- Atenção Primária à Saúde
Bruno Henrique da Silva Ramos
- 13 nov 2024
Desde 1973, com a criação do Programa Nacional de Imunização (PNI), o Brasil passou a ser referência mundial para a distribuição de imunobiológicos e altas coberturas vacinais. Mesmo com a eficiência do Programa, nas últimas décadas, observa-se o declínio da cobertura vacinal em todo o território nacional, principalmente após a pandemia da Covid-19 que, dentre outros problemas, contribuiu para o enfraquecimento das ações de imunização. Nessa perspectiva, este trabalho descreve os desafios, perspectivas e metas para aumento da cobertura vacinal no município de Rio Branco, capital do estado do Acre. A Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) disponibiliza os imunizantes na rede de Atenção Primária à Saúde (APS), a qual é composta por 11 Unidades de Referência de Atenção Primária (URAP), 1 Policlínica e 46 Unidades de Saúde da Família (USF). As ações de imunização são realizadas de forma descentralizada e multidisciplinar com três estratégias para a vacinação da comunidade: vacinação de rotina, campanhas de vacinação e vacinação nas comunidades rurais. A vacinação de rotina está disponível nas 58 salas de vacina das unidades de saúde. As campanhas de vacinação ocorrem em locais estratégicos de considerável aglomeração de pessoas, como praças, supermercados, escolas, universidades, shopping e creches. Por fim, as comunidades rurais são contempladas com as ações itinerantes do programa “Saúde na Comunidade”, onde as equipes de saúde, se deslocam para pontos estratégicos nas comunidades rurais levando atendimento ambulatorial, dentre estes a vacinação. Mesmo com essas estratégias, alguns aspectos limitam a cobertura vacinal, tais como: pouco conhecimento dos esquemas vacinais; os riscos do retorno de doenças imunopreveníveis; falta de conhecimento e monitoramento dos indicadores de saúde, o negacionismo científico; e a disseminação de informações falsas, imprecisas ou descontextualizadas sobre as vacinas. Para enfrentar os problemas multifatoriais que afetam diretamente nas coberturas vacinais do município de Rio Branco, são necessárias estratégias que busquem o fortalecimento de forma descentralizada e intersetorial das ações de vacinação que devem ser implementadas de forma simultânea com os profissionais da saúde, da educação e principalmente com participação ativa da comunidade considerando o contexto e a realidade local.
Assim como no Brasil, de acordo com os resultados da Pesquisa ImunizaSUS, a redução dos indicadores de cobertura vacinal se caracteriza como um fenômeno multifatorial, com desafios e problemas a serem enfrentados. No que se refere aos problemas identificados na Pesquisa ImunizaSUS, no município de Rio Branco, são observados: pouco conhecimento, tanto dos profissionais da saúde como por parte da população, dos esquemas vacinais preconizados; crença da população sobre os riscos de retorno das doenças imunopreveníveis até então erradicadas, influenciando na não aceitação das vacinas; dificuldade de monitoramento dos indicadores de cobertura vacinal e de acompanhamento de faltosos; número insuficiente de profissionais de saúde para atender à demanda; registros incompatíveis com doses aplicadas; e grupos antivacinas fomentando a circulação de informações falsas. O pouco conhecimento dos esquemas vacinais e dos riscos do retorno de doenças imunopreveníveis, e consequentemente a baixa procura pelos imunizantes por parte da população no município de Rio Branco, é um desafio para a atual gestão desenvolver estratégias para ampliar o acesso às informações e ao conhecimento, com articulação intersetorial. Outro fator importante que está diretamente relacionado com essa baixa cobertura vacinal no município, é a dificuldade de monitoramento dos indicadores, por falta de uma organização dos processos de trabalho por parte da equipe a Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS), para monitorar os indicadores e realizar a vigilância apoiando as equipes no território, bem como o envio dos dados para o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Como desafio, destaca-se ainda a necessidade de integração entre as equipes das áreas de Vigilância e Diretoria de Assistência à Saúde, com a priorização de ações de forma articuladas, desde o planejamento até o monitoramento e avaliação dos resultados. As consequências devastadoras do negacionismo científico, é ainda um fator bastante evidente no município, com disseminação de informações falsas, imprecisas ou descontextualizadas sobre as vacinas, com posicionamentos de pessoas que fazem parte de um grupo antivacina, influenciando nos resultados da cobertura, o que se traduz em um grande desafio para a gestão.
Para enfrentar os problemas multifatoriais que afetam diretamente nas coberturas vacinais do município de Rio Branco, são necessárias estratégias que busquem o fortalecimento de forma descentralizada e intersetorial das ações de vacinação que devem ser implementadas de forma simultânea com os profissionais da saúde, da educação e principalmente com participação ativa da comunidade considerando o contexto e a realidade local, para tanto, são propostas as seguintes estratégias: 1. Educação e comunicação em saúde para a população: direcionada para aumentar o conhecimento e consciência da população sobre a importância das vacinas e os riscos de retorno de doenças imunopreveníveis, por meio de materiais educativos nas redes sociais, palestras com distribuição de material informativo nos centros de saúde, nas escolas, nas igrejas, universidades, praças, supermercados, shoppings, etc. Através da educação em saúde é possível modificar a percepção individual e assim aumentar o nível de confiança e diminuir a complacência. 2. Educação permanente em saúde para profissionais da saúde e educação: direcionado para a atualização dos profissionais da saúde, principalmente os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), para que durante as visitas de rotina no território, orientem as famílias e verifiquem as carteiras de vacinas e direcionam os faltosos para as unidades de saúde. Ou seja, torna-se fundamental qualificar cada vez mais o papel dos ACS, ampliando sua atuação no território. Cursos de atualização trimestral para os técnicos das salas de vacinas, devem ser planejados e executados para que estes profissionais, sintam-se seguros da importância do trabalho que realizam e estejam sempre atualizados sobre as orientações e notas técnicas do Ministério da Saúde. Para os professores, as oficinas devem ser implementadas a cada quadrimestre, para que conheçam os esquemas vacinais, a história das vacinas e a importância de se trabalhar esse assunto na grade curricular dos alunos. 3. Pactuação dos indicadores com participação das secretarias de saúde, conselho municipal de saúde, educação, assistência social e outros: observa-se que atualmente a pactuação dos indicadores no município, é realizada quase que exclusivamente pela equipe da vigilância em saúde, com pouca participação da equipe de assistência à saúde. Essa pactuação deve acontecer de forma intersetorial, não somente pelas equipes da saúde, mas também com participação das equipes da educação, assistência social e outros, que tenham contato direto com as populações alvos e que podem contribuir para este processo tanto de orientação como subsidiar o diálogo de políticas sobre ações para aumentar a cobertura vacinal no território. 4. Acompanhamento das carteiras de vacinação durante as consultas pediátricas e pré-natal: direcionada para o estabelecimento de conversas com os usuários do sistema de saúde sobre a temática da vacinação, no ato de consultas pediátricas e consultas durante o pré-natal. Este diálogo deve ser tornar rotina entre os profissionais e os usuários, de forma dinâmica e que os usuários se sintam seguros para procurar as salas de vacinas. 5. Monitoramento diário dos indicadores de cobertura vacinal: pactuar, monitorar e avaliar os indicadores de cobertura vacinal, é uma das estratégias fundamentais para o planejamento de estratégias que visem o aumento da cobertura vacinal. As equipes de vigilância em saúde e de assistência à saúde, devem realizar reuniões bimestrais para monitorar e planejar estratégias a nível de território, com participação ativa dos Agente Comunitário de Saúde (ACS) e técnicos das salas de vacinas. 6. Telemonitoramento das coberturas vacinais: avaliar a cobertura vacinal a partir do banco de dados dos sistemas e implantar o telemonitoramento para contactar os pais de crianças com pendências ou atrasos de doses e orientar a procurar uma unidade de saúde para atualização da caderneta. O telemonitoramento será importante para subsidiar a tomada de decisão sobre a definição ou redefinição de estratégias adicionais de vacinação, entre elas a busca ativa, visando melhorar as coberturas vacinais e sua homogeneidade. 7. Busca ativa nas visitas domiciliares: reforçar as visitas domiciliares pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) para a adequação em número de doses e tempo oportuno das vacinas pelas famílias do território. As visitas domiciliares devem se tornar uma oportunidade de esclarecimento sobre fluxos e formas de acesso à unidade de referência, de avaliar a adesão aos protocolos e rotinas de acompanhamento da saúde da criança, tornando-se uma ferramenta de busca ativa e uma importante estratégia de vigilância em saúde. 8. Realização de inquéritos locais para avaliar a cobertura vacinal: implementar inquérito domiciliar a cada quadrimestre para avaliar a cobertura vacinal em grupos alvos, envolvendo a participação dos setores da saúde, educação e participação comunitária. A partir desses inquéritos, realizar o mapeamento das áreas com menor cobertura vacinal e disponibilizar os serviços de saúde realizar ações e educação em saúde que busquem atender as características da região, sempre visando os determinantes não-sociodemográficos. 9. Parcerias com instituições públicas e privadas: a intersetorialidade das ações da saúde e da educação, por meio de parcerias que visem a produção de informação qualificada sobre saúde por instituições públicas e privadas, devem ser implantadas na rotina dos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS). A participação social e coletiva, de cursos da saúde e afins, nos serviços da APS, é uma ferramenta importante para a formação profissional e disseminação de conhecimento. 10. Diálogo com grupo antivacinas: com encontros periódicos por meio de rodas de conversa, seminários, mesas redondas, de forma a promover o debate científico buscando ressignificar algumas ideias que podem trazer impactos negativos para a saúde da comunidade.
A presente proposta apresentou o contexto da imunização no município de Rio Branco, Acre, descrevendo os desafios, perspectivas e metas para aumento da cobertura vacinal e apresentando estratégias intersetoriais para o fortalecimento das ações de imunização. A intersetorialidade pode ser definida como a integração de diversos saberes e experiências de diferentes sujeitos e serviços sociais que contribuem nas decisões de processos administrativos para o enfrentamento de problemas complexos, com ações voltadas aos interesses coletivos que melhoram a eficiência da gestão política e dos serviços prestados. Para superar os desafios e alcançar as metas propostas, é necessário reformas organizacionais com às gestões federal, estadual e municipal, à população em geral, e a grupos específicos como profissionais de saúde e órgãos de representação profissional, que busquem implementar ações de saúde que atendam à conjuntura populacional do município, pensando nas características, sociais, culturais e econômicas da população.
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