O Lúdico e o Científico como Estratégia de Intervenção: um Olhar na Cobertura Vacinal Das Crianças de Luís Correia

O objetivo deste trabalho é descrever as estratégias de intervenção utilizadas pelo município de Luís Correia para melhorar a cobertura vacinal das crianças. A cidade é caracterizada por uma extensa área territorial, predominantemente rural, o que torna o acesso aos serviços de saúde, um desafio. Para enfrentar esse desafio foi implementado diversas estratégias diferenciadas de vacinação. Entre elas: a “Turminha dose de amor” que realiza vacinação de forma lúdica em locais de difícil acesso e a criação da tutoria que atua monitorando indicadores relacionados a imunização, dando suporte aos profissionais e favorecendo educação permanente. O acesso à vacinação amplia-se com o fortalecimento das ações desenvolvidas pelas equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) para o alcance das metas. A estratégia do município de Luís Correia em utilizar esses métodos de intervenção, tem se mostrado efetiva para enfrentar os desafios e melhorar a cobertura vacinal de crianças. Essas podem ser replicadas em outros Municípios e regiões, para sensibilizar e orientar sobre vacinação em crianças. O lúdico e o cientifico se complementam e proporcionam uma atenção qualificada e integrada nas ações de imunização.

A Atenção Primária à Saúde (APS) é o âmbito da atenção mais estratégico para a prevenção de doenças e agravos, sendo um dos seus atributos essenciais o acesso de primeiro contato para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). O acesso à vacinação se amplia com o fortalecimento das ações desenvolvidas pelas equipes da APS para o alcance das metas de coberturas vacinais. O grande desafio do município é sua extensa área territorial e principalmente localizada em zona rural. São áreas longínquas uma das outras, o que dificulta o processo de trabalho e organização das ações em imunização. Os profissionais da Estratégia Saúde da Família levam os imunobiológicos diariamente, no entanto, precisam retornar para o departamento de imunização para devolver as sobras de doses, pois devido à distância, impossibilita o armazenamento seguro nas UBS, pelo risco da falta de energia no período noturno e final de semana. A baixa cobertura vacinal desde 2015 em crianças menores de cinco anos é realidade em todo o Brasil, seja pela baixa percepção da população sobre as doenças imunopreveníveis, pela dificuldade de acesso, medo das reações adversas, quantitativo insuficiente de vacinas fornecidas, além da pandemia da Covid-19 que veio para agravar ainda mais este cenário (UNICEF, 2022). Outro problema que dificulta o aumento da cobertura vacinal, são registros feitos de forma inadequada ou ausentes que mascaram o real cenário dos indicadores de imunização. Todavia, a equipe de tutoria existente desempenha ações voltadas para o fortalecimento de práticas que respondam a essas fragilidades.

O cenário de baixas coberturas vacinais é uma preocupação nacional e, por isso, no município são realizadas ações estratégicas em diversas frentes para garantir que não só as campanhas, mas também as vacinas de rotina do calendário nacional de imunização, alcancem os públicos-alvo, com a cobertura preconizada pelo Ministério da Saúde. Ressaltando ainda que a vacinação não é uma atividade mecânica, tecnicista e automatizada, entendendo que cada usuário apresenta individualidades e peculiaridades, o município criou como estratégia fortalecedora a “Turminha dose de amor” partindo do pressuposto que o lúdico transforma positivamente e facilita a vinculação da criança com o serviço. Sendo assim, a estratégia “Turminha dose de amor” é formada por enfermeiros que levam vacinas, quinzenalmente, às áreas descobertas e com dificuldades de acesso, rompendo barreiras físicas ou logísticas. A proposta é um olhar centrado na criança e no atendimento humanizado, sem transformar a vacinação em um trauma para sempre. É um trabalho de “formiguinha”, mas é uma tentativa de fazer, de um momento tão estressante, um acalento no coração e deixar uma impressão boa, o que faz as famílias quererem voltar. Momentos antes da vacinação e a depender da idade, a criança passa por uma explicação de como vai ser a aplicação da vacina e ela pode simular em bonecos a vacinação. O uso da técnica de aplicação simultânea, em que são aplicadas duas vacinas ao mesmo tempo, em locais diferentes, com o objetivo de causar menos dor para a criança, também é realizado. Além disso, a caracterização da equipe com aventais coloridos, utilização de músicas infantis, tecnologias leves de forma geral, facilitam o processo de trabalho e estimulam a vinculação dos pais e crianças para o momento da vacinação. O município contará com o carro da vacina, veículo destinado para as ações de imunização da equipe, seja para divulgação e/ou transporte dos profissionais aos territórios de difícil acesso ou grande vulnerabilidade. Outra ferramenta importante é o Programa de Tutoria, intitulado “DecolAPS”, foi desenvolvido estrategicamente em consonância com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e tem como um dos eixos temáticos de trabalho a imunização. O objetivo do programa é fornecer uma interface entre educação permanente e qualificação dos profissionais envolvidos na prática da vacinação. O modelo de tutoria adotado é interativo e pedagógico, permitindo que os profissionais construam e ampliem sua rede de conhecimentos para a organização dos macroprocessos e microprocessos básicos que envolvem a vacinação. O trabalho de tutoria teve início em 07 de julho de 2022 e já apresentou resultados positivos, como a melhoria da cobertura vacinal, identificada no Programa Previne Brasil em seu indicador correspondente à vacinação. Luís Correia realizará durante o mês de abril a Semana Mundial de Vacinação, em que apresentará à população essas estratégias de fortalecimento da imunização e a reafirmação das ações já existentes para o aumento e monitoramento da cobertura vacinal, como a articulação e a garantia do fornecimento regular de imunobiológicos e a organização do fluxo de distribuição; busca ativa de crianças faltosas e que possivelmente estarão com a situação vacinal desatualizada, além de campanhas e ações de vacinação extramuros que adequam a logística e têm como principal objetivo a ampliação das coberturas vacinais. Para avaliar os resultados obtidos, foram realizadas pesquisas com profissionais, utilizando a Estimativa Rápida Participativa e o monitoramento de mídias sociais pela Secretaria de Saúde, por meio da divulgação de vídeos e cards informativos, como estratégias para combater a desinformação e a hesitação vacinal. Alguns dos pontos de partida para discussões foram o estudo da série “Quem tem medo de vacina?” do Conasems e a publicação da Pesquisa Nacional sobre cobertura vacinal, seus múltiplos determinantes e ações de imunização nos territórios brasileiros. Esses resultados apontam para a efetividade tanto da “Turminha dose de amor”, representando o lúdico, quanto a equipe de tutoria, representando o cientifico, na melhoria da prática de vacinação e da cobertura vacinal no Município de Luís Correia.

Em face do exposto, o município se esforça em ações relacionadas ao processo de trabalho na imunização por entender que a proteção das crianças é uma prioridade. Nesse intuito, avalia, monitora e atualiza a cobertura vacinal para melhor planejamento e alcance das metas. É importante também identificar as crianças em vulnerabilidade de cada território, pois há inúmeras barreiras de acesso que as impedem de ser vacinadas. As estratégias desenvolvidas em Luís Correia podem ser replicadas em outros Municípios e regiões, para sensibilizar e orientar sobre vacinação em crianças. As duas estratégias, o lúdico e o cientifico, se complementam e proporcionam uma atenção qualificada e integrada nas ações de imunização. Portanto, apesar dos desafios com áreas longínquas e dificuldades nos registros de vacinação, que se caracterizam como barreiras de acesso a vacinação, dentro do território do município, é possível um planejamento logístico e humanizado, utilizando a ludicidade como uma intervenção mais acolhedora para as relações das crianças entre si, com os familiares e com os profissionais.

Principal

Ana de Cássia Ivo dos Santos

Coautores

MELICÍA GALENO SPINDOLA, LEONCIO ALVES DOS SANTOS, MARCELA TELES FURTADO, IRLLA CAROLINE LUZ AGUIAR SANTOS, JAMILA DA SILVA RODRIGUES, MAILSON SILVA DE OLIVEIRA, NATHÁLIA SAMENTO ANDRADE, LUCIANA CARVALHO DE AGUIAR, VERONICA SOUSA DE AGUIAR

A prática foi aplicada em

Região

Esta prática está vinculada a

Instituição

Uma organização do tipo

Instituição Privada

Foi cadastrada por

Conta vinculada

ideiasus@gmail.com

23 dez 2023

CADASTRO

23 dez 2023

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

Arquivos

TAGS

Práticas Relacionadas