Implantação dos atendimentos on-line em práticas integrativas: relato de experiência sistêmica desde Santa Cruz Cabrália até a expansão nacional

Resumo
Relata-se a implantação e consolidação dos atendimentos on-line em Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS), iniciada em Santa Cruz Cabrália (BA) no contexto da pandemia de Covid-19 e posteriormente expandida a diferentes regiões do Brasil. O estudo, qualitativo e descritivo, utiliza registros clínicos, relatórios judiciários, documentos arquivados no FamilySearch e depoimentos autorizados de usuários. Descrevem-se fundamentos sistêmicos, desafios, impactos e um caso emblemático de uma professora de Porto Alegre. Os resultados sugerem que o cuidado on-line, quando sustentado por abordagem sistêmica e protocolos éticos, mantém eficácia terapêutica, amplia o acesso e fortalece redes solidárias.
Palavras-chave: Práticas Integrativas; Teleatendimento; Saúde Sistêmica; Cuidado Integral; SUS.

1 | Introdução
A pandemia de Covid-19, declarada em março de 2020, impôs barreiras ao cuidado presencial e acelerou a adoção da saúde digital. Em Santa Cruz Cabrália, o Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (NPICS) e o CEJUSC implementaram atendimentos remotos de constelação familiar, imposição de mãos, florais, meditação e terapia comunitária integrativa. Após a fase mais aguda da crise, a experiência mostrou-se sustentável, tornando-se híbrida e alcançando outras regiões do país, articulada à plataforma voluntária FamilySearch, às diretrizes do SUS e à Política Nacional de PICS (PNPIC). Este artigo sistematiza tal percurso, contribuindo para o debate sobre tele-PICS e cuidado integral.

2 | Metodologia
Delineamento: Relato de experiência com abordagem qualitativa.
Fontes de dados:
Registros clínicos e sistêmicos (prontuário eletrônico Npics).
Relatórios enviados à Justiça Restaurativa local.
Documentos e áudios arquivados no FamilySearch.
Depoimentos de usuários (consentimento livre e esclarecido).
Procedimentos analíticos: Análise temática segundo a Inteligência Sistêmica, triangulando dimensões clínica, espiritual e sociocomunitária.
Aspectos éticos: Conformidade com a Resolução CNS 466/2012; anonimização de dados;

3 | Resultados
3.1 Implantação inicial em Santa Cruz Cabrália (mar.–jul. 2020)
A fase piloto ocorreu no ápice do distanciamento social. Foram utilizados WhatsApp, Google Meet e Zoom. Como apoio, Instagram e Youtube. Ofertaram-se sessões semanais de constelação familiar on-line, escuta terapêutica, imposição de mãos à distância, florais de Bach, rodas de oração e meditações guiadas. Participaram xx usuários cadastrados, dos quais a maioria absoluta relatou alívio imediato de ansiedade; parte significativa aderiu a um plano integrativo de seguimento de, no mínimo, quatro semanas ou sessões.
3.2 Expansão para o extremo sul baiano e outros estados (ago. 2020–dez. 2022)
Demandas de Eunápolis, Porto Seguro, Itabela, Belmonte e Salvador, impulsionaram turmas virtuais mensais. Em 2021, internautas, usuários do SUS e profissionais de Salvador, Minas Gerais, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pará, Brasília, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul aderiram como estudantes de PICs e alguns facilitadores voluntários convidados, formalizando a rede Npics Brasil. O número de atendimentos teve um drástico aumento, inclusive nas visualizações dos conteúdos compartilhados nas redes sociais. Protocolos de registro em prontuário eletrônico e armazenamento de relatos no FamilySearch tornaram-se rotina.
3.3 Continuidade e consolidação no período pós-pandêmico (2023–2025)
Santa Cruz Cabrália: workshops híbridos de constelação familiar a cada módulo ou Oficina intermódulos (presencial + streaming).
Planaltina/DF: sessões virtuais de automassagem no SUS todas as quintas-feiras, com transmissões semanais da equipe, coordenada pelo Dr. Marcos Freire.
Brasília/DF: CAPS mantêm Terapia Comunitária Integrativa on-line às quintas, 15 h, com participação de usuários do SUS da rede nacional.
Rede Npics: terapeutas autônomos ofereciam, de forma esporádica, meditações, terapias holísticas, auriculoterapia e outras ferramentas da medicina tradicional chinesa e rodas de conversa; cada evento era registrado e acompanhado por registros sistêmicos de evolução clínica, espiritual e, em algumas ocasiões, depoimentos científicos para o Banco de Dados do CEJUSC.
Essas ações sustentaram um movimento de cuidado sistêmico popular, descentralizado, que conjugou solidariedade, espiritualidade e tecnologia.

4 | Estudo de Caso – Professora N.D. (Porto Alegre, RS)
Fase 1 – Atendimento individual (jan.–mar. 2021)
Sintomas: ansiedade grave, insônia, alterações emocionais, luto simbólico por crise conjugal. Intervenções: escuta sistêmica, constelação on-line, imposição de mãos à distância (AQRIS), orientações de autocuidado integrativo.
Fase 2 – Terapia de casal (jun.2020–mar. 2021)
Temas trabalhados: comunicação, lealdades invisíveis, equilíbrio dar/receber, sexualidade. Adesão do casal ao Curso de Auto cuidado com Pics. Resultado: divórcio consensual, acompanhado de abordagem restaurativa, integrativa e sistêmica e encaminhamento jurídico conciliatório via CEJUSC.
Fase 3 – Autorreconstrução e registros sistêmicos (jul. 2021–set. 2022)
Designações: criar árvore genealógica no FamilySearch, gravar memórias em áudio e poesia. N.D. transformou-se em “facilitadora de palavras”, encerrando workshops com textos inspiradores.
Fase 4 – Psicoterapia individual com profissional parceira (out. 2022–abr. 2023)
Psicóloga Viviane Nascimento conduziu processo de integração emocional e planejamento de vida.
Desfecho (relato telefônico, ago. 2023)
Retomada plena das atividades docentes, compra de imóvel próprio, novo relacionamento saudável, retorno ao voluntariado (imposição de mãos). O caso evidencia a sinergia entre ferramentas espirituais, sistêmicas e psicoterápicas, potencializadas pelo formato digital.

5 | Discussão
A experiência narrada confirma que o cuidado sistêmico pode ser eficaz mesmo em contexto remoto, desde que sustentado por princípios de integralidade, escuta ativa e pertencimento espiritual. O uso das tecnologias digitais não eliminou a presença terapêutica — ao contrário, possibilitou sua expansão.
A continuidade dos atendimentos após o auge da pandemia, com a consolidação de uma rede nacional, reforça a viabilidade de modelos híbridos e on-line de atenção psicossocial, respeitando as diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A experiência com a professora N.D. ilustra como o acompanhamento espiritual, emocional, ancestral e conjugal pode ser reconstituído por múltiplas vias, incluindo plataformas digitais e designações sistêmicas, como os registros no FamilySearch.
Os resultados apresentados convergem com estudos contemporâneos sobre eficácia de intervenções terapêuticas on-line, inclusive em saúde mental, constelações, meditação e energia à distância, como demonstrado no referencial teórico a seguir.

6 | Considerações Finais
A implantação dos atendimentos on-line pelas Práticas Integrativas e Complementares em Santa Cruz Cabrália e sua expansão nacional por meio da Rede Npics Brasil evidenciam a potência do cuidado integrativo sistêmico à distância. Os resultados demonstram viabilidade técnica, adesão popular, sustentabilidade pós-pandêmica e impacto clínico-espiritual positivo.
Recomenda-se que experiências como esta sejam documentadas, avaliadas e replicadas em outros contextos, sobretudo em regiões remotas, territórios indígenas, quilombolas ou em situações de vulnerabilidade social. A articulação entre espiritualidade, ancestralidade e tecnologia se mostrou uma chave potente para processos restaurativos, de cuidado e de cura.

7 | Referencial Teórico
A Teoria Geral dos Sistemas (von Bertalanffy, 1968) e a autopoiese (Maturana & Varela, 1972) fundamentam a lógica de redes vivas e autogeradoras de sentido, que operam mesmo à distância. A constelação familiar, desenvolvida por Bert Hellinger, atua sobre campos relacionais não-lineares, sustentando intervenções eficazes mesmo em contexto on-line.
No Brasil, a Política Nacional de PICS (MS, 2018) legitima práticas como meditação, reiki, imposição de mãos, terapia comunitária integrativa e constelação, hoje reconhecidas em diferentes níveis de complexidade. Autores como Adalberto Barreto (TCI), Ricardo Ghelman (Medicina Integrativa), Marcelo Demarzo (Mindfulness) e Fernanda Lippi (Auriculoterapia Integrativa) defendem, com base empírica, o fortalecimento da inserção dessas abordagens no SUS.
Revisões sistemáticas e ensaios clínicos recentes indicam que intervenções como meditação, escuta terapêutica e energia à distância apresentam efeitos significativos na redução de ansiedade, depressão e sofrimento psíquico, mesmo em formato remoto. O Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução CFM 2.314/2022, regulamenta a telemedicina como ferramenta válida, com critérios éticos claros.
Yalom & Leszcz (2020) demonstram que os fatores terapêuticos de grupos — como universalidade, coesão e instilação de esperança — operam também em ambientes virtuais, especialmente quando mediados por vínculos afetivos e espiritualidade.

8 | Referências
BARRETO, Adalberto. Terapia comunitária integrativa: resgate do vínculo e da escuta em tempos de crise. Fortaleza: Gráfica LCR, 2011.
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Rio de Janeiro: Vozes, 1968.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC. Brasília, 2018.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.314/2022. Dispõe sobre a regulamentação da telemedicina no Brasil. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/. Acesso em: 26 jun. 2025.
DEMARZO, Marcelo et al. Mindfulness e promoção da saúde. São Paulo: Manole, 2020.
FAMILYSEARCH. Plataforma de registros e memória genealógica. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Disponível em: https://www.familysearch.org. Acesso em: 26 jun. 2025.
GHELMAN, Ricardo. Medicina integrativa na prática pediátrica. São Paulo: Atheneu, 2019.
HELLINGER, Bert. As ordens do amor. São Paulo: Cultrix, 2004.
JUNGES, José Roque; ZAPELINI, Rafael G.; SCHAEFER, Rafael. Medicina tradicional complementar e integrativa na APS: revisão de escopo. Revista Brasileira de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, v. 2, n. 4, p. 115‑134, 2023.
KRAUSE, Dayane Torres Wardil; CHUBACI, Rosana Yukie Sato. Centros de referência em PICS: motivações dos usuários. Oikos, v. 34, n. 3, 2023. [Inserir páginas].
LIPPI, Fernanda. Auriculoterapia no SUS: práticas baseadas em evidências. Revista Brasileira de Terapias Integrativas, 2021.
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. Campinas: Psy II, 1995.
MÃOS QUE AJUDAM. Programa de voluntariado. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
OLIVEIRA, Cláudia Silveira et al. Práticas integrativas e complementares no cuidado à saúde. Revista DELOS, v. 17, n. 60, e2288, 2024.
PRANIS, Kay. Processos circulares: construindo paz e pertencimento. São Paulo: Palas Athena, 2023.
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AUTOSSUFICIÊNCIA BRASIL. Rede de apoio espiritual, profissional e emocional. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal – Enfermeiro (COREN-BA 98607), Terapeuta Sistêmico, Coordenador do NPICS Brasil

A prática foi aplicada em

Todo o Brasil

Esta prática está vinculada a

Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

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01 jul 2025

CADASTRO

25 set 2025

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

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