Memórias (re)Inventadas: a experiência de construção de álbuns fotográficos com moradores de residências terapêuticas

Em 2012, Salto de Pirapora (SP) assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) que previa o fechamento de seus 2 hospitais psiquiátricos. Para receber 40 desses pacientes internados em regime de longa duração, foi pactuada a criação de 4 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT). Em 2016, estes SRTs foram constituídos e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) do munícipio passou a coordenar ações de desinstitucionalização, de acordo com o Projeto Terapêutico Singular (PTS) de cada morador. Desde os primeiros dias nos SRTs, a fotografia foi útil para registrar momentos marcantes e cenas cotidianas. Entretanto, as fotos estavam nas câmeras/celulares dos profissionais das equipes e os moradores tinham pouco acesso a tais registros. Para permitir o acesso fácil a essas memórias de suas vidas, surgiu o Projeto de Fotografia, que possibilitou a construção de álbuns fotográficos para os moradores dos SRT. Ele teve início em julho de 2018 e teve como desdobramento oficinas de memórias.

Este trabalho apresenta uma experiência de construção de álbuns fotográficos com ex-pacientes de hospitais psiquiátricos, cujo objetivo era (re)construir suas histórias por meio de imagens, proporcionando assim, a afirmação da existência singular de Uma psicóloga do CAPS e uma estagiária de psicologia, reuniram as fotos feitas a partir da saída dos pacientes dos hospitais psiquiátricos. Elas organizaram e imprimiram as fotos deste enorme acervo. Além disso, foram comprados álbuns e porta retratos. o custo dos materiais foi dividido pelos próprios pacientes, visto que a maior parte deles possui renda. Foram feitas oficinas de 1h30 de duração, com cerca de três participantes em cada encontro. Eles escolheram quais fotos comporiam seu álbum e seu porta-retrato. As profissionais estimularam que contassem a história de cada foto, perguntando os nomes das pessoas e dos lugares ali presentes. Também foram feitas legendas para as imagens, de acordo com o que os pacientes contavam.

Foram feitos 39 álbuns, um para cada morador dos SRTs. O contato com as fotos estimulou a memória e a verbalização das histórias vivenciadas dentro e fora do hospital psiquiátrico. Proporcionar o acesso aos registros de sua vida contribuiu para a retomada do protagonismo de sua própria história. Observaram-se nos cabelos, roupas e expressões corporais, as transformações ocorridas desde que saíram dos hospitais. A imagem deles já não é homogeneizada e, discretos ou extravagantes, cada um pode desenvolver um estilo pessoal de estar no mundo. Por fim, tais registros apresentam as trajetórias de cada um ao se tornarem novamente cidadãos, que circulam pela cidade, acessando cultura, lazer, serviços de saúde, comércios etc.as ações de desinstitucionalização buscam o resgate da cidadania dos sujeitos, o aumento de seu poder contratual, a ampliação de sua rede social e a (re)criação do viver em comunidade. Neste momento em que o hospital psiquiátrico volta a fazer parte da RAPS, é necessário apresentar práticas capazes de transformar vidas com o resgate da cidadania e o poder contratual dos sujeitos. Os registros fotográficos têm potencial de afirmar a sociedade sem manicômios que se vem lutando para construir.

Principal

Livia Prado Muniz

muniz.livia@gmail.com

Coautores

Adriana Cerqueira Cesar De Jesus

A prática foi aplicada em

Salto de Pirapora

São Paulo

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Prefeitura Municipal de Salto de Pirapora (SP)

Rua Portugal, 245, Apto 25 - Jd. Europa, Sorocaba - SP, 18.045-280

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Adriana Cerqueira Cesar De Jesus

Conta vinculada

23 set 2023

CADASTRO

17 jul 2024

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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