Apresentação
A saúde mental é uma área frequentemente negligenciada, especialmente em regiões periféricas do Brasil. O município de Brejo do Cruz no Sertão da Paraíba, com suas condições socioeconômicas desafiadoras, não foge à regra. A realidade é que muitas pessoas com sofrimento psíquico permanecem sem o suporte necessário, o que resulta em complicações que afetam diretamente a qualidade de vida e a inclusão social.
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), é um serviço de saúde público e comunitário integrante do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele atua como referência e oferece tratamento para pessoas com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e outras condições, cujos quadros exigem cuidado intensivo, personalizado e comunitário, promovendo a qualidade de vida e a inclusão social (MS, 2004).
O município de Brejo do Cruz tem uma população de aproximadamente 13.613 habitantes (IBGE – 2022) e necessitava de um serviço especializado para tratar transtornos mentais, o que gerava um ciclo de internações hospitalares, marginalização social e abandono de cuidados adequados.
Por isso, a implantação do CAPS I é um passo crucial para atender a uma demanda latente e garantir que as pessoas com sofrimento psíquico não ficassem à mercê de um sistema de saúde que não as acolhia. A proposta é garantir uma rede de suporte eficiente, que integrasse o cuidado psicossocial à vida cotidiana dos pacientes, permitindo uma recuperação mais holística e digna.
Objetivo Geral
Oferecer o acompanhamento terapêutico para pessoas com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e outras condições, cujos quadros exigem cuidado intensivo, personalizado e comunitário, promovendo a qualidade de vida e a inclusão social.
Objetivos Específicos
• Oferecer acompanhamento multiprofissional ofertando o cuidado holístico visando a melhoria na qualidade de vida dos usuários;
• Realizar oficinas terapêuticas de artesanato, culinária, de pinturas, danças, musicoterapia, atividade física, dentre outros;
• Desenvolver projetos terapêuticos para reinserção social dos usuários;
Metodologia
O primeiro desafio foi o diagnóstico. Foram Realizadas visitas às unidades de saúde, ouvimos profissionais da atenção primária, como médicos e enfermeiros, além de conversar com a comunidade identificando as necessidades de atendimento psicológico e psiquiátrico. Com base nesse levantamento, iniciou-se a estruturação do CAPS I. Buscamos uma localidade central, acessível a todos, e começamos a planejar a equipe necessária: psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais.
Além disso, a capacitação dos profissionais locais foi fundamental. Organizar treinamentos para a equipe de saúde foi uma das primeiras ações do projeto. Com o apoio de especialistas da área de saúde mental, proporcionamos uma formação contínua para os profissionais do município, garantindo que estivessem preparados para lidar com as especificidades do atendimento de pessoas com transtornos mentais e usuários de substâncias psicoativas.
O maior obstáculo foi, sem dúvida, a resistência inicial da comunidade em relação à saúde mental. O estigma associado a transtornos mentais no município era muito forte, e isso refletia em um receio de utilizar os serviços de saúde mental. Muitos temiam que os usuários de serviços como o CAPS fossem estigmatizados ou que o atendimento fosse de qualidade inferior. Essa desinformação também gerava preconceito contra os próprios pacientes, que frequentemente eram tratados com indiferença ou até hostilidade.
O município de Brejo do Cruz apresentava muitas pessoas com transtornos mentais moderados e graves que necessitavam de assistência psicossocial, bem como acompanhamento terapêutico especializado. A implementação do serviço CAPS I no presente município foi de grande avanço para a saúde mental da população.
Após muitos meses de trabalho, inauguramos o CAPS I no dia 05 de julho de 2024, com uma estrutura equipada e uma equipe qualificada. A primeira fase foi de adaptação e acolhimento e busca ativa dos usuários que faziam acompanhamento no CPAS I de São Bento que era nossa referência. A comunidade começou a perceber o impacto imediato do serviço: menos internações em hospitais gerais e mais atendimentos domiciliares, além de um número crescente de pessoas buscando o atendimento diário nas atividades terapêuticas do CAPS.
Os atendimentos incluíam consultas psiquiátricas, psicoterapia individual e em grupo, terapias ocupacionais, e atividades artísticas e culturais que promoviam a reintegração dos pacientes ao convívio social. Implementamos também um trabalho conjunto com outros serviços da saúde, como as unidades básicas de saúde, para garantir um acompanhamento contínuo e eficaz.
O resultado foi muito positivo. Ao longo do tempo, a população foi se aproximando do CAPS, entendendo a importância da saúde mental e reconhecendo o serviço como um espaço de cuidado e não de exclusão. O índice de reincidência hospitalar caiu, e os pacientes começaram a se reintegrar de forma mais ativa às suas famílias e à sociedade, o que foi um grande avanço.
A implantação do CAPS I em Brejo do Cruz foi, sem dúvida, uma experiência transformadora. Como enfermeira, me senti parte de uma mudança significativa na vida de muitas pessoas que, antes, estavam à margem do sistema de saúde. A criação desse serviço representou mais do que a implementação de um centro de atendimento; representou a criação de um espaço de acolhimento, respeito e dignidade para aqueles que enfrentam transtornos mentais e também preconceito .
O CAPS I não apenas atendeu a uma necessidade urgente, mas também se tornou um modelo de cuidado em saúde mental no Sertão da Paraíba. Este projeto mostrou que, com empenho, educação e capacitação, é possível transformar a realidade da saúde mental de uma comunidade, promovendo a inclusão social e oferecendo cuidados de qualidade àqueles que mais necessitam.
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO