A vacina é uma estratégia segura e eficaz para a contenção da pandemia da COVID-19, no entanto, com a redução do número dos casos positivos e relaxamento das medidas de proteção, foi observado que o número de munícipes da cidade de Dias d’Ávila que receberam alguma dose da vacina, sobretudo, os reforços, estava decrescendo. Dentre as hipóteses levantadas para este resultado, destaca-se a dificuldade do comparecimento do público alvo em horário administrativo na Estratégia Saúde da Família (ESF) e uma baixa adesão às campanhas vacinais promovidas nos finais de semana para aplicação desses imunizantes. Tal fato despertou a adoção de estratégias para ampliar o acesso da população à vacina, estabelecendo a oferta em horário alternativo. A ação foi planejada visando imunização em larga escala, com funcionamento simultâneo de cinco salas de vacina no período noturno, ofertando todos os imunobiológicos disponíveis no município contra o coronavírus. Com a implantação dessa estratégia foi alcançado um número de vacinados seis vezes maior que a média diária nas ESF’s, representando um resultado promissor para novas ações.
O Brasil, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), coordenado de forma compartilhada pelas três esferas governamentais pode ser considerado como uma das principais e mais relevante intervenções em saúde pública. Por meio da expansão desse programa, o Brasil tornou-se um dos países que oferta o maior número de vacinas, de forma gratuita, para sua população (DOMINGUES, 2020). A imunização é a maneira mais segura e eficaz de proteger os seres humanos contra doenças infecciosas, pois geram respostas imunológicas de longo prazo, favorecendo o controle e erradicação de doenças que ameaçam a população (MENEZES, 2022). As coberturas vacinais se mantiveram elevadas no período de 2000 até 2015, alcançando as metas preconizadas pelo Ministério da Saúde, no entanto, o cenário epidemiológico vem mudando, principalmente ao longo dos últimos anos, sendo necessário enfrentar novos desafios em saúde pública para reverter esse quadro (DOMINGUES, 2020). Em dezembro de 2019, o mundo foi pego de surpresa com o surgimento de um novo vírus, o SARS-CoV-2, responsável pela infecção viral de rápida disseminação, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar o estado de contaminação como pandemia. Para controlar a disseminação, diversos países foram autorizados a criar as primeiras vacinas de uso emergencial. No Brasil, após a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em janeiro de 2021, os primeiros imunizantes começaram a serem ofertados à população (SILVA,2023). No entanto, a oferta do imunobiológico não é fator suficiente para garantir a imunização, tanto para aquelas que já fazem parte do calendário vacinal, quanto para a vacinação contra o coronavírus, uma vez que motivos como: a presença de elementos tóxicos nos imunizantes, imaturidade imunológica para lidar com tantas vacinas, medo de agulhas ou do efeito colateral do imunizante, além da veiculação de fake news e o fenômeno da desinformação já colaboravam para a evasão vacinal. (GALHARDI, 2022) Assim como na Pesquisa Nacional sobre cobertura vacinal, seus múltiplos determinantes e as ações de imunização nos territórios municipais brasileiros, foram também identificadas várias causas responsáveis pelas quedas das coberturas vacinais e a necessidade da delimitação mais precisa dos problemas e as formas mais adequadas para seu enfrentamento, foram observados diversas situações no município que contribuíram para a evasão da população à vacina contra o coronavírus, dentre elas: a limitação de horários para atualizar a situação vacinal, especialmente a população que trabalha em horário administrativo e não tem possibilidade de comparecer as unidades de saúde durante a jornada de trabalho, abastecimento reduzido no início da campanha vacinal, desinteresse, falta de tempo, relaxamento das medidas de proteção, fake news e queda do número de positivados e óbitos em decorrência do vírus.
Segundo dado publicado pela OMS, estima-se que as vacinas salvam mais de três milhões de vidas todos os anos no mundo. E mesmo o Brasil, sendo um país rico em experiências bem-sucedidas em campanhas vacinais, com reconhecimento internacional, a entrada de novas vacinas, em especial as de COVID-19, tem tido entraves com relação à adesão vacinal, sobretudo, pela falta de uma campanha de esclarecimento para a população, o que resulta em um aumento da resistência, recusa vacinal e atraso na busca pelos imunobiológicos por parte da comunidade (SOUTO, 2021). Apesar dessa hesitação provocada pelo negacionismo, falta de confiança, informação, desinteresse e conveniência por parte da população brasileira contra a vacina COVID-19, observa-se que com a persistência e o avançar da campanha de vacinação houve uma redução considerável dos índices de internações, gravidade e mortalidade pela doença, o que comprova a eficácia da vacina, mas devido os obstáculos encontrados, torna-se necessário pensar em mudanças nas estratégias a fim de promover melhores resultados de efetividade contra a doença, incluindo as populações especiais (BRASIL, 2022). Quanto à conveniência, ela afeta a decisão da vacinação na medida em que varia a praticidade e a facilidade na obtenção da vacina, e envolve questões como horários de funcionamento dos postos de vacinação, disponibilidade das doses e recursos humanos (SOUTO, 2021). A educação em saúde é de fundamental importância para o combate à desinformação através da produção e transmissão de conhecimentos técnico-científicos com linguagem de fácil compreensão para a população em geral (SOUZA, 2020). Para a melhoria dos índices vacinais e na tentativa de alcance da meta das coberturas vacinais dos grupos prioritários, no município foram pensadas ações de educação em saúde na temática COVID-19, usando as mídias de comunicação social, Programa de Saúde nas Escolas (PSE) e salas de espera nas ESF’s para desmistificar as fake news e estimular o aumento no número de vacinados. O funcionamento das salas de vacina ocorre em horário administrativo e, não oferecem horários alternativos, limitando o acesso, principalmente para aquelas pessoas inseridas no mercado de trabalho (FERREIRA, 2017). Essa foi considerada a principal hipótese da evasão de vacinas pelos munícipes, corroborando não somente pela abstenção da vacinação por tais cidadãos, mas também pelas crianças os quais são responsáveis. Para esse segundo público, as crianças, foi planejado com a Secretária de Educação, Conselhos Municipais de Saúde e de Educação, ações para adoção de medidas de contenção do avanço da doença e vacinação nas escolas. Como estratégia para melhorar a cobertura vacinal e diminuir as dificuldades de acesso à vacina da COVID-19, foram elencadas ações, primeiramente, em formato de drive-thru, disponibilizando um maior número de funcionários para atender tal demanda e minimizar o tempo de espera. Ainda foi ofertado o serviço aos sábados, no período entre 08 às 12 horas, resultando, em média, um total de 350 munícipes atendidos a cada ação. Na tentativa de ampliar a captação de pacientes para serem imunizados, foi realizada imunização domiciliar em idosos maiores de 60 anos de maneira escalonada, em instituições de longa permanência (ILP), nos postos de trabalhos, dentro de empresas de gestão pública e privada e busca ativa em território. Atualmente, as 15 salas de vacinação do município são responsáveis pela imunização diária média de 83 indivíduos, de diferentes faixas etárias, entre primeira dose e reforços. Em uma nova tentativa de aumentar a acessibilidade, foram feitos esforços pela Coordenação de Imunização do município, em conjunto com a gerência da Atenção Primária, para desenvolver a ação “Corujão da Imunização”, tendo sido feita uma ampla divulgação dos imunobiológicos disponíveis por público alvo, por meio das redes sociais e canais de comunicação oficial da prefeitura e através das ESF’s. O evento ocorreu no dia 14 de dezembro de 2022, com previsão de atendimento das 17 às 20:30 horas, no entanto, devido a demanda, foi estendido até às 22:00 horas. O local escolhido, de forma estratégica, foi uma ESF do município, considerando a acessibilidade inclusive aos meios de transporte público, tendo sido criada logística adequada para atender ao quantitativo de até 1000 munícipes, dentro de um período de 5 horas. Foram disponibilizadas 05 salas simultâneas, dispondo de caixas térmicas com imunizantes, para aplicação do esquema primário e reforços. A equipe foi composta por 5 técnicos de enfermagem, 3 enfermeiras, 5 digitadores e 2 direcionadores, estes profissionais foram previamente preparados para verificar a situação vacinal, direcionar a população para a sua respectiva sala, imunizar os cidadãos e lançar os dados vacinais no SI-PNI. A ação considerada promissora resultou na administração de 516 doses de vacinas para munícipes de diferentes faixas etárias, valor correspondente a 521% acima da média diária. Tal dado demonstra que o horário alternativo é uma estratégia eficaz para atingir as pessoas inseridas no mercado de trabalho e garantir o acesso a imunização da população. Além da repercussão positiva para a Secretaria de Saúde Municipal, pois o número expressivo impacta na melhora do controle de proliferação da doença no município, o evento conquistou a comunidade pela facilidade de acesso, agilidade na prestação de serviço e pela atenção ofertada pelos profissionais. O Corujão da Imunização assim, se consolidou como um modelo estratégico e inovador para a oferta de serviços de saúde à população, abrindo portas para adoção de novas ações em horários compatíveis com a realidade local, promovendo a equidade, especialmente, para aqueles munícipes que atuam no mercado de trabalho, em horário comercial, levando a implantação do Corujão da Saúde.
Levando em consideração a queda das coberturas vacinais, fez-se necessária adotar estratégias para aumento da acessibilidade e combate a desinformação, reduzindo dessa forma o número de entraves que levam a resistência, recusa vacinal e atraso na busca pelos imunizantes. Essas ações devem ocorrer em resposta às demandas sociais e são fundamentais para ampliação do acesso às vacinas e no combate das doenças imunopreveníveis, especialmente para a COVID-19, uma doença de alta transmissibilidade e responsável pelo aumento no número de óbitos de forma global. É importante ressaltar que a eficácia do Corujão da Imunização foi derivada de uma combinação de diversos fatores: a priorização de uma necessidade da população, a localização estratégica, a divulgação, a logística adotada para a celeridade dos atendimentos, bem como, os esforços investidos pelos profissionais e gestores municipais para atingir uma maior cobertura vacinal. Também deve ser considerada a importância das esferas estadual e federal com o abastecimento contínuo e adequado de imunizantes para a população, fortalecendo o desenvolvimento dessa atividade. Para o município, além do impacto positivo para o aumento do número de vacinados contra o coronavírus e na homogeneidade do público alvo, a ação contribuiu com a redução das taxas de absenteísmo por motivos de saúde no mercado de trabalho e garantiu, ainda assim, a acessibilidade dos trabalhadores aos serviços de saúde. Deste modo, evidencia-se que foi desenvolvida uma ação sinérgica, beneficiando o setor da saúde e o comércio local, tendo em vista que durante a pandemia muitas empresas não conseguiram se manter, ou dispor do mesmo número de funcionários. Por fim, é inegável que um olhar atento dos profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde, é de suma importância para suprimir as demandas específicas do território. Essa visão possibilita reorganizar e articular condutas multissetoriais para a melhoria dos serviços já ofertados e desenvolver ações inovadoras, e eficazes, para o enfrentamento das dificuldades de acesso à vacinação no município. Reconhecendo a relevância da ação Corujão da Imunização e sua aceitação pelo público, é considerado promover a sua aplicabilidade no desenvolvimento de outras ações futuras para ofertar múltiplos serviços de saúde, sempre em horário alternativo ao funcionamento das unidades, promovendo o aumento da resolutividade das necessidades locais, redução das filas de espera, ampliação do número de imunizados, do acesso e satisfação pelos munícipes.
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