- Saúde Mental e Atenção Psicossocial
Mirela Santos
- 22 set 2024
Amapá
Nos centros de atenção psicossocial (Caps), a ênfase recai sobre a equipe multiprofissional, que desempenha a principal abordagem no âmbito do cuidado e embora cada membro da equipe mantenha suas competências específicas, é imperativo que se abram para além das fronteiras profissionais, criando assim um terreno comum de cuidado que transcende as limitações de cada profissão isoladamente.
A supervisão clínica institucional, concebida como uma intervenção conduzida por um profissional externo ao serviço, em um espaço dedicado à discussão, formação e qualificação, desempenha um papel crucial na sustentação do trabalho clínico e na promoção de um funcionamento ético e saudável das equipes. Vale ressaltar que esse processo de supervisão não se resume à transmissão de um conhecimento acabado, tampouco à imposição de uma disciplina. Pelo contrário, visa à construção de um conhecimento compartilhado, horizontal, temporário e potente, que atue como agente propulsor de mudanças significativas.
Durante a reflexão sobre cada caso, é essencial considerar o SUS e aplicar, nos projetos terapêuticos singulares, os conceitos de rede e território que estão presentes no espaço social concreto e histórico da vida dos sujeitos e instituições.
No ano de 2013 a forma de registrar os procedimentos realizados pelos Caps foi padronizada e consolidada em todo o país através do Raas, sendo possível visualizar os valores através da plataforma TabNet.
Os dados da produção de um serviço são importantes indicadores de saúde na avaliação do serviço, também possibilitam analisar qual a clínica que a equipe está atuando. A discussão desses dados entre os gestores e as equipes possibilitam não só visualizar o que já foi realizado como também planejar ações para o futuro.
Todos os dados registrados em saúde, independentemente da plataforma utilizada, são consolidados pelo Datasus, que é responsável pelo processamento das informações de saúde. O sistema de informação permite a realização de tabulações cruzando diversas variáveis.
É um instrumento que possibilita o acesso às bases de dados diversas dos sistemas de informações do SUS.
Existem três formas de registrar as ações, através de procedimentos, realizados pelos Caps. Esses sistemas de informações são o registro das ações ambulatoriais de saúde, boletim de produção ambulatorial individualizado e boletim de produção ambulatorial consolidado. Nos Caps são utilizados 14 procedimentos do Raas, 1 do BPA-I e 7 do BPA-C.
O objetivo do trabalho foi analisar os dados dos procedimentos realizados pelos Caps e o número de internações hospitalares para avaliar o serviço junto com a equipe do Caps 1 Minha Vida.
Foi realizada uma pesquisa documental, ou seja, que recorre a fontes sem tratamento analítico (Fonseca, 2002). Os dados forram levantados através da plataforma TabNet – Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS – SIA/SUS – Estadual – Rio de Janeiro, que fornece os dados de “informações em saúde” de todos os municípios do Rio de Janeiro, através do site https://sistemas.saude.rj.gov.br/tabnet/deftohtm.exe?siasus/producao.def e informações solicitadas à Secretaria de Saúde do Município de Rio Claro.
Foram obtidos dados relativos aos procedimentos realizados pelo Caps 1 Minha Vida no período de janeiro de 2023 a setembro de 2023 (mês disponível em dezembro de 2023) da plataforma TabNet Estadual – Rio de Janeiro e realizou-se um comparativo com os números das internações realizadas no Hospital da cidade. Os dados relativos ao quantitativo de internações em Saúde Mental foram levantadas através de informações fornecidas pela Secretária de Saúde do Município.
Utilizou-se os procedimentos que são importantes no cuidado territorial dos usuários na rotina do Caps.
A partir dos dados obtidos foi realizado uma apresentação e discutido na supervisão clínico-institucional durante a reunião de equipe.
De janeiro a setembro de 2023, o Caps realizou 3.804 procedimentos, significativamente mais do que as 28 internações psiquiátricas em Rio Claro no mesmo período. Esses dados permitiram uma análise crítica conjunta pela gestão e equipe do Caps. No início do ano, 712 procedimentos foram registrados como unidades ambulatoriais, mas foram interrompidos após a gestão perceber sua inadequação ao escopo do Caps.
Observou-se uma média mensal de 21 acolhimentos de novos usuários, destacando
variações devido à natureza de porta aberta do Caps e muitos acolhimentos sem demandas para acompanhamento. Procedimentos em amarelo na Figura 1 foram considerados subestimados, como atendimento familiar e domiciliar.
Houve oscilação mensal e registros elevados em procedimentos como acolhimento diurno, matriciamento de equipes, ações de redução de danos e articulação de redes. A cor verde indicou que atendimentos em grupos e individuais são equiparados, mas o Caps não é exclusivamente para o acolhimento dos usuários com transtornos mentais graves, abrangendo também transtornos moderados, como serviço ambulatorial.
A comparação entre atenção à crise cor lilás na Figura 1 e internações Figura 2 revelou que o Caps acolheu o dobro de usuários em crise em relação aos internados no hospital municipal. Importante ressaltar que alguns usuários internados não possuíam cadastro no Caps. Esses insights fundamentam uma compreensão mais abrangente das atividades e desafios enfrentados pelo Caps nesse período.
O ofício da supervisão pelo Ministério da Saúde destaca que na atenção psicossocial, deve ter características comuns, focando na construção do caso clínico. Configurando-se como dispositivo clínico-institucional, ela dialoga com as dimensões do cuidado e política, vinculando a prática ao contexto institucional, incluindo Caps, Raps, gestão e política pública.
Os dados das unidades de saúde estão ligados às questões institucionais, sendo a clínica interligada aos dados, tornando a discussão sobre os dados do Caps estratégia institucional para revelar a clínica praticada pela equipe.
Os sistemas de informação visam o acompanhamento da geração de dados, possibilitando avaliação da saúde da população, planejamento de gestão e avaliação de produção e indicadores epidemiológicos. A pesquisa contribuiu para a gestão gerar dados e indicadores em saúde, permitindo diagnóstico administrativo, discussões sobre o cuidado no Caps, destaque à importância de registros corretos para dados fidedignos e identificação de melhorias institucionais.
Contudo, para efetividade, é crucial análise dedicada e constante dos dados, visando redução das internações. Essas práticas promovem aprimoramento constante e eficácia nas ações institucionais.
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