A iniciativa de organização das ações voltadas à saúde da população negra no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) surgiu da inquietação de profissionais do Serviço Social diante da ausência dessa pauta no ambiente hospitalar, mesmo após a instituição da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), em 2009. A partir dessa percepção, o Serviço Social promoveu, em novembro de 2017, o 1º Seminário sobre a Saúde da População Negra, a Feira Afro Cultural e a exposição “Beleza Negra”, contando com a colaboração de diferentes setores do hospital. Esses eventos não só visibilizaram o tema como também deram origem ao Grupo de Estudos sobre Saúde da População Negra (GESPN), que passou a se reunir regularmente para aprofundar o debate e propor intervenções práticas.
O surgimento do GESPN representou uma resposta concreta a um problema estrutural: a invisibilidade do racismo institucional e suas consequências para a saúde da população negra. Ao longo de 2018, o grupo promoveu o Mês da Saúde da População Negra no HFB, com palestras, rodas de conversa, oficinas, filmes e exposições que envolveram profissionais de diversas áreas. Ainda que o grupo funcionasse de forma horizontalizada, a coordenação e organização ficaram sob responsabilidade do Serviço Social, cuja equipe foi majoritária entre os participantes. Apesar dos desafios, como a sobrecarga de trabalho dos membros e a dificuldade de frequência nos encontros, a proposta amadureceu e evoluiu para ações mais descentralizadas, buscando maior engajamento da comunidade hospitalar como um todo.
Entre os desdobramentos marcantes do Grupo de Estudos Marielle Franco podemos citar o novembro Negro que ocorre anualmente desde 2017 com atividades em comemoração ao dia da consciência negra. No ano de 2022 o grupo foi ao Circuito Histórico de Herança Africana no Rio de Janeiro, guiado pelo Instituto Pretos Novos e patrocinado pela UNESCO. O percurso passou por locais históricos como a Pedra do Sal, o Jardim Suspenso do Valongo e o Cemitério dos Pretos Novos, essa visita permitiu aos participantes uma imersão na história da população negra no Brasil, muitas vezes apagada dos registros oficiais. A experiência foi descrita como impactante, emocionante e comovente, demonstrando a potência transformadora de ações educativas e culturais no enfrentamento ao racismo e na promoção da equidade em saúde. Ainda como desdobramento podemos citar a criação, em 2023, da Comissão Técnica da Saúde da População Negra do HFB.
Diante das reflexões promovidas sobre a saúde da população negra, torna-se evidente a necessidade de incorporar práticas contínuas que valorizem a cultura afro-brasileira e reconheçam os fatores específicos que impactam diretamente a saúde dessa população. É recomendável que unidades de saúde promovam ações educativas e formativas voltadas a usuários e profissionais, com foco na conscientização sobre o racismo estrutural e seus efeitos. Além disso, é essencial incentivar a retomada de elementos histórico-culturais na formação de políticas públicas, de modo a fortalecer a identidade negra e combater as desigualdades. Por fim, recomenda-se o desenvolvimento de estratégias permanentes para romper barreiras institucionais que silenciam vozes e restringem direitos, assegurando uma atenção mais equitativa e humanizada.
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