As Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI) desempenham um papel relevante na promoção da saúde mental ao oferecer abordagens de cuidado que auxiliam no alívio do sofrimento psíquico e na melhora do bem-estar geral. Essas práticas atuam como recursos complementares aos tratamentos convencionais em saúde mental, contribuindo para a redução do estresse, da ansiedade, da depressão e de sintomas relacionados.
No Brasil, a Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006, instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares). Essa política tem como objetivo ampliar as abordagens de cuidado em saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo integralidade e humanização nos serviços de saúde (Brasil, 2015).
O Projeto Saúde e Bem-Estar surgiu em resposta às crescentes demandas e pressões enfrentadas pelos profissionais de saúde no Brasil. Seu objetivo principal é capacitar as equipes da Estratégia Saúde da Família e equipes multiprofissionais na promoção da saúde mental por meio das MTCI, fortalecendo o papel dos profissionais de saúde como agentes transformadores em suas comunidades.
O projeto foi desenvolvido por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde, o Instituto Aggeu Magalhães (IAM) e a Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco (Fiocruz/PE), sendo implementado no estado do Acre pela Secretaria Estadual de Saúde, através do Núcleo de Práticas Integrativas e da Escola Técnica de Saúde Maria Moreira da Rocha.
Destinado a municípios com menos de 70 mil habitantes, o projeto foi realizado nos seguintes municípios: Acrelândia, Assis Brasil, Bujari, Brasiléia, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio Lima, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa, Sena Madureira, Senador Guiomard, Tarauacá e Xapuri. Envolveu a colaboração de 10 tutores locais, 1 coordenador de território, 1 coordenador pedagógico e a referência técnica em MTCI da Secretaria Estadual de Saúde.
Utilizando a metodologia da problematização e o Arco de Maguerez, os participantes foram incentivados a observar seus territórios e identificar ocorrências que pudessem ser enfrentadas por meio de intervenção, considerando o contexto e as realidades locais. O Arco de Maguerez é uma ferramenta pedagógica voltada a estimular o pensamento crítico e a aprendizagem por meio da análise de problemas e do desenvolvimento de soluções. Ele é composto por cinco etapas: Observação da Realidade, Identificação dos Pontos-Chave, Teorização, Formulação de Hipóteses e Aplicação à Realidade.
Os estudantes foram orientados a elaborar um projeto de intervenção direcionado a uma população específica e utilizando uma prática integrativa adequada ao enfrentamento da questão identificada.
Foram capacitados 154 profissionais das equipes de Saúde da Família e equipes multiprofissionais. As categorias profissionais incluíram enfermeiros, agentes comunitários de saúde, psicólogos, fisioterapeutas e profissionais de educação física.
Após as etapas de diagnóstico e planejamento, foram desenvolvidos 43 projetos de intervenção no estado do Acre, todos utilizando técnicas de MTCI, como massagem e automassagem, meditação, auriculoterapia, musicoterapia, dança, práticas corporais, arteterapia e aromaterapia.
As práticas foram aplicadas a diferentes grupos, incluindo mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), idosos, grupos de mulheres e as próprias equipes de saúde. Exemplos de projetos apresentados incluem:
• PRO-MEDITAR: Prática Integrativa e Complementar de Meditação para Promoção da Saúde Mental na Atenção Primária em Acrelândia;
• Equilíbrio e Bem-Estar: Práticas integrativas para a saúde mental de idosos;
• Encontros de Cura: Terapia comunitária para idosos;
• O Som que Não Ouço: Musicoterapia como ferramenta de autorrecuperação;
• SerenaMENTE: Promovendo uma mente serena e tranquila;
• Juventude e Adolescentes diante do uso de drogas e ansiedade: Uso da musicoterapia e de atividades coletivas.
Um dos principais desafios enfrentados durante a implementação do projeto envolveu municípios de difícil acesso, como Santa Rosa, Jordão, Marechal Thaumaturgo e Porto Walter. Nesses locais, a formação foi realizada totalmente online devido às limitações geográficas, já que o acesso só é possível por via aérea (aviões monomotores). Apesar desses desafios, todas as atividades formativas foram concluídas com êxito.
Antes da implementação do Projeto Saúde e Bem-Estar, as práticas de MTCI eram relatadas em apenas 8 municípios do estado do Acre. Após o projeto, esse número aumentou para 21 municípios — alcançando 90% do território do estado.
Os profissionais de saúde participantes manifestaram interesse em formações mais especializadas para apoiar uma atenção mais integral. Segundo a assistente social Gleiciane Cardoso, do município de Porto Acre, as práticas implementadas nas intervenções promoveram dignidade e restauraram a autoestima dos participantes.
O Projeto Saúde e Bem-Estar apresentou novas possibilidades de cuidado e autocuidado às equipes da Estratégia Saúde da Família e equipes multiprofissionais, introduzindo as MTCI como ferramentas de empoderamento para a oferta de um cuidado humanizado e acolhedor em saúde mental. Essas práticas foram aplicadas tanto no cuidado preventivo quanto no tratamento de pessoas já afetadas por condições de saúde mental.
As técnicas de MTCI podem ser incorporadas aos serviços de rotina, fortalecendo e qualificando as atividades coletivas já realizadas pelas equipes de saúde.
A capacitação dos profissionais da atenção primária em técnicas de MTCI surgiu como uma forte demanda durante a implementação do projeto, sinalizando a necessidade de investimentos contínuos nessa área. Os próprios profissionais identificaram interesse em formações para métodos adequados a grupos, como dança circular, terapia comunitária integrativa, auriculoterapia, aromaterapia e práticas corporais baseadas na medicina chinesa.
Essa demanda foi formalmente apresentada à Secretaria Estadual de Saúde e está prevista para ser priorizada como parte da estratégia de educação permanente dos profissionais de saúde em 2026.
Traditional, Complementary, and Integrative Medicines (MTCIM) play a relevant role in promoting mental health by offering care approaches that help relieve psychological distress and improve overall well-being. These practices serve as complementary resources to conventional mental health treatments, contributing to the reduction of stress, anxiety, depression, and related symptoms.
In Brazil, Ordinance GM/MS No. 971, dated May 3, 2006, established the National Policy on Integrative and Complementary Practices (PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares). This policy aims to broaden healthcare approaches within the Unified Health System (SUS – Sistema Único de Saúde), promoting integrality and humanization in healthcare services (Brazil, 2015).
The Health and Well-Being Project emerged in response to the growing demands and pressures faced by healthcare professionals in Brazil. Its primary objective is to train Family Health Strategy teams and multiprofessional teams in promoting mental health through MTCIM, enhancing the role of health professionals as transformative agents in their communities.
The project was developed through a partnership between the Brazilian Ministry of Health, the Ageu Magalhães Research Institute (IAM), and the Oswaldo Cruz Foundation of Pernambuco (Fiocruz/PE), and implemented in the state of Acre by the State Health Department through the Center for Integrative Practices and the Maria Moreira da Rocha Technical School of Health.
Designed for municipalities with fewer than 70,000 inhabitants, the project was carried out in the following municipalities: Acrelândia, Assis Brasil, Bujari, Brasiléia, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio Lima, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa, Sena Madureira, Senador Guiomard, Tarauacá, and Xapuri. It involved the collaboration of 10 local tutors, 1 territory coordinator, 1 pedagogical coordinator, and the MTCIM technical reference from the State Health Department.
Using a problem-based methodology and the Maguerez Arch, participants were encouraged to observe their territories and identify occurrences that could be addressed through intervention, considering the local context and realities. The Maguerez Arch is a pedagogical tool designed to foster critical thinking and learning through problem analysis and solution development. It consists of five stages: Observation of Reality, Identification of Key Points, Theorization, Hypothesis Formulation, and Application to Reality.
Students were guided to design an intervention project targeting a specific population and employing an integrative practice suitable for addressing the identified issue.
A total of 154 professionals from Family Health teams and multiprofessional teams were trained. The professional categories included nurses, community health agents, psychologists, physiotherapists, and physical education professionals.
Following the diagnostic and planning stages, 43 intervention projects were developed in the state of Acre, all employing MTCIM techniques, such as massage and self-massage, meditation, auriculotherapy, music therapy, dance, body practices, art therapy, and aromatherapy.
The practices were applied to a variety of groups, including mothers of children with Autism Spectrum Disorder (ASD), elderly individuals, women's groups, and the health teams themselves. Examples of presented projects include:
• PRO-MEDITAR: Integrative and Complementary Meditation Practice for Promoting Mental Health in Primary Care in Acrelândia;
• Balance and Well-being: Integrative practices for the mental health of older adults;
• Healing Encounters: Community therapy for the elderly;
• The Sound I Do Not Hear: Music therapy as a tool for self-recovery;
• SerenaMENTE: Promoting a serene and peaceful mind;
• Youth and Adolescents Facing Drug Abuse and Anxiety: Use of music therapy and collective activities.
One of the main challenges faced during the implementation of the project involved municipalities with difficult access, such as Santa Rosa, Jordão, Marechal Thaumaturgo, and Porto Walter. In these locations, training was conducted entirely online due to geographical constraints, as access is only possible by air (single-engine aircraft). Despite these challenges, all training activities were successfully completed.
Before the implementation of the Health and Well-Being Project, MTCIM practices were reported in only 8 municipalities in the state of Acre. After the project, this number increased to 21 municipalities—reaching 90% of the state's territory.
Health professionals who participated expressed interest in further specialized training to support more comprehensive care delivery. According to social worker Gleiciane Cardoso, from the municipality of Porto Acre, the practices implemented in the interventions promoted dignity and restored participants’ self-esteem.
The Health and Well-Being Project presented new possibilities for care and self-care to Family Health Strategy teams and multiprofessional teams, introducing MTCIM as empowering tools for delivering humane and welcoming mental health care. These practices were applied both in preventive care and in the treatment of individuals already affected by mental health conditions.
MTCIM techniques can be incorporated into routine services, strengthening and enhancing the group-based activities already carried out by healthcare teams.
The qualification of primary healthcare professionals in MTCIM techniques emerged as a strong demand during the project’s implementation, signaling the need for continued investment in this area. Professionals themselves identified interest in training for group-appropriate methods such as circular dance, integrative community therapy, auriculotherapy, aromatherapy, and Chinese medicine-based body practices.
This demand has been formally submitted to the State Health Department and is set to be prioritized as part of the continuing education strategy for healthcare professionals in 2026.
