Agroecologia e Saúde em Movimento na Primeira Favela

Este projeto, apoiado pelo edital 2024 do Plano Integrado de Saúde nas Favela da Fiocruz, é sustentado na trajetória e experiência da organização Providência Agroecológica com os temas e com nossa capacidade de articulação em rede. Somos um projeto autônomo, que não conta com fomento de políticas públicas ou financiamento de empresas. Não trabalhamos com o orçamento adequado, mas realizamos muito com os recursos que acessamos.
Atuamos localmente com questões de interesse público. Enquanto organização, nos engajamos para fazer valer direitos básicos dentro do processo democrático. Todas as atividades são 100% gratuitas, de caráter social e formação cultural, envolvendo o público infantil, jovem e adulto. Ações de assistência são necessárias, desde que propostas somadas a processos continuados, como a educação agroecológica, a valorização da diversidade cultural e saberes ancestrais, o cultivo de espaços de expressão e aprendizado coletivo. São soluções também de enfrentamento à emergência climática, levando em conta as poucas áreas verdes e a alta especulação imobiliária na região. Buscamos minimizar deficiências estruturais do acesso à serviços básicos e contribuir para a justiça racial e de gênero, promovendo espaços seguros de produção do conhecimento e de conexões significativas na comunidade.

O objetivo do projeto é realizar ações ligadas à alimentação, atenção à saúde e qualidade ambiental em benefício da população do Morro da Providência, combinando cultivo agroecológico e restauração ambiental, distribuição de alimentos agroecológicos, oficinas de saúde integral de consciência corporal e ervas medicinais, aulas de educação ambiental e reforço escolar e produção e distribuição de sabão.
Especificamente, objetiva:
1.Fortalecer a rede de organizações do Morro da Providência interconectando saúde, cultura e meio ambiente.
2. Alimentação – Distribuir 240 cestas agroecológicas para famílias do Morro da Providência
3. Realizar pelo menos 20 oficinas de preparo de ervas medicinais, costura e yoga para mulheres
4. Realizar 40 de educação ambiental agroecológica para crianças e adolescentes
5. Produzir e distribuir 3 mil litros de sabão multiuso medicinal a partir do óleo de cozinha proveniente dos domicílios da Providência
6. Plantar e cuidar dos jardins aromáticos e medicinais da Clínica da Família Nelio de Oliveira
7. Ampliar e cuidar das áreas de cultivo agroflorestal e hortas do Morro da Providência

O projeto é original porque prioriza a ações ambientais, culturais e de educação que geram um ambiente saudável e pessoas saudáveis. Somos a única organização que atua com meio ambiente e agroecologia em todo o Morro, em nossas áreas de cultivo estão catalogadas mais de 800 espécies vegetais. A região portuária foi o local de chegada do maior número de pessoas escravizadas no Brasil (ao menos 1 milhão). Nunca houve um projeto real de reparação da população que permaneceu neste território. Essa é uma proposta de relevância nacional, que se insere em um processo continuado de reparação pela agroecologia e o cuidado em saúde, retomando um legado de conhecimentos tradicionais afrocentrados sobre a medicina e a alimentação, que sofreu um apagamento, em um território dotado de grande força simbólica e material.

O Morro da Providência localiza-se na região portuária do Rio de Janeiro, Pequena África Carioca, bairro da Gamboa, Área de Planejamento 1 (AP1) da I Região Administrativa. Oficialmente, pelo IBGE (2010) 4.354 pessoas moram no Morro em 1.237 domicílios, mas dados do programa Favela Bairro informam um número próximo aos 7.000 habitantes. O abastecimento de água na Providência é intermitente (3x/semana), muitos domicílios não têm acesso à rede de esgotamento sanitário, não existe sistema de drenagem de águas pluviais e a coleta de lixo não atinge a maior parte dos logradouros. Há poucas áreas verdes, que em grande parte foram restauradas e são mantidas pela Providência Agroecológica. Não há transporte público nem escolas no seu interior. A violência e a insegurança decorrem de confrontos entre o narcotráfico e a polícia. A população é atendida pela Clínica da Família Nelio de Oliveira. O Morro está próximo à Central do Brasil, Rodoviária Coronel Américo Fontinelle, Cais do Porto do Rio de Janeiro e Praça Mauá. Nestes espaços, há um número expressivo de pessoas que vendem sua força de trabalho no mercado informal e o entorno abriga as formas mais aviltantes do trabalho informal e zonas de prostituição. Referente ao Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família, o CRAS Dodô da Portela que atende o Morro da Providência realiza entre 380 e 500 atendimentos de famílias por mês; em 2020 o número chegou a média de 1.000 pessoas/mês. Já o CREAS Simone de Beauvoir de referência da região atendeu 207 no mesmo período. Os Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua – e as equipes do Programa de Apoio e Inclusão à População de Rua (24 horas) atendem aproximadamente 410 pessoas/mês em situação de rua. Há na região um elevado número de pessoas que trabalham, dormem nas ruas ou vivem em ocupações, tendo precário ou nenhum acesso à água encanada e a itens para sua higienização. Com o projeto “Porto Maravilha”, a área vem passando por um processo de gentrificação.

O plano de intervenção propôs atuar sobre três frentes articuladas de ação: alimentação, atenção à saúde e qualidade ambiental. A estratégia é a ampliação do acesso a atividades, produtos, bens e espaços de promoção da saúde pela ação em rede envolvendo três organizações do Morro, coordenadas por mulheres, e parceiros institucionais e da rede de atenção básica à saúde. A agroecologia, o direito à cidade, à arte e à educação são os princípios que guiam as ações.

Resultados esperado e já parcialmente alcançados (projeto ainda em andamento):
1. Valorização do trabalho de pessoas negras e mulheres, incluindo pessoa quilombo urbano. Estímulo à autonomia, distribuindo as funções, responsabilidades e orçamento de forma equitativa para pessoas do projeto. Fortalecimento da economia local, contratando prestadoras/es de serviço e adquirindo produtos do comércio do entorno. Produção de conteúdos que gerem engajamento nas redes sociais acerca da saúde integral e agroecologia na favela.

2. Redução da insegurança alimentar. Diversificação das culturas alimentares. Fortalecimento de produtores agroecológicos da região metropolitana do Rio de Janeiro e de cadeias locais de distribuição e consumo. 240 famílias beneficiadas.

3. Disseminação de conhecimentos sobre o cultivo e uso de alimentos e plantas medicinais. Valorização de conhecimentos populares e tradicionais de cuidado em saúde. Participação de 50 mulheres moradoras. Desenvolvimento pessoal e fomento da autoestima das participantes através da expressão artística, com melhoria da saúde mental e fortalecimento de laços comunitários.

3. Criação de um ambiente de aprendizado positivo e inclusivo. Participação de 40 crianças moradoras de 6 a 16 anos nas aulas.

4. 500 famílias beneficiadas com acesso à sabão multiuso. Prevenção da poluição do solo e de 600 milhões de litros de água de corpos hídricos. Conscientização sobre a reciclagem e o aproveitamento de recursos.

6. Fortalecimento da rede básica de atenção à saúde. Fortalecimento ação da implementada pela Providência Agroecológica em parceria com mulheres do Morro participantes do Programa Guardiãs das Matas da Secr. de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro. Disseminação de informações sobre plantas medicinais.

7. Sistema, hortas e áreas de cultivo do espaço sede, Java e espaço Naturalê cuidadas. Produção de alimentos e insumos florestais. Aprimoramento de habilidades técnicas de agricultura.

Guardadas as especificidades territoriais, consideramos que é possível a replicação das ações para outros territórios, mas principalmente dentro da própria Providência, tendo em vista que este projeto não será capaz de atender a todas as áreas do Morro, e ainda há muito trabalho a ser feito no seu interior.
A coordenação e equipe estão disponíveis para realizar, gratuitamente, entrevistas, palestras, quando convidada.

Principal

Providência Agroecológica

providenciasocioambiental@gmail.com

Presidente

Coautores

Lorena Portela e Alessandra Roque

A prática foi aplicada em

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Cunha Barbosa, 87 - Gamboa, Rio de Janeiro - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Terceiro Setor

Foi cadastrada por

Lorena Portela Soares

Conta vinculada

28 mar 2025

CADASTRO

28 mar 2025

ATUALIZAÇÃO

15 ago 2024

inicio

Condição da prática

Andamento

Situação da Prática

Arquivos

TAGS

Práticas Relacionadas

agar.io