De mulher para mulher: relato de experiência de um programa de saúde de um município do leste de Minas Gerais

Os serviços de APS no Brasil se materializam no espaço físico das Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde trabalham equipes multidisciplinares compostas de médico, enfermeiro, odontólogo, técnico de enfermagem, agente comunitário de saúde, dentre outros profissionais que integram a equipe ampliada de saúde. O fluxo de acolhimento ao usuário pode ocorrer de duas maneiras distintas: atendimento de demanda espontânea ou agendamento de consultas.
As mulheres, desde 1930, possuem uma atenção especial voltada à sua saúde, nos mais diversos contextos, como planejamento reprodutivo, pré-natal, puerpério e prevenção do câncer de mama e do colo de útero. Com um olhar para esse crescente, o Ministério da Saúde elaborou, em 1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), um marco para a população feminina. O sistema de informações hospitalares da rede pública nacional aponta que o maior índice de internação hospitalar comumente se dá por mulheres3, dados que remetem a necessidade de fortalecimento dos programas e ações que visam atenção à saúde da mulher.
A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde sendo eles: primário, secundário e terciário. No primário, estão as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF), consideradas a “porta de entrada” ao Sistema Único de Saúde (SUS), em que são marcados e realizados exames, procedimentos de menor complexidade e consultas.
O acesso aos serviços de saúde do SUS pelas mulheres tem sido um problema estudado por várias áreas da saúde coletiva. É sabido que há uma deficiência na oferta/demanda desses serviços em todo o país. Essa dificuldade está diretamente relacionada a superlotação de unidades de maior complexidade, normalmente com demandas que poderiam ser resolvidas em unidades que se apropriam de tecnologias leve ou leve-duras, entretanto, o não atendimento das reais necessidades em saúde nas UBS faz com que a população busque a instituição hospitalar.
Diante disso, em uma reunião da equipe com a Secretária de Saúde criou-se o projeto: De mulher para mulher, a escolha desse nó crítico e a priorização do mesmo, como problema urgente e importante a ser enfrentado, foi devido à uma percepção de toda equipe juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde de uma demanda reprimida de exames de mamografia e laudo citopatológico, ultrassonografia transvaginal e mamas relacionados a saúde da mulher, na faixa compreendida entre 25 a 69 anos, conforme preconizado pelo Ministério as Saúde, período de 2018 a junho de 2024, nas Equipe de Saúde da Família, do município de Ipatinga. Queixas constantes das mulheres em relação à demora na fila de espera aguardando os exames estavam gerando transtornos juntamente à Secretaria de Saúde.

Pode-se identificar no município de Ipatinga, um excesso de pedido de exames desde 2018 que ainda não foram agendados e constantes queixas pelos pacientes do atraso na marcação. Desta forma, pode-se observar que há uma demanda reprimida de exames considerável e constatada a necessidade de identificar estatisticamente essa demanda a fim de elaborar um plano de intervenção para reduzi-la. Para compreender essa demanda é necessário que se entenda o processo de entrada do paciente à essa fila. Inicialmente o paciente é atendido pelo médico ou enfermeiro, na unidade básica de saúde do município, que solicita os exames necessários de acordo com a queixa durante a consulta. É gerado um protocolo de agendamento na recepção da UBS. Quando disponibilizada a vaga e o horário, o paciente é contatado por meio do Agente Comunitário da Saúde (ACS) e tem seu exame agendado. Rotineiramente presencia-se o fato de pacientes que ao receberem a notícia que o exame foi marcado, nem se lembram mais do motivo que os levaram a marca-lo pois as queixas são outras e as vezes nem existe mais o motivo que levou a solicitação do pedido médico ou até mesmo já realizaram o exame por meios próprios.
Nesse sentido foi feita uma busca ativa através do sistema eletrônico do município (SANITAS), e em seguida contato via telefônica de todos os pedidos de exames de média e alta complexidade que estavam na lista de espera, para oferta da marcação dos exames relacionados a saúde da mulher.

De um total de 155 mil mulheres na faixa etária entre 25 a 69 anos, havia uma lista reprimida de : 3764 ultrassonografias de mamas, 3552 de ultrassonografias transvaginal, 2470 mamografias. Com o projeto de mulher para mulher, desencadeou um força tarefa por toda a equipe, onde foi realizado aproximadamente de 50 mil ligações, mediante abordagens individuais e sensibilização quanto a importância da realização dos exames, foram obtidos resultados significativos, em apenas 45 dias: alcance de indicadores, que estabelece a meta de 40% de mulheres entre 25 e 64 anos com coleta do exame citopatológico realizada na Atenção Primária à Saúde pelo menos uma vez a cada 36 meses (3 anos), redução da fila de espera a 30%, maior adesão das usuárias ao serviço, efetividade quanto ao principio da acessibilidade, redução de ouvidorias quanto as insatisfações do serviços prestados.

Conclui-se com a realização desse trabalho, uma delas é sobre a influência direta dos aspectos culturais e profissionais em relação à solicitação de exames. Infelizmente há uma cultura na população de que exames têm que ser feitos anualmente e muitas das vezes o paciente se consulta somente para pedir exames, os quais não tem motivo no momento para serem solicitados. Nesse aspecto, uma educação permanente voltada para orientação da equipe e dos pacientes sobre a real necessidade de solicitação de exames e sobre como os pedidos desnecessários oneram o sistema, é fundamental para evitar consultas com essa finalidade, aumentos dos gastos e da fila de espera. Acredita-se que não haveria um excesso de exames solicitados sem critério se o atendimento médico fosse centrado no paciente, com uma anamnese e exame físico bem direcionado, baseado nos parâmetros do acesso, acolhimento, vínculo e resolutividade. Mas a sobrecarga de pacientes e consultas rápidas costumam gerar uma solicitação desnecessária de exames. Outro aspecto a ser considerado são as mudanças demográficas que constituem os principais fatores do aumento dessa demanda, pois o envelhecimento da população leva a uma maior busca pelos serviços de saúde. Além disso, infere-se que a alta demanda de pedidos de exames associada a falta de informações sistematizadas e de um sistema protocolado para estabelecimento das prioridades, gera uma desorganização em relação a essas solicitações e um atraso nas marcações. A ausência de justificativas às solicitações de exame representa o investimento na “doença”, ao invés de ser na promoção de saúde da população. Dessa forma, aponta-se a necessidade de investir em uma formação profissional centrada no modelo de atenção proposto pela ESF.

Principal

Ana Caroline Marques Oliveira

carolplp2011@gmail.com

Diretora atenção básica

Coautores

Josiane Marcia de Castro Walisson Silva Medeiros Elisangela Alves Santana Maria Celeste de Souza Oliveira Grasiele Maria de Souza da Silva Eveline de Cassia Silva

A prática foi aplicada em

Ipatinga

Minas Gerais

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Av. Carlos Chagas, 825 - Cidade Nobre, Ipatinga - MG, 35162-359

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Ana Caroline Marques Oliveira

Conta vinculada

31 jul 2024

CADASTRO

06 ago 2024

ATUALIZAÇÃO

17 jun 2024

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Condição da prática

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