Jovens Comunicadores: rede de comunicação comunitária no enfrentamento a fake news

O Projeto Jovens Comunicadores, desenvolvidos pela Associação Experimental de Mídia Comunitária – BemTV, desde 2020, teve como motivação central a ampliação radical das desigualdades socioeconômicas com a pandemia da COVID -19, e a urgente necessidade de garantir acesso à informação segura em meio à expansão da doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, especialmente para comunidades mais vulnerabilizadas.
A desigualdade digital é uma realidade, e as redes sociais se tornaram o principal meio de obtenção de informações para grande parte da população. Nessa direção, o Projeto Jovens Comunicadores se tornou um meio de enfrentamento a desinformação, capacitando jovens para checar e produzir informações confiáveis, compartilhadas em suas próprias comunidades. Atuando também como instrumento de vigilância popular em saúde, contribuindo para o acesso aos serviços de atenção primária em saúde nos territórios, e servindo como canal de interlocução e escuta, a partir de metodologia territorializada para o diálogo entre gestores, profissionais da saúde e população em geral, atuando diretamente como espaço de participação social.
Os resultados são evidentes, com mais de 1000 jovens formados, mais 200 conteúdos sobre saúde, direitos sociais e humanos foram produzidos. Além disso, mais de 70% das pessoas ouvidas sentiram-se mais seguras para identificar informações falsas, e cerca de 55% passaram a conhecer melhor os serviços disponíveis em saúde e assistência social.
A inovação deste projeto reside na criação de uma rede orgânica de comunicação popular e comunitária liderada por jovens multiplicadores. A metodologia, centrada na educonexão e na utilização de tecnologias da informação, permite sua replicabilidade em diferentes contextos e comunidades.
O Projeto Jovens Comunicadores é mais do que uma resposta à pandemia; é uma afirmação das potencialidades das juventudes em transformar sua realidade, tensionando pela garantia de direitos construindo narrativas contra hegemônicas. Por meio do diálogo comunitário e popular, da produção de conhecimento coletivo e da participação social, o Projeto se tornou referência de trabalho em rede, articulando jovens, organizações sociais, serviços públicos e atores das universidades, sendo espaço de diálogo e de luta política contra às diversas violências e violações de direitos que incidem nas favelas e comunidades mais empobrecidas.
Como desafios persistentes, permanecem a desigualdade social, o racismo estrutural e a exclusão digital. No entanto, com sua abordagem colaborativa e foco na sustentabilidade, o Projeto Jovens Comunicadores está preparado para enfrentar esses desafios e continuar sendo uma força de mudança positiva nas comunidades onde é desenvolvido.

O Projeto Jovens Comunicadores teve início com a Pandemia da covid-19 quando se evidenciou que a população com o menor poder aquisitivo estava menos protegida, e mais exposta ao coronavírus, por diferentes fatores socioeconômicos. Ressalta-se que paralelamente a Pandemia do Novo coronavirus vivenciamos uma “infodemia” uma pandemia da desinformação. Nessa direção o acesso à informação segura é estratégia central para a produção do cuidado.
Entretanto, o acesso à informação segura não está garantido, tendo em vista que a exclusão digital é uma realidade, “Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2018, 85% dos usuários de Internet da classe D e E acessam a rede exclusivamente pelo celular, 2% apenas pelo computador e 13% se conectam tanto pelo aparelho móvel quanto pelo computador”, essa limitação dificulta o acesso à sites e portais oficiais com informações seguras fazendo das redes sociais o principal canal de informação dessa população.
A metodologia do Projeto de formação de jovens comunicadores para checagem e produção de informações, com sua partilha por aplicativos de mensagens para uma rede local, possibilita a capilarização das informações e funciona como instrumento para Vigilância Popular em Saúde e de proteção social.

O projeto sempre teve objetivos bem definidos desde o seu início, visando principalmente capilarizar o acesso à informação em saúde, direitos sociais, meio ambiente, educação e rede de proteção social nas comunidades periféricas de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. O projeto se propôs a formar jovens comunicadores para o enfrentamento à desinformação e fake news, buscando ampliar o diálogo entre a população residente nas comunidades e promover a participação social.
Considerando esses objetivos iniciais, é possível afirmar que a motivação inicial do projeto foi amplamente atingida. Ao longo do tempo, o Projeto Jovens Comunicadores conseguiu formar mais de 1000 jovens comunicadores, alcançando uma rede comunitária de mais de 10.000 pessoas em cada turma, totalizando um alcance de mais de 180.000 pessoas nas comunidades envolvidas. Além disso, foram produzidos e adaptados mais de 200 conteúdos sobre temas diversos, incluindo saúde, meio ambiente, direitos sociais e humanos, entre outros.
Esses resultados demonstram que o projeto foi bem-sucedido em sua missão de promover a informação e conscientização nas comunidades periféricas, capacitando os jovens a se tornarem agentes de mudança em seus territórios. No entanto, é importante destacar que a atuação do Projeto Jovens Comunicadores não se limitou aos objetivos iniciais. Ao longo do tempo, novos objetivos foram incorporados e novas iniciativas foram desenvolvidas para responder às necessidades emergentes das comunidades.
Por exemplo, diante dos impactos socioeconômicos da pandemia da COVID-19, o projeto expandiu suas atividades para incluir a distribuição de bolsa-auxílio para os jovens comunicadores e suas famílias, contribuindo para enfrentar a insegurança alimentar e garantir a segurança de renda durante esse período difícil. Além disso, o projeto também ampliou seu foco para incluir a promoção da vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de campanhas de conscientização produzidas pelos próprios jovens da agência popular de comunicação.
Desta forma, evidencia-se que o Projeto Jovens Comunicadores não apenas alcançou seus objetivos iniciais, mas também evoluiu e se adaptou ao longo do tempo para enfrentar novos desafios e atender às demandas das comunidades atendidas. Esse dinamismo e capacidade de resposta às necessidades locais são aspectos essenciais do sucesso e relevância contínua do projeto.

A experiência do Projeto Jovens Comunicadores oferece várias reflexões significativas sobre a interseção entre comunicação, participação social e saúde no contexto da busca por direitos básicos nas comunidades periféricas.
Destacam-se:
i. Empoderamento através da comunicação:
O projeto demonstra como capacitar jovens como comunicadores pode ser uma ferramenta poderosa para o empoderamento comunitário. Ao fornecer habilidades em comunicação e acesso à informação, os jovens se tornam agentes de mudança em suas próprias comunidades, capazes de promover a conscientização sobre direitos básicos, incluindo acesso à saúde.
ii. Acesso à informação como um direito básico – A comunicação como um direito que garante outros direitos:
A experiência destaca a importância do acesso à informação e a comunicação como um direito humano fundamental, especialmente em contextos onde as comunidades enfrentam desafios socioeconômicos e de saúde significativos. Ao capacitar os jovens a produzir e compartilhar informações relevantes sobre saúde, direitos sociais e outros temas, o projeto contribui para fortalecer a capacidade das comunidades de tomar decisões informadas sobre sua própria saúde e bem-estar.
iii. Participação social como chave para a mudança:
O envolvimento ativo dos jovens e das comunidades nas atividades do projeto enfatiza o papel crucial da participação social na promoção da saúde e na busca por direitos básicos. Ao criar espaços para o diálogo, o engajamento e a mobilização comunitária, o projeto fortalece a voz das comunidades periféricas e promove uma cultura de participação cidadã na formulação e implementação de políticas públicas de saúde.
iv. Desafios persistentes e lições aprendidas:
A experiência também destaca os desafios persistentes enfrentados pelas comunidades periféricas, incluindo desigualdades sociais, acesso limitado a serviços de saúde e vulnerabilidades socioeconômicas. No entanto, o projeto oferece lições valiosas sobre resiliência, colaboração e inovação na superação desses desafios, demonstrando como ações comunitárias baseadas em princípios de solidariedade e justiça social podem promover mudanças positivas.

Principal

Paula Latgé

paula@bemtv.org.br

Coordenação Executiva

Coautores

Paula Latgé, Matheus Magalhães

A prática foi aplicada em

Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Doutor Cotrim da Silva, 04 - Centro, Niterói - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Terceiro Setor

Foi cadastrada por

Paula Kwamme Latgé

Conta vinculada

07 mar 2025

CADASTRO

07 mar 2025

ATUALIZAÇÃO

07 abr 2020

inicio

Condição da prática

Andamento

Situação da Prática

Arquivos

TAGS

Práticas Relacionadas