A clínica ambulatorial de telemonitoramento e as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) foram desenvolvidas com base em um mapeamento das condições de saúde da população negra na Bahia, combinado com uma revisão extensa da literatura para identificar as PICS mais adequadas para implementação no contexto terapêutico proposto. Este processo também envolveu a seleção dos facilitadores e a definição de suas competências para oferecer as PICS de forma eficaz.
Lançada em março de 2025, a iniciativa tem como objetivo promover o autocuidado, o autogerenciamento da saúde e a revitalização de práticas ancestrais e tradicionais, utilizando PICS para apoiar o manejo de condições crônicas. Participantes de todas as idades, gêneros, orientações sexuais, raças e etnias, independentemente de sua filiação a movimentos sociais ou coletivos, foram convidados a participar por meio de divulgação nas redes sociais e cadastrados via formulário online.
Os serviços são oferecidos semanalmente, gratuitamente, e projetados para serem inclusivos, combinando componentes presenciais e de telemonitoramento. Isso inclui o uso de diversas ferramentas, entre elas questionários eletrônicos para avaliar o perfil dos participantes e características clínicas, como qualidade de vida, sono, níveis de dor, estresse, ansiedade e depressão. Essas ferramentas também contribuem para mapear a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), bem como as condições de vida e o estado funcional de saúde dos pacientes.
As PICS oferecidas na clínica ambulatorial incluíram: Yoga e Meditação, que auxiliam no manejo do estresse, melhoram a qualidade do sono e reduzem a inflamação, impactando positivamente o bem-estar geral; Medicina Antroposófica, que promove uma abordagem integrativa considerando o equilíbrio entre corpo, mente e espírito; Reiki e Terapia Manual, que ajudam a aliviar dores crônicas, reduzir ansiedade e melhorar a circulação; e Reflexologia, que estimula pontos de energia nos pés e mãos, aliviando sintomas e contribuindo para o equilíbrio global do corpo.
A clínica ambulatorial aborda a alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) entre a população negra, particularmente em Salvador, Bahia, onde este grupo enfrenta significativa vulnerabilidade social. Essas condições crônicas impactam severamente a qualidade de vida e estão intimamente relacionadas a determinantes sociais, emocionais, econômicos e ambientais. Soma-se a isso a persistência do modelo biomédico tradicional em muitos serviços de saúde, que muitas vezes não considera a natureza holística dos indivíduos em seu percurso de cuidado. Nesse contexto, há uma necessidade urgente de ampliar o acesso a práticas terapêuticas integrativas, como as PICS, como alternativas eficazes para prevenção, alívio de sintomas e manejo das DCNT, promovendo o bem-estar físico, mental e emocional da população. Outra questão crítica é a falta de equidade no acesso à saúde. Nesse sentido, iniciativas como esta clínica ambulatorial desempenham papel fundamental ao garantir o direito à saúde, oferecendo atendimento gratuito, inclusivo e de qualidade, especialmente a populações historicamente desfavorecidas.
A clínica ambulatorial representa uma intervenção social estratégica, oferecendo cuidado multidisciplinar, acessível, integrativo e inclusivo. Um impacto significativo desta iniciativa é a implementação do telemonitoramento semanal, viabilizado pelo fato de todos os participantes terem acesso a tecnologias digitais básicas em casa, permitindo suporte contínuo ao acompanhamento das práticas de autocuidado e autogerenciamento de saúde incorporadas à rotina diária. Outro impacto relevante é a produção acadêmica e científica, incluindo artigos revisados por pares e materiais educativos, alinhados à missão da universidade de fornecer cuidado à comunidade e gerar conhecimento cientificamente fundamentado, apoiando decisões clínicas baseadas em evidências e contribuindo para a formulação e aprimoramento de políticas públicas inclusivas.
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são abordagens terapêuticas que utilizam técnicas tradicionais, antigas e ancestrais como estratégias para promover saúde e bem-estar, sendo também aplicadas na prevenção de doenças. As PICS foram incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICS), estabelecida em 2006 pelo Ministério da Saúde. Essa política visa expandir e fortalecer abordagens terapêuticas que complementem tratamentos convencionais, permitindo uma visão abrangente da saúde individual e promovendo práticas fundamentadas tanto no conhecimento tradicional quanto científico, desafiando o modelo biomédico convencional. A PNPICS reconhece 29 modalidades de PICS, incluindo Yoga, Meditação, Antroposofia, Ayurveda, Reiki, Terapia Manual e Reflexologia.
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são condições de longa duração com progressão lenta, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, obesidade, câncer, síndrome metabólica, osteoartrite e doenças respiratórias como doença pulmonar obstrutiva crônica. Além disso, fibromialgia e lúpus eritematoso sistêmico, especialmente prevalentes na população negra, também são classificadas como condições crônicas. Essas doenças podem impactar significativamente a qualidade de vida do indivíduo e são fortemente influenciadas por fatores sociais, emocionais, econômicos e ambientais.
A clínica ambulatorial proposta, iniciativa do Grupo de Pesquisa em Saúde da População Negra e Doenças Crônicas, está sendo implementada na Universidade Federal da Bahia.
The Outpatient telemonitoring clinic and the Integrative and complementary health practices (PICS) were developed based on a mapping of health conditions of the Black population in Bahia, combined with an extensive literature review to identify the most suitable PICS for implementation in the proposed therapeutic setting. This process also involved selection of the facilitators and the definition of their competencies to deliver PICS effectively.
Launched in March 2025, this initiative aims to promote self-care, health self-management, and the revitalization of ancestral and traditional practices, using PICS to support the management of chronic conditions (Brazil, 2015). Participants of all ages, genders, sexual orientations, races, and ethnic backgrounds, regardless of their affiliation with social movements or collectives, were invited to participate through outreach on social media and recruited via an online registration form.
The services are provided weekly. They are free of charge, and designed to be inclusive, combining both in-person and telemonitoring components. This includes the use of many tools, among others the electronic questionnaires to assess participant’s profiles and clinical characteristics such as, the quality of life and sleep, the levels of pain, stress, anxiety, and depression. These tools also contribute to mapping the prevalence of the chronic noncommunicable diseases (NCDs), as well as the participants’ living conditions and the functional health status of the same patients.
The PICS offered at the outpatient monitoring clinic included: Yoga and Meditation, which support stress management, improve sleep quality, and reduce inflammation, positively impacting overall well-being (Barros et al., 2014); Anthroposophic Medicine, which fosters an integrative approach by considering the balance between body, mind, and spirit (Dos Santos & Paineiras-Domingos, 2024); Reiki and Manual Therapy, which help relieve chronic pain, reduce anxiety, and improve circulation (Freitag et al., 2014); and Reflexology, which stimulates energy points on the feet and hands, alleviating symptoms and contributing to the overall balance of the body (Dacal & Silva, 2018).
The outpatient clinic addresses the high prevalence of chronic noncommunicable diseases (NCDs) among the Black population, particularly in Salvador, Bahia, where this group faces significant social vulnerability. These chronic conditions severely impact quality of life and are closely linked to social, emotional, economic, and environmental determinants (Pasquetti et al., 2021). Compounding this issue is the persistence of the traditional biomedical model in many healthcare settings, which often fails to consider the holistic nature of individuals in their healthcare pathway. In this context, there is a pressing need to broaden access to integrative therapeutic practices, such as Integrative and complementary health practices (PICS), as effective alternatives for the prevention, symptom relief, and management of NCDs. These practices support the physical, mental, and emotional well-being of the population. Another critical issue is the lack of equity in healthcare access. In response, initiatives like this outpatient clinic play a key role in upholding the right to health by offering free, inclusive, and high-quality care, particularly to historically underserved populations.
The outpatient clinic represents a strategic social intervention, providing multidisciplinary, accessible, integrative and inclusive care. One major impact of this initiative is the implementation of weekly telemonitoring, made possible by the fact that all participants have access to basic digital technologies at home. This enables continuous support for the monitoring of self-care and health self-management practices sustained in participants’ daily routines. Another major impact is the generation of academic and scientific output, including peer-reviewed articles and educational materials, aligned with the university’s dual mission to both provide care to the community and produce scientifically grounded knowledge, to support evidence-based clinical decision-making and to contribute to the formulation and improvement of inclusive public health policies.
Integrative and Complementary Health Practices (PICS) are therapeutic approaches that use traditional, ancient, and ancestral techniques as strategies to promote health and well-being. Consequently, they are also used in disease prevention. PICS were incorporated into Brazil's Unified Health System (SUS) through the National Policy for Integrative and Complementary Health Practices (PNPICS), established in 2006 by the Ministry of Health. This policy aims to expand and strengthen therapeutic approaches that complement conventional treatments, allowing for a comprehensive view of individual health and promoting practices grounded in both traditional and scientific knowledge, thereby challenging the conventional biomedical model. The PNPICS recognizes 29 modalities of PICS, including Yoga, Meditation, Anthroposophy, Ayurveda, Reiki, Manual Therapy, and Reflexology. Chronic Noncommunicable Diseases (NCDs) are long-term conditions with a slow progression, such as systemic arterial hypertension, diabetes mellitus, obesity, cancer, metabolic syndrome, osteoarthritis, and respiratory diseases like chronic obstructive pulmonary disease. Additionally, fibromyalgia and systemic lupus erythematosus, which are especially prevalent in the Black population, are also classified as chronic conditions. These diseases can significantly impact an individual's quality of life and are strongly influenced by many factors, such as social, emotional, economic, and environmental factors. The proposed outpatient clinic, an initiative of the Health of the Black Population and Chronic Diseases Research Group, is being implemented at the Federal University of Bahia.
