Contextualização
A gravidez na adolescência permanece como um fenômeno complexo e desafiador no campo da saúde pública, devido às repercussões biológicas, emocionais e sociais que impactam diretamente a trajetória de vida das jovens. No Brasil, esse cenário é agravado por desigualdades estruturais, como pobreza, baixa escolaridade, fragilidade de vínculos familiares e barreiras no acesso aos serviços de saúde. No âmbito da Atenção Primária, especialmente na Estratégia Saúde da Família, adolescentes gestantes tendem a apresentar dificuldades na adesão ao pré-natal, necessitando de uma abordagem ampliada que considere vulnerabilidades individuais e territoriais.
Foi nesse contexto que ocorreu a experiência analisada, vivenciada durante o Estágio Supervisionado I do curso de Bacharelado em Enfermagem, realizado em 2025, em uma Unidade Básica de Saúde da Família localizada em um bairro periférico de um município do interior da Bahia. A observação e o acompanhamento de uma gestante adolescente de 15 anos, em condição evidente de vulnerabilidade social, despertaram reflexões importantes sobre a prática da enfermagem, o acolhimento qualificado e a necessidade de intervenções educativas e humanizadas.
A escolha da temática fundamenta-se na relevância social e sanitária da gravidez precoce e na necessidade de compreender como a enfermagem pode contribuir para reduzir riscos, fortalecer o cuidado e promover saúde materno-infantil. A experiência vivenciada revelou desafios como:
dificuldade de comunicação devido à timidez da adolescente;
ausência de apoio familiar estruturado;
limitações financeiras e territoriais;
baixa compreensão sobre saúde sexual e reprodutiva;
risco de descontinuidade do pré-natal.
Diante disso, torna-se fundamental relatar essa vivência, pois ela evidencia a importância do papel do enfermeiro na APS e apresenta práticas de cuidado que podem subsidiar novas reflexões acadêmicas e profissionais. O estudo, portanto, justifica-se por sua contribuição para o fortalecimento do cuidado integral, da escuta qualificada e da educação em saúde direcionada a adolescentes em contextos vulneráveis.
Objetivo Geral
Relatar a experiência de acompanhamento pré-natal de uma gestante adolescente em situação de vulnerabilidade social, vivenciada por uma estudante de enfermagem durante o Estágio Supervisionado I, em uma Unidade Básica de Saúde da Família.
Objetivos Específicos
Descrever o contexto social, familiar e territorial que permeou a gestação da adolescente acompanhada.
Identificar desafios enfrentados pela estudante e pela equipe de enfermagem no processo de cuidado.
Apresentar ações desenvolvidas durante a consulta de enfermagem, incluindo intervenções clínicas e educativas.
Refletir criticamente sobre a importância do acolhimento, da humanização e da criação de vínculo no acompanhamento pré-natal.
Discutir como a experiência contribuiu para o desenvolvimento de competências profissionais, éticas e relacionais.
Descrição da Implementação e Desenvolvimento da Experiência
A experiência foi desenvolvida durante o Estágio Supervisionado I, entre agosto e outubro de 2025, na UBSF designada para as atividades práticas. A estudante participou do processo de acolhimento, acompanhamento e orientação de uma gestante adolescente em sua primeira consulta de pré-natal, com cerca de oito semanas de gestação.
A implementação da experiência ocorreu em etapas:
1. Observação e acolhimento inicial
A estudante acompanhou a enfermeira responsável, realizando observação direta do atendimento. Identificaram-se sinais de timidez, insegurança e pouca comunicação por parte da gestante, reforçando a necessidade de abordagem humanizada, escuta qualificada e criação gradual de vínculo.
2. Levantamento das necessidades de saúde
Foram avaliados:
histórico pessoal e obstétrico;
condições socioeconômicas;
contexto familiar;
acesso aos serviços;
estado emocional;
conhecimento prévio sobre gestação.
Esse diagnóstico situacional permitiu reconhecer a vulnerabilidade social e a ausência de rede de apoio.
3. Intervenções clínicas
Durante o atendimento, foram realizados:
aferição de sinais vitais;
exame físico adequado ao período gestacional;
avaliação do cartão da gestante;
solicitação e conferência de exames;
orientações sobre uso correto de ácido fólico, sulfato ferroso e carbonato de cálcio;
informações sobre alimentação, hidratação, sono, segurança e sinais de alerta.
4. Ações educativas
A estudante participou ativamente da orientação sobre:
importância do pré-natal contínuo;
mudanças corporais da gestação;
cuidados com o corpo;
direitos da gestante;
autocuidado e prevenção de complicações;
saúde sexual e reprodutiva.
Essas ações buscaram promover autonomia, segurança e compreensão sobre o processo gestacional.
5. Encaminhamentos e articulação da rede
Diante da vulnerabilidade identificada, a gestante foi encaminhada para:
acompanhamento psicológico;
atendimento com assistente social;
inserção possível em programas socioassistenciais.
A articulação interprofissional buscou ampliar a rede de proteção e cuidado.
6. Registro e sistematização da experiência
A estudante utilizou:
observação direta, registrando comportamentos, diálogos, desafios e estratégias adotadas;
diário de campo, onde descreveu percepções, dificuldades, potencialidades e reflexões sobre a prática.
Esses instrumentos possibilitaram análise crítica fundamentada e organização do relato.
Contribuições da experiência
A vivência permitiu desenvolver competências como:
comunicação terapêutica;
sensibilização para vulnerabilidades sociais;
prática de acolhimento humanizado;
compreensão sobre intersetorialidade;
fortalecimento da empatia no cuidado;
ampliação da visão crítica sobre o papel da enfermagem no pré-natal.
Relato do Problema , Oportunidade de Aperfeiçoamento
O problema identificado surgiu a partir da observação de que as ações e serviços de saúde apresentavam baixa efetividade, especialmente no acolhimento, no fluxo de atendimento e na continuidade do cuidado. Essa realidade evidenciou falhas na comunicação entre equipes, dificuldades na organização dos processos e limitações no acesso dos usuários aos serviços. Diante disso, reconheceu-se uma oportunidade de aperfeiçoar as práticas, promover maior integração e melhorar a qualidade da assistência oferecida à população.
Relato do Problema , Oportunidade de Aperfeiçoamento
O problema que motivou este trabalho surgiu diante da percepção de falhas na organização e execução das ações de saúde, especialmente no que se refere à baixa efetividade na prevenção, no acompanhamento e na qualidade da assistência oferecida aos usuários. Observou-se a necessidade de aperfeiçoar processos, otimizar fluxos e fortalecer práticas que garantam um atendimento mais resolutivo, humanizado e alinhado às necessidades reais da população, evidenciando uma importante oportunidade de melhoria no serviço.
Para facilitar a implementação de uma prática similar, recomenda-se iniciar com um diagnóstico situacional detalhado, envolvendo a equipe em todas as etapas. É essencial garantir comunicação clara, divisão de responsabilidades e capacitação dos profissionais. Além disso, manter registros organizados, avaliar resultados periodicamente e adaptar as estratégias conforme a realidade do serviço contribui para maior efetividade e sustentabilidade da prática.
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