- Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
Adriana Vargas
- 13 nov 2024
Segundo inúmeros estudos nacionais e internacionais, o uso de cannabis tem se mostrado eficaz para diversas patologias neurológicas. O Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou em 2014, que neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras prescrevam o Cannabis Medicinal (CBD), exclusivamente para tratamento de epilepsias em crianças e adolescentes. De 2015 a 2018, o número de profissionais que prescreveram canabinóides foi de 321 para 911 (alta de 183%), segundo dados da Anvisa. Em 2019, entrou em vigor a RDC 327/2019 que criou uma categoria de produtos provenientes de cannabis medicinal, concedendo autorização para a fabricação e importação. Em 2020 se permitiu a importação de forma simplificada através do preenchimento de um formulário eletrônico único e da prescrição médica. Foi realizado juntamente com as equipes da estratégia de saúde da família um levantamento no qual identificamos um alto número de crianças e adolescentes no município de Armação dos Búzios, que possuíam algum tipo patologia, tais como: transtorno do espectro autista, epilepsia refrataria, paralisia cerebral, dentre outras. A partir deste estudo ficou claro a necessidades de adesão ao programa de cannabis sativa visto que os benefícios impactariam diretamente na comunidade assistida por essa Secretaria de Saúde.Logo, a aplicação do projeto disponibilizado pelo SUS torna-se de extrema relevância para o avanço dos estudos sobre os efeitos do uso de cannabis medicinal no que se refere a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e dos seus familiares.
O atendimento especializado em cannabis medicinal está sendo implantado contando com a seguinte equipe: 2 psiquiatras para crianças, 2 psiquiatras para adultos, 1 neuropediatra, 6 psicólogos, 4 fonoaudiólogos, 1 assistente social, 1 terapeuta ccupacional, 2 psicopedagogos, 1 oficineiro, 1 educador físico, atendimento na Atenção Primária. Estamos iniciando com duas frentes de trabalho: médicos de família e agentes comunitários de saúde. Em relação aos médicos de família, o primeiro passo dado foi identificar os médicos com interesse no tema, e fazer a formação deles, para identificarem na Atenção Básica pacientes com perfil adequado para serem encaminhados. Em relação aos agentes comunitários de saúde, o trabalho está sendo junto as famílias e às escolas municipais, através dos professores, para a identificação de crianças e adolescentes com necessidades especiais.Acesso ao medicamento pelo SUS: óleo de cannabis medicinal prescrito. O tema ao acesso do medicamento no SUS, após a prescrição no Ambulatório, foi inicialmente o ponto de estrangulamento do projeto, uma vez que a população usuária é de baixa renda.
O uso de Cannabis, ainda esta cercada de mitos e preconceitos. Para quebrar o tabu é necessário discutir amplamente e diretamente com a comunidade, nesse sentido fazer audiências públicas, reuniões abertas com especialistas e envolver o Conselho Municipal de Saúde são estratégias fundamentais para alicerçar o projeto. Colocamos o uso da Cannabis como eixo da Conferência Municipal de Saúde, ponto máximo da discussão das politicas de saúde com a população. A falta de informação e um persistente estigma em relação à cannabis são hoje o principal empecilho para a popularização dos benefícios da medicina endocanabinoide no Brasil. A prioridade, hoje, é combater a ignorância em relação ao assunto. É hora de estimular médicos e outros profissionais de saúde a estudar e se preparar. Temos que formar profissionais com capacidade técnica para consolidar a terapêutica com medicamentos à base de cannabis no SUS, profissionais que vão diagnosticar, prescrever, realizar tratamentos de potencial transformador na qualidade de vida de milhares de pacientes portadores de doenças graves, refratárias e incapacitantes. Diante da enxurrada de artigos científicos publicados na área e da robustez de resultados observados diariamente na vida de centenas de milhares de pacientes, está claro que a cannabis medicinal demonstra ser uma excelente alternativa. Um motivo mais do que plausível para a urgência em garantir um processo de formação guiado pelo conhecimento científico e pela ética, que cumpra a finalidade maior de proteger e proporcionar melhores resultados aos pacientes. É nossa responsabilidade nos apropriarmos desse conhecimento e oferecer aos nossos pacientes um tratamento completo com ou sem produtos à base de cannabis mas que seja seguro, eficaz e assertivo. E o principal, que a decisão da prescrição esteja livre de preconceitos e alicerçada no conhecimento científico.
Armação dos Búzios, RJ, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO