O Cecco, Centro de Convivência e Cooperativa, faz parte da RAPS do município desde 2010. Coordenadas por técnicas de nível superior, oficineira e voluntários as oficinas e atividades ofertadas pelo equipamento promovem o cuidado em liberdade, a autonomia, a inclusão social, o protagonismo, bem como a expressão dos afetos através da arte nas suas diversas formas, da educação, do lazer, da cultura, do esporte e da economia solidária. Compondo esse rol de atividades, a Assembleia, que acontece uma vez por mês no serviço, constitui-se num potente espaço de protagonismo, onde os usuários e seus familiares afirmam, democraticamente, sua participação na dinâmica do equipamento, expressando desejos, percepções, reivindicando necessidades. A Assembleia também tem se mostrado um espaço que fomenta a convivência e a integração, fortalecendo os vínculos entre usuários e destes com o serviço.

No contexto da Assembleia, um espaço para o exercício da democracia e de encontros, os usuários do Cecco solicitaram a criação de uma oficina terapêutica que explorasse a leitura/literatura como linguagem para expressar os afetos. Diante de tal solicitação, passou-se a estruturar a oficina terapêutica Letra Livre, concebida como um espaço de leitura, escrita e expressão afetiva com o objetivo geral de atender à solicitação dos usuários do serviço reafirmando o equipamento como um espaço promotor da autonomia, da inclusão social, do protagonismo a partir da participação democrática dos usuários. Os seguintes objetivos específicos foram definidos: ofertar espaço seguro para a expressão dos afetos, favorecer o encontro/reencontro consigo mesmo e com o outro, estimular a expressão pessoal, promover a exploração da criatividade, favorecer a flexibilidade cognitiva e estimular funções cognitivas.
Estruturada de forma heterogênea (publico diverso, como idosos, pessoas com transtorno mental, com déficit cognitivo, alfabetizadas ou não), de modo a acolher qualquer pessoa que manifeste o desejo de envolver-se com as atividades propostas, o ingresso na oficina terapêutica se dá a partir do interesse do próprio usuário, mediante a disponibilidade de vaga; não havendo disponibilidade imediata, o usuário é inserido em lista de espera.
A prática conta com a facilitação de uma das psicólogas integrantes da equipe técnica do serviço que ao longo de 12 encontros semanais, favorece aos participantes a manipulação e o dialogo com crônicas, contos, poemas, letras de músicas de diversos autores que abordam temas relevantes na atualidade (racismo, preconceito, violência, saúde mental, estigmas associados aos transtornos mentais, autopercepção, autoestima, história de vida, entre outros) propostos pelos próprios participantes. A partir do contato com os textos, os participantes têm a oportunidade de elaborar os afetos e as percepções mobilizadas através da verbalização, da escrita e outras formas de expressão afetiva, como desenho, pintura ou colagem.

A Oficina Letra Livre vem se consolidando como um dispositivo de cuidado seguro e gentil, promovendo encontros e reencontros; é um espaço de descobertas e redescobertas onde, a partir de uma relação horizontal, se tece uma delicada trama de afetos tendo a leitura e a escrita como elementos facilitadores desse processo expressivo, expansivo e criativo. Através do contato com cada texto, são revelados espaços, tempos e lugares constituintes da história e identidade de cada sujeito, que revelam a singularidade de cada um no contexto coletivo da oficina terapêutica. Ao final de cada encontro, surgem relatos e produções carregadas de afetos que afirmam e reafirmam a trajetória, a identidade singular de cada participante.
A partir da troca de saberes, dentro de uma relação horizontal e colaborativa, facilitadora e usuários vão construindo um lugar de cuidado, respondendo a demanda surgida em Assembleia, um espaço democrático para participação social; o acolhimento de tal demanda fortalece a vinculação dos usuários com o serviço e reafirma o Cecco como um espaço de cuidado em liberdade, promotor da autonomia, da inclusão social, do protagonismo, conforme preconiza a Lei 10.216, no âmbito do SUS.

O aspecto dinâmico da vida, bem como a diversidade da existência e condição humana convida os sujeitos, diariamente, ao aprimoramento da capacidade de escuta, a escuta genuína de si mesmo e do outro; compreende-se que, no contexto da Saúde Mental, a partir da escuta é possível dar visibilidade aos desejos, angustias e necessidades daqueles que levam suas vozes aos espaços democráticos, muitas vezes arduamente conquistados, para reivindicar direitos, comunicar necessidades e também expressar os afetos que os atravessam em suas existências. A partir da escuta surge a possibilidade de explorar formas de cuidado que dialoguem com os usuários do serviço em sua singularidade e favoreçam a experimentação de novas experiências de vida. Importa promover a manutenção dos espaços onde os usuários dos serviços de Saúde Mental possam manifestar suas necessidades, reivindicar direitos, exercer a sua autonomia e protagonismo de forma integral.

Principal

JOELMA ELENICE ALVES DE JESUS

joelma.alves.psi@gmail.com

Psicólogo em Saúde

Coautores

Joelma Elenice Alves de Jesus

A prática foi aplicada em

Mogi das Cruzes

São Paulo

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Francisco Franco, 291 - Centro, Mogi das Cruzes - SP, Brasil

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JOELMA ELENICE ALVES DE JESUS

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