Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2017), a imunização é uma das intervenções de saúde mais custo efetivas implementadas no curso da história. Também é a única maneira de garantir que doenças erradicadas não voltem. O objetivo principal desse projeto é analisar as estratégias municipais de fortalecimento das ações de imunização no município de Sanclerlândia (GO). Foi realizado a partir da percepção da equipe de Vigilância em Saúde e da equipe de Atenção Básica, que trabalham de forma integrada, a fim de oferecer todas as vacinas com qualidade a todas as crianças que nascem anualmente no município. Tentando assim, alcançar coberturas vacinais de 100% de forma homogênea em todos os bairros . Realizou-se um levantamento através de observação direta das ações que são realizadas e análise de dados quantitativos das coberturas vacinais. Os resultados revelam ações bem articuladas, devido um trabalho interequipe e intersetorial bem-sucedido e que necessitam ter continuidade para melhorar ainda mais a cobertura vacinal dos menores de 2 anos. Foram levantados também os principais desafios enfrentados no município frente a imunização e a partir daí, a equipe construiu proposições para reorientar práticas e fomentar ações de imunizações na lógica da saúde ampliada.
A partir dos resultados da Pesquisa ImunizaSUS, apresentados no dia da oficina, tivemos a magnitude do problema referente às baixas coberturas vacinais. A Regional de Saúde Oeste II sempre faz o levantamento das coberturas vacinais dos municípios de sua jurisdição e sempre nos apresenta também em CIR ou durante reuniões os resultados (grande maioria abaixo da meta preconizada). Selecionamos então os valores da cobertura vacinal das crianças menores de 2 anos de idade, do nosso município (tabela 1) para uma análise de dados e também para servir como indicador após realização das ações estipuladas. Tabela 1. Coberturas Vacinais do Calendário Nacional de Vacinação das Crianças menores de 2 anos de idade. Sanclerlândia (GO), janeiro a dezembro de 2022* BCG Rotavírus Humano Meningocócica C Pentavalente Pneumocócica 10 Poliomielite Febre Amarela Hepatite A Tríplice Viral D1 Meta 90% Meta 90% Meta 95% Meta 95% Meta 95% Meta 95% Meta 95% Meta 95% Meta 95% 91,11 80 77,78 87,78 85,56 86,67 81,11 84,44 81,11 Fonte: sipni.datasus.gov.br/Vacinação/Relatórios/Cobertura Vacinal * Dados preliminares, obtidos em 10/03/2023.
Identificamos que algumas metas, apesar de estarem próximas aos valores preconizados, não foram alcançadas e os principais problemas identificados que afetam nosso município estão relacionados às falhas e complexidade dos sistemas, às fake news e aos desinteresses e desinformações dos pais e responsáveis. Os sistemas de Informação múltiplos para vacina; muitas das vezes, até possivelmente uma falha no sistema E-SUS, (que não se comunica corretamente com outros sistemas, deixando de subir a informação); não alimentar os sistemas corretamente (devido sua complexidade e falta de treinamento humano); ou até mesmo a realização da vacina fora do tempo preconizado prejudica os dados da cobertura vacinal, que muitas das vezes não representam a realidade, existindo crianças vacinadas na prática, porém com baixa cobertura no sistema. O nosso município possui algumas crianças que realizam a vacinação na rede particular e verificamos que alguns dados vacinais referentes às vacinas dessas crianças não sobem para o sistema e não contam como cobertura vacinal, estando as mesmas imunizadas, tornando assim outro problema que nos afeta. Foi levantado uma investigação sobre esses casos de vacinação na rede particular, porém como o nosso município não oferece esse serviço, dificulta o trabalho da vigilância sanitária municipal em fiscalizar onde essas vacinas são ofertadas. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2017), as vacinas são seguras e estimulam o sistema imunológico a proteger a pessoa contra doenças transmissíveis . Quando adotada como estratégia de saúde pública, elas são consideradas um dos melhores investimentos em saúde considerando o custo-benefício. Segundo Ricardo Westin (2020), em tempos de excesso de informações e superficialidade de conteúdos, infelizmente algumas falsas notícias (FAKE NEWS) sobre as vacinas circulam e desencorajam muitas pessoas a manter essa imunização em dias. Não é diferente no nosso município, essas “notícias” estão se tornando cada dia mais frequentes e influenciam os cidadãos, fazendo com que a adesão a algumas vacinas fiquem baixas.
Primeiramente uma necessidade é fazer o levantamento de informações fundamentais para o planejamento das ações do programa de imunização do município, como, crianças nas faixas etárias preconizadas para determinadas vacinas e identificar quais se encontram faltosas ou que não apresentam o registro no sistema de informação. Caso identifique alguma criança que esteja em atraso, realizar busca ativa mensal, com a equipe da Atenção Básica em escolas, creches, domicílios, etc. Realizar também capacitações e treinamentos frequentes com as técnicas da sala de vacina, para realizarem a alimentação do sistema de forma correta, e assim, melhorarmos os registros das vacinas, não correndo o risco de percas de informações nominais; e incentivar também para que fiquem atentas e vigilantes aos cartões espelho para não ter atraso vacinal, pois o número de doses e as idades adequadas para cada vacina também é fundamental para o sucesso da imunização. Intensificar as informações aos responsáveis, durante reuniões escolares e de grupos de gestantes, sobre doenças extintas graças ao advento das vacinas no Brasil e no mundo, aumentando assim a compreensão da importância da vacinação e o senso de responsabilidade dos cidadãos, reforçando a consciência de que vacinar uma criança significa não apenas protegê-la, mas sustentar uma condição de saúde coletiva alcançada com muito trabalho e esforço. Trabalhar nas escolas desenhos e pinturas, com as crianças, incentivando-as desde pequenas, sobra à importância das vacinas, também é uma forma de fortalecimento das ações de imunização. Precisamos reverter os conteúdos falsos da internet, sempre reforçando que a vacinação é uma forma de proteger a nossa saúde. Especialistas explicam que a vacina como qualquer outro medicamento, pode trazer eventos adversos, no entanto, ponderam que eles são infinitamente mais leves do que as doenças e suas possíveis sequelas, intensificando a discussão sobre Imunização nas reuniões de equipes das Unidades Básicas de Saúde e em reuniões escolares, com a participação de profissionais e responsáveis, aumentando a circulação de informações qualificadas e cientificamente comprovadas. Também cabe aos profissionais de saúde manter os pais, os adultos e os idosos estimulados a essa prática de saúde, mostrando claramente os benefícios para cada um e o efeito de proteção para todos, a partir dela. Solicitar o cartão de vacina como um dos critérios para participação de grupos nos programas da Assistência Social (Forró, Truco, Terceira Idade, Criança e Adolescentes), da Saúde (Hidroginástica, Capoeira, Gestante, Hiperdia, Natação, Aeróbica), e nesse sentido também unir parceria com a escolinha de futebol, visando uma maior adesão desses públicos para manter atualizado as vacinas. Realizar a integração de pessoas formadoras de opinião da comunidade, como líderes religiosos, conselho de saúde, comerciantes, líderes de bairro, proprietários de confecções e indústrias, para que através das suas influências, conscientizem os seus membros e colaboradores em parceria com a vigilância sanitária.
A imunização é a única maneira de garantir que doenças erradicadas não voltem. Vale ressaltar que o êxito das ações de imunização resulta de uma associação de fatores por parte das instâncias gestoras envolvidas, incluindo aquisição, planejamento, infraestrutura, logística, treinamento e, recursos humanos que nas diferentes atuações asseguram imunobiológicos de qualidade à população. Acreditamos que estamos no caminho certo e não podemos diminuir ou deixar que essas ações não sejam realizadas com continuidade. Devemos ainda fortalecer mais a intersetorialidade, pois é uma ação de promoção da saúde modificadora dos determinantes sociais de saúde. Outro ponto importante é sempre criar espaços de diálogos para integração entre a Atenção Básica, Vigilância em Saúde e a Rede de atenção à Saúde no município, para identificar as dificuldades e potencialidades no território para desenvolvimento e êxito de estratégias locais de vacinação. Os profissionais de saúde são os maiores formadores de opinião, por isso cada vez mais há necessidade de atualizá-los, tornando-os responsáveis pela informação correta e adequada. A importância da vacinação não está somente na proteção individual, mas sim coletiva, pois ela evita a propagação em massa de doenças que podem levar à morte ou a sequelas graves.
Sanclerlândia, GO, Brasil
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