A consolidação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC), em 2006, impulsionou a inserção de abordagens holísticas no Sistema Único de Saúde (SUS), como demonstrado na experiência do município de Benedito Novo (SC). Com 10.520 habitantes, a cidade passou a adotar gradualmente as práticas integrativas e complementares (PICs), refletindo um compromisso com a integralidade do cuidado e a ampliação do sistema de saúde, em contraponto ao predomínio do modelo biomédico.
O Yoga, tradição originária da Índia, atua nos níveis físico, mental, emocional, energético e espiritual, favorecendo a integração do ser. O Hatha Yoga, uma de suas vertentes, fortalece corpo e mente por meio da prática de posturas (āsanas), técnicas respiratórias (prāṇāyāmas), concentração e relaxamento. Entre seus benefícios estão a redução do estresse, a regulação dos sistemas nervoso e respiratório, a estabilização do sono, o aumento da vitalidade psicofísica, o equilíbrio hormonal, o fortalecimento da imunidade, a melhora da concentração e da criatividade e a reeducação mental — fatores que impactam positivamente o humor e a qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a incorporação do Yoga nos sistemas nacionais de saúde.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC), por sua vez, é um sistema milenar baseado na teoria do Yin–Yang e na busca pela harmonização das polaridades, atuando na integração funcional do organismo (Brasil, 2006).
Esta experiência teve como objetivo promover o autocuidado entre os usuários do SUS por meio da introdução sistemática do Yoga, Acupuntura, Auriculoterapia, Reiki e Aromaterapia. Entre as metas, destacam-se o fortalecimento do vínculo usuário–profissional, o incentivo à corresponsabilidade e a redução da medicalização excessiva.
A implementação das PICs em Benedito Novo iniciou-se em 2016, com a oferta de Yoga em grupos de atenção primária, ampliando-se a partir de 2017 para incluir auriculoterapia, acupuntura, Reiki e aromaterapia, conforme a formação dos profissionais e a demanda comunitária. As atividades ocorreram em espaços comunitários e nas unidades de saúde, seguindo protocolos específicos: sessões semanais de Yoga de 60 minutos; atendimentos individuais de acupuntura e auriculoterapia com avaliação prévia; sessões de Reiki; e uso de óleos essenciais e arteterapia em oficinas, sempre conduzidas por profissionais capacitados.
A iniciativa envolveu enfermeiros da atenção primária capacitados em PICs e usuários do SUS com condições crônicas ou sofrimento psíquico leve a moderado. A gestão municipal forneceu infraestrutura e autorização institucional. Todas as práticas foram voluntárias e éticas, respeitando os princípios do SUS de beneficência, autonomia e não maleficência, com registro das atividades.
Os principais desafios incluíram a ausência de diretrizes operacionais locais, a escassez de profissionais especializados, a dificuldade de aceitação por parte de setores da equipe de saúde, sobretudo médicos mais vinculados ao modelo farmacológico, além da descontinuidade provocada por rotatividade de profissionais e iniciativas individuais. A sustentabilidade financeira foi outro obstáculo, diante da ausência de financiamento específico, da dependência de trabalho voluntário e da dificuldade de aquisição de insumos.
Apesar dos desafios, a implantação das PICs gerou melhorias subjetivas em saúde: redução de dores crônicas, diminuição de ansiedade e depressão, melhora do sono e aumento da vitalidade. Houve fortalecimento do vínculo entre usuários e profissionais, além do uso das práticas como ferramentas educativas para a autonomia e ressignificação do cuidado. Registros internos indicaram queda nas consultas por queixas inespecíficas e redução no uso de ansiolíticos e analgésicos. Depoimentos coletivos apontaram melhora na autoestima, no bem-estar e na capacidade de enfrentamento de condições crônicas. Assim, os objetivos de promover o autocuidado, reforçar a relação usuário–profissional e integrar as PICs à atenção primária foram amplamente alcançados.
Em países de alta renda, onde predomina o modelo biomédico, observa-se o crescimento gradual das práticas integrativas, acompanhado de crescente produção científica. Esse avanço é impulsionado pela demanda social, pela valorização das medicinas tradicionais e pela crítica ao modelo biomédico impessoal, invasivo e iatrogênico (Tesser; Sousa; Nascimento, 2018).
Há consenso de que a Atenção Primária é o espaço mais adequado para a inserção das PICs, pois: 1) estimula o potencial de autocura e 2) promove a participação ativa dos usuários nos processos de cuidado, com maior sensibilidade às dimensões culturais e sociais (OMS, 2002).
Para uma implementação efetiva, recomenda-se a incorporação das PICs nas políticas municipais, a formação continuada dos profissionais, a criação de centros técnicos financiados e a realização de avaliações de impacto com métodos mistos. É igualmente importante fomentar redes de apoio regionais, replicar o modelo em outros municípios e desenvolver estudos longitudinais sobre os efeitos das PICs no SUS. Essa experiência evidencia a relevância das práticas integrativas como ferramentas de cuidado integral, valorizando saberes populares, fortalecendo o protagonismo dos indivíduos e contribuindo para a redefinição do cuidado em saúde no Brasil.
The consolidation of Brazil’s National Policy on Integrative and Complementary Practices (PNPIC) in 2006 catalyzed the integration of holistic approaches into the Unified Health System (SUS), as demonstrated in the municipality of Benedito Novo – SC. With 10,520 inhabitants, the city gradually adopted integrative and complementary practices (PICs), reflecting a commitment to expanded care and health system comprehensiveness as a counterpoint to biomedical dominance.
Yoga, originating from the Indian tradition, engages practitioners at physical, mental, emotional, energetic, and spiritual levels, aiming toward holistic self-integration. Hatha Yoga—one of its branches—strengthens both body and mind through the practice of postures (āsanas), breathing techniques (prāṇāyāmas), concentration, and relaxation. Its benefits include stress reduction, regulation of the nervous and respiratory systems, sleep stabilization, enhancement of psychophysical vitality, hormonal balance, immune system strengthening, improved concentration and creativity, and mental re-education—all positively impacting mood and quality of life. The World Health Organization (WHO) recommends Yoga for integration into national health systems.
Traditional Chinese Medicine (TCM), an ancient medical system, emphasizes harmonious interrelationships among the body’s components. It is grounded in the Yin–Yang theory, which categorizes the world into two complementary yet opposing principles, aiming to harmonize this duality (Brasil, 2006).
This experience aimed to promote self-care among SUS users through the systematic introduction of Yoga, Acupuncture, Auriculotherapy, Reiki, and Aromatherapy. The goals included strengthening user–professional bonds, enhancing shared responsibility, and reducing excessive medicalization.
The implementation of PICs in Benedito Novo began in 2016 with Yoga offered in primary care groups, expanding to include auriculotherapy, acupuncture, Reiki, and aromatherapy from 2017 to the present, guided by both professional training and community demand. Activities took place in community and health center settings, following specific protocols: weekly 60-minute Yoga sessions; individual acupuncture and auriculotherapy consultations with prior assessments; Reiki sessions; and essential-oil use and art therapy in workshop settings—each conducted by trained professionals.
The initiative involved primary care nurses trained in PICs and SUS users experiencing chronic conditions or mild-to-moderate psychological distress. Municipal administration provided infrastructure and institutional approval. All practices were voluntary and conducted ethically, adhering to the SUS principles of beneficence, autonomy, and non-maleficence, with activities recorded internally.
Key challenges included the absence of clear local operational guidelines and insufficient specialized human resources. Traditional professional training hindered PIC acceptance, causing discontinuities and limited reach due to staff turnover and reliance on individual initiatives. Resistance from some healthcare professionals—particularly physicians favoring purely pharmaceutical interventions—was observed. Financial sustainability presented a barrier, with no earmarked funding, reliance on volunteer labor, and difficulties sourcing supplies.
Despite these challenges, PIC implementation led to subjective health improvements: decreased chronic pain, reduced anxiety and depression, improved sleep, and enhanced vitality. Strengthened bonds between professionals and users were observed, and the practices functioned as educational tools promoting autonomy and redefined care perspectives. Internal records noted fewer consultations for non-specific complaints and reduced use of anxiolytics and analgesics. Group testimonials indicated boosted self-esteem, well-being, and coping ability for chronic conditions. The objectives of promoting self-care, reinforcing user–professional connection, and integrating PICs into primary care were largely fulfilled.
In high-income countries where biomedical models predominate, integrative practices are gradually increasing, paralleled by growing scientific research. This scientific and institutional surge is driven by mass public demand, attributable to several factors: accessibility, dissatisfaction with impersonal, invasive, and iatrogenic biomedicine, appreciation for traditional medicines, and cultural movements advocating their validation (Tesser; Sousa; Nascimento, 2018).
There is global consensus that Primary Health Care is the most appropriate setting for PICs, owing to several factors: 1) stimulation of self-healing potential, and 2) active patient participation in healing processes, enhanced by practitioner sensitivity to cultural and social contexts (WHO, 2002).
The effective implementation of PICs requires institutional embedding in municipal policy frameworks, ongoing professional training, establishment of funded technical centers, and mixed-method impact evaluations. It is advisable to replicate the model elsewhere, build regional support networks, and conduct longitudinal studies assessing PICs’ impacts within SUS. This experience underscores the relevance of PICs as integral care tools, validating popular knowledge and individual agency and contributing to redefining healthcare practices in SUS.