroso Neto
Ivan Tramontina
Liliane Moreira

Esses colaboradores facilitaram não apenas o armazenamento, registro e pesquisa, mas a vivência dos princípios da resiliência emocional, surgindo, na sequência também a cura transgeracional e o resgate da dignidade da memória coletiva, segundo diversos depoimentos, com base nos princípios das inspirações espirituais contemporâneas.
7. Contribuição de Joanna Angélica Carneiro e Mônica Coutinho
Essas pesquisadoras atuaram fortemente na fundação do Conselho Intersetorial Sistêmico e na organização do Observatório Sistêmico do Programa de Apoio e Promoção de Saúde Integral Npics Brasil, além de contribuírem com a sistematização científica do Laboratório de PICS Sistêmicas, cuja base nasceu na Unesulbahia, foi fortalecida pela UFSB e Organizações Não Governamentais e consolidada no Fórum de Santa Cruz Cabrália, com Publicações na RevPsi, no HumanizaSUS e no IdeaSUS/ Fiocruz.
8. Espiritualidade Revelada e Sabedoria Profética
Por fim, todo o processo encontra eco nos ensinamentos espirituais de Russell M. Nelson, Dallin H. Oaks, Gerrit W. Gong, Dieter F. Uchtdorf e David A. Bednar, que ensinam sobre:
A ciência espiritual da gratidão, do autocuidado e da revelação contínua,
A centralidade da família como campo de cura eterna,
O pertencimento divino e a verdade como caminho de restauração,
A justiça como expressão da alma em equilíbrio com os céus.
Esses líderes ampliam o campo epistemológico da espiritualidade aplicada, elevando o cuidado em saúde e educação à condição de ministério de cura universal.
9. Metodologia Híbrida, Integrativa e Sistêmica: Rodas, Ciclos e Redes em Ação
A proposta pedagógica e terapêutica desenvolvida em Santa Cruz Cabrália não se limita a uma escola teórica única. Ao contrário, ela se sustenta em uma abordagem híbrida, com forte base na Pedagogia Sistêmica, na Pedagogia Integrativa e nos Círculos de Construção de Paz, articulando saberes presenciais e virtuais, científicos e populares, comunitários e institucionais, públicos e privados.
9.1. O que é a Pedagogia Sistêmica?
A Pedagogia Sistêmica, baseada nos ensinamentos de Bert Hellinger, propõe que a escola seja um lugar onde os vínculos e as histórias familiares sejam respeitados, onde o aluno possa ocupar seu lugar com dignidade, e onde professores e profissionais da educação possam se libertar de padrões repetitivos inconscientes (HELLINGER, 2001). Como explica Joan Garriga, essa pedagogia “revela as dinâmicas ocultas que influenciam o comportamento e a aprendizagem”, promovendo ordem, pertencimento e equilíbrio emocional nos ambientes educativos e familiares.
9.2. A Pedagogia Integrativa de Adalberto Barreto e Paulo Freire
Adalberto Barreto, etnopsiquiatra e professor da UFC, criou a Terapia Comunitária Integrativa (TCI), com inspiração direta na educação libertadora de Paulo Freire. Ele propôs que o saber popular deve ter o mesmo valor que o saber acadêmico, e que o protagonismo comunitário é a maior forma de cura. Os cinco pilares da TCI, que sustentam a Pedagogia Integrativa em Cabrália, são:
Teoria da Comunicação (Paul Watzlawick);
Antropologia Cultural (Clifford Geertz);
Resiliência (Boris Cyrulnik);
Sistêmica (Bert Hellinger);
Pedagogia de Paulo Freire.
A celebração antes dos encontros e a conotação positiva no final de cada ação online, são marcas desses pilares aplicados.
9.3. Os Ciclos de Paz e a Justiça Restaurativa
Os Círculos de Construção de Paz utilizados no município foram inspirados em autores como Lorraine Stutzman-Amstutz, Kay Pranis, Howard Zehr e Jean Quebradas (Quebranes), que propõem uma pedagogia da escuta, da circularidade e da responsabilização compartilhada. Os círculos são conduzidos com o uso de objetos da palavra, valores restaurativos e intencionalidade espiritual.
Essa metodologia restaurativa, integrativa e sistêmica, já presente nos Círculos Restaurativos do CEJUSC Cabrália desde sua fundação, foi adaptada para os círculos híbridos, com presença física de alguns participantes e outros conectados pela internet.
9.4. Metodologia Híbrida e Casos Concretos
A proposta cabraliense se destaca por integrar ambientes presenciais com ambientes virtuais, mantendo o vínculo, a escuta e a circularidade. Exemplos dessa inovação metodológica incluem:
Módulos de Constelação Familiar com as professoras Sandra Lage, Hércules Randazzo e Maria Aparecida Dionísio, realizados presencialmente em um local, fosse Santa Cruz Cabrália, Peruíbe ou Belo Horizonte, com participação remota de participantes, como a agente comunitária Agricimara Lima, diretamente de Sergipe;

Workshops de Constelação Familiar Sistêmica transmitidos de clubinhos presenciais em Cabrália, com ampla participação de pessoas de várias regiões do Brasil;

Círculos Sistêmicos no Espaço Flor de Lótus, local privado que ofereceu bolsas e vouchers para usuários do SUS, com mediação do CEJUSC, compondo uma experiência, inédita no SUS do município, de parceria público-privada para promoção da saúde emocional e comunitária.

Essa metodologia híbrida é sustentada por tecnologia simples (WhatsApp, Zoom, YouTube, Google Meet), por espiritualidade cotidiana, por escuta profunda e pelo respeito à diversidade cultural e religiosa dos participantes.

10. Ciclos Sistêmicos e Restaurativos de 30 Dias: A Metodologia da Gratidão e da Cura em Movimento
A partir da pandemia de Covid-19, o município de Santa Cruz Cabrália inaugurou uma nova etapa de seu programa formativo e restaurativo, marcada por ciclos temáticos com duração de 30 dias. Essa abordagem permitiu a organização de módulos sequenciais e interativos, acessíveis tanto presencial quanto virtualmente, com certificação emitida pelo CEJUSC em parceria com o Departamento de Recursos Humanos da Prefeitura de Santa Cruz Cabrália.
10.1. A Inspiração Profética do Ciclo Internacional da Gratidão
O primeiro grande impulso para essa metodologia surgiu com a mensagem global do Dr. Russell M. Nelson, cirurgião cardíaco e presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que em plena pandemia conclamou o mundo a praticar a gratidão como recurso terapêutico e espiritual. A partir desse chamado, foi organizada uma campanha Internacional de Gratidão, que inspirou a realização de diversos programas com base nos princípios de registros pessoais da fé, da ciência e da conexão entre os povos.
10.2. Ciclos Sistêmicos e PICS no SUS (2023–2024)
Entre os anos de 2023 e 2024, foram conduzidos vários ciclos integrativos de 30 dias, que se tornaram referência dentro das redes sociais e do SUS, promovendo cursos certificados, abertos e inclusivos, com participação de profissionais, pacientes, alunos, cuidadores e voluntários de todo o Brasil.
Os principais ciclos desenvolvidos foram:
Ciclo de Imposição de Mãos, com base nas práticas de Enfermagem, nos livros Mãos de Luz (Barbara Brennan), O Toque Quântico e O Poder de Curar (Richard Gordon), espiritualidades diversas e nas tradições espirituais brasileiras e latino-americanas.

Ciclo da Comunicação Terapêutica, unindo a Comunicação Não Violenta (CNV), a Comunicação da Enfermagem, o acolhimento escutante da TCI, a poética da constelação familiar e várias outras.

Ciclo da Meditação Restaurativa, com uso de práticas contemplativas de várias tradições espirituais, técnicas diversas, integradas à justiça restaurativa e ao cuidado sistêmico.

Ciclo de Toques e Práticas Corporais Integrativas, como shiatsu, reflexoterapia, automassagem, escuta do corpo e respiração ativa.

Ciclo de Pensamento Sistêmico, com destaque para o curso facilitado pela Professora Sandra Lage, que se tornou referência nacional após o Maio das PICS de 2023.

Ciclo de Recordações Sistêmicas, centrado no uso do aplicativo FamilySearch, como ferramenta de cura intergeracional, genealogia terapêutica e arquivologia espiritual.

Ciclo de Autocuidado com Florais e Outras PICs, unindo saberes populares e científicos, espiritualidade e cuidado diário.

Série “Vamos Todos Cirandar”, conduzida pela Professora Thais Prestes Veras, com apoio do autor do presente artigo, integrando pedagogia popular sistêmica da roda, PICS e princípios da justiça restaurativa em uma sequência de vídeo lives e encontros online.

Esses ciclos se consolidaram como dispositivos híbridos de informação, intervenção e restauração, com forte potencial de replicabilidade em outros territórios. Eles integram educação continuada, cuidado comunitário, espiritualidade plural e certificação institucional, abrindo um novo campo para a educação em saúde baseada na experiência, na fé e na ciência.