A partir da necessidade de qualificação do manejo das equipes de saúde a públicos com necessidades específicas, o Departamento de Atenção Básica e Gestão do Cuidado do município paulista de São Bernardo do Campo, elaborou oficinas de sensibilização e capacitação para as equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS), para diversas categorias profissionais, incluindo recepcionistas e profissionais da sala de vacina. O cuidado inclusivo à pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) surgiu ao iniciarmos a imunização contra o Covid-19 para este público (pessoas com deficiência), que quase sempre chegava agitado aos locais de vacinação, com familiares desconfortáveis com a situação e as equipes hesitantes quanto ao melhor manejo deste comportamento para a aplicação da vacina de forma segura. O objetivo destas oficinas foi, além da oferta teórica sobre as características da pessoa autista, incentivar uma abordagem humanizada, tanto para a pessoa como para seus familiares. Ao final de cada oficina, os profissionais puderam confeccionar sua própria “garrafinha sensorial da calma”, ferramenta facilitadora perante situações de ansiedade, agitação e estresse. De posse de sua garrafinha, orientamos que cada participante multiplicasse as orientações que vivenciaram nas oficinas aos demais colegas da unidade. A partir de uma experiência exitosa do uso da garrafinha com um menino autista de 12 anos, outras UBSs passaram a utilizar a ferramenta, proporcionando tranquilidade e maior confiança à equipe no manejo da situação e eficácia no procedimento de imunização. A partir de então, a elaboração de garrafinhas sensoriais da calma passou a fazer parte das ações desenvolvidas pelas UBSs no mês de abril, em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, com a participação tanto de profissionais como de munícipes que aguardam atendimentos na sala de espera.
Mediante a necessidade de qualificação das equipes para o melhor manejo a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não só no procedimento da imunização mas no acolhimento, escuta e resolução de suas demandas em qualquer setor da UBS, o Departamento de Atenção Básica planejou e realizou oficinas de sensibilização e capacitação aos profissionais envolvidos com cerca de 3 horas de duração, e média de 30 participantes por turma.
Aspectos desenvolvidos nas oficinas: características do autismo e suas variações dentro do espectro, importância do cuidado aos familiares, legislação vigente e maneiras de ofertar uma abordagem acolhedora. Realizamos rodas de conversa, trocas de experiências, apresentação de vídeos e também a confecção de uma ferramenta terapêutica denominada “Garrafinha Sensorial da Calma” (baseada na metodologia montessoriana). Esta ferramenta consiste em uma garrafa pet (300ml) com água, corante alimentício, glitter, lantejoulas e botões coloridos que, ao ser movimentada, desperta a atenção pela cor, brilho e deslocamento dos objetos na água, contribuindo para focar a atenção na garrafinha, atenuando a irritabilidade dos estímulos ao redor e diminuindo a ansiedade perante uma situação desconhecida ou estressante, como uma vacina pode ser para determinadas pessoas. Logo após a primeira oficina, soubemos de uma experiência interessante e exitosa com um menino de 12 anos, com TEA, que chegou com seu pai e sua mãe em uma UBS para ser vacinado contra o Covid-19. Ele estava agitado e a família insegura. Num primeiro momento, o manejo da equipe em acalmar o menino não surtiu resultado e o procedimento não pode ser realizado. A equipe chegou a ofertar a opção de contenção química, pois a contenção física não foi considerada como opção. Porém, os pais optaram por aguardar e retornar em outro momento. Na segunda tentativa, algumas semanas depois, a família retorna e o menino está novamente agitado e a família, desconfortável. No entanto, nesta segunda tentativa, uma profissional que havia participado da oficina de sensibilização, lembrou-se da garrafinha que ela havia feito e mostrou-a ao garoto. Rapidamente ele aceitou a oferta e começou a balançar a garrafinha em suas mãos, observando o movimento dos objetos e as cores, e com isso se acalmou, permanecendo sentado. A equipe conseguiu então aplicar a vacina de forma segura e tranquila, a família ficou satisfeita, e a criança protegida.
A pandemia do Covid-19 deixou marcas em todos nós trabalhadores da saúde e na população como um todo. A capacitação constante se faz necessária em todos os momentos de nosso percurso profissional, pois é preciso se adequar às demandas e desafios, com abordagens técnicas, mas também humanizadas, tendo um olhar empático tanto para os trabalhadores como para as especificidades dos munícipes e seus familiares. A estratégia do uso da garrafinha está sendo usada por outras UBSs do município de forma bastante satisfatória, com uma abordagem inclusiva, acolhedora e resolutiva, qualificando cada vez mais o cuidado e dando segurança e tranquilidade aos trabalhadores no dia a dia da rotina das unidades básicas de saúde
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