Formando jovens protagonistas na promoção da saúde nas favelas de Niterói

Contextualização: Nosso coletivo de educação popular, desenvolvido no Colégio Estadual José Bonifácio, realiza atividades de formação pedagógica e conscientização cidadã com jovens de favelas da Zona Norte de Niterói, principalmente moradores do Morro do Boa Vista, Vila Ipiranga, Sabão, Magnólia e Juca Branco. A Zona Norte de Niterói representa a região mais enegrecida e empobrecida da cidade, um dos principais motivos que orientaram o desenvolvimento do nosso projeto nessa localidade. Criado em 2019, nosso projeto atua para ressignificar o espaço da escola pública e fortalecer sua relação transformadora com a comunidade onde está inserida. Desde a pandemia, passamos a desenvolver mais ações relacionadas ao debate de saúde pública e ampliamos nosso escopo de atuação incorporando um leque mais amplo de atividades no sentido de fortalecer o desenvolvimento da saúde integral nas favelas.

Objetivos: Atualmente, nossa organização se propõe a atuar na formação de estudantes de escola pública para constituírem uma rede de multiplicadores de informação de qualidade sobre saúde nas favelas da Zona Norte de Niterói. Nosso objetivo é formalizar uma rede de entidades, organizações, movimentos e coletivos voltados à mobilização e promoção da saúde nessas regiões. Essa rede tem, na ponta de lança, jovens oriundos das próprias comunidades que atuam como agentes territoriais na promoção da saúde integral.

Justificativa: A importância desse projeto reside no fato de que a disseminação de informação pelos próprios moradores, devidamente qualificados por um processo de formação sólido, gera um impacto muito maior na comunidade. Ao conectar instituições de pesquisa, organizações e movimentos—ou seja, nossa rede— com agentes territoriais oriundos das próprias favelas, ampliamos significativamente o alcance da mensagem e o engajamento comunitário.

Os problemas que nos moveram a desenvolver nosso projeto de educação popular em Niterói são múltiplos e refletem as desigualdades históricas e estruturais enfrentadas pelas comunidades da Zona Norte. A crise na saúde, especialmente na favela da Vila Ipiranga, é um exemplo claro dessa realidade. A unidade do médico de família, que atende os moradores, está em reforma há quase dois anos, sem previsão de conclusão, forçando a população a buscar atendimento em locais distantes. A ausência de acompanhamento adequado de casos de diabetes e a alta incidência de HIV e sífilis são questões de saúde pública que agravam a situação das comunidades. Além dos problemas relacionados à saúde, a negligência na oferta de serviços essenciais, como o fornecimento regular de água e energia, somada à precariedade no atendimento escolar, como a insuficiência de vagas em creches e a distância das unidades disponíveis, aumenta as dificuldades enfrentadas pelos moradores. A violência policial, o risco constante de deslizamentos de terra que já afetaram várias residências, bem como a evasão escolar agravada pela necessidade de muitos alunos ajudarem seus responsáveis no sustento da casa, também são desafios que tornam a vida nas favelas ainda mais difícil. Esses problemas estão interligados e refletem uma falta de infraestrutura e políticas públicas adequadas. O plano de intervenção do nosso projeto pretende atuar na constituição de uma rede comunitária articulada para denunciar os problemas aqui diagnosticados, lutar para que o poder público garanta serviço público de qualidade na saúde, e assim, buscar promover a saúde integral nas comunidades.

Podemos destacar como principais resultados alcançados o engajamento dos agentes territoriais no debate sobre as questões de saúde integral em seus respectivos territórios e a realização de intervenções práticas, nas quais desempenharam um papel de liderança e transformação. Um exemplo significativo dessa atuação foi a atividade de campo na comunidade do Sabão, onde, em parceria com a associação de moradores, os alunos puderam observar e discutir as condições de infraestrutura e serviços essenciais, como saneamento e coleta de lixo. Além disso, entenderam o trabalho da associação na busca por melhorias, o que fortaleceu sua compreensão e participação na resolução dos problemas locais. Contudo, o principal resultado alcançado foi a organização e realização do Festival da Juventude, um evento de grande impacto, realizado no campo de futebol da comunidade do Sabão. Em colaboração com o Observatório de Saúde Coletiva da UFF e o Rapschool, e com o protagonismo dos próprios agentes territoriais, o evento foi dividido em três partes: a primeira foi um debate sobre o racismo nos esportes e na sociedade, onde os agentes territoriais protagonizaram falas críticas, compartilhando suas vivências e denunciando como o racismo estrutural impacta todas as esferas da sociedade desde os esportes até a realidade de suas comunidades. A segunda parte foi uma roda cultural de rima e grafite da resistência negra; e a terceira, um torneio de futebol, que contou com a participação de jovens das comunidades do Sabão e Boa Vista. Aproximadamente 200 pessoas foram impactadas diretamente, consolidando a intervenção como um marco de mobilização e conscientização, além de evidenciar a capacidade dos agentes territoriais em promover mudanças significativas em seus territórios.

Uma recomendação importante para facilitar a implementação de práticas semelhantes é manter um contato frequente com as organizações parceiras, especialmente as associações de moradores. Esse relacionamento contínuo é fundamental para esclarecer o trabalho que está sendo desenvolvido, identificar ações conjuntas e minimizar desconfianças, fortalecendo parcerias significativas. Além disso, é crucial selecionar como agentes territoriais jovens que residam nas próprias comunidades onde as intervenções ocorrerão, pois eles possuem conhecimento prático dos desafios locais e têm um entendimento profundo do território, o que contribui para uma intervenção mais eficaz e alinhada com as reais necessidades da comunidade.

Principal

Livres Para Brilhar

hudsonrms.uva@gmail.com

Coordenador administrativo

Coautores

Thamiris Catão Raybolt, Isabela Almeida Fernandes, Hudson Ramos Ferreira, Rafael Duarte D'Oliveira, Maria Fernanda de Souza Nascimento, Camila Brito Moreira, Maria Euterpe Aguiar Franco, Maria Clara Fernandes, Josephson Ribeiro, Cláudio Gonçalves Pereira Filho, Victória Monteiro Peixoto Alves de Souza

A prática foi aplicada em

Niterói

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

R. Dr. Carlos Maximiano - Fonseca, Niterói - RJ, 24120-000, Brasil

Uma organização do tipo

Terceiro Setor

Foi cadastrada por

Hudson Ramos Ferreira

Conta vinculada

05 fev 2025

CADASTRO

05 fev 2025

ATUALIZAÇÃO

04 jul 2024

inicio

Condição da prática

Andamento

Situação da Prática

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