As doenças relacionadas ao estilo de vida não apenas impactam a qualidade de vida (QV) dos indivíduos, mas também representam 71% das mortes globais e 54,7% das mortes no Brasil, impondo desafios significativos aos sistemas de saúde. A Ayurveda, um sistema tradicional indiano de medicina, é considerada uma medicina do estilo de vida que visa manter a saúde ideal por meio da adoção de rotinas de autocuidado. O presente estudo teve como objetivo desenvolver um método para aplicação das práticas diárias ayurvédicas no Sistema Único de Saúde (SUS) e avaliar o papel dessas práticas na melhoria da QV de profissionais de saúde da Estratégia de Saúde da Família de Paty do Alferes/RJ, Brasil, durante a pandemia da COVID-19. Os participantes foram recrutados por meio de busca ativa, envolvendo visitas presenciais às unidades de saúde. Os profissionais selecionados receberam orientação por meio de atividades educativas teóricas e práticas, denominadas “Vivendo Ayurveda”. A orientação foi ministrada em módulos totalizando 20 horas, baseados e adaptados do conceito de Trayopastambha, com foco em quatro áreas-chave: Nutrição, Sono, Relaxamento Mental e Movimento Físico. A qualidade de vida foi avaliada utilizando o WHOQOL-BREF, um questionário validado de QV disponibilizado pela Organização Mundial da Saúde, autoadministrado antes e depois da intervenção. Os resultados foram analisados estatisticamente no terceiro mês. O método desenvolvido seguiu uma abordagem centrada na pessoa, colocando o indivíduo no centro de seu cuidado e apoiando-o na tomada de decisões. Todos os tópicos foram estruturados e implementados de acordo com o seguinte formato: Âncora (uma prática para conectar com a intenção e trazer foco para o momento presente), Discussão (exploração teórica do tema utilizando conceitos ayurvédicos) e Desafio (práticas e/ou atividades sugeridas para implementar os conceitos ayurvédicos no cotidiano).
O estudo foi desenvolvido em resposta à alta prevalência de doenças relacionadas ao estilo de vida e seus efeitos no bem-estar físico e mental dos profissionais de saúde, que foram ainda mais exacerbados durante a pandemia da COVID-19. Também abordou a falta de estratégias não farmacológicas estruturadas, acessíveis e culturalmente adaptadas para promoção da saúde no sistema público de saúde brasileiro, bem como a subutilização de sistemas tradicionais de conhecimento, como a Ayurveda, nesse contexto.
Um total de 30 profissionais de saúde participou do estudo, que ocorreu de julho a outubro de 2021, ao longo de um período de três meses. O material utilizado na intervenção deu origem a um guia prático intitulado “AYURVEDA: Observe, Experimente & Transforme – Um Guia Prático para Manter a Boa Saúde”, elaborado para facilitar a introdução de práticas diárias ayurvédicas no sistema de saúde, considerando as especificidades regionais. O conteúdo foi destinado tanto a profissionais de saúde quanto ao público em geral, com o objetivo de promover a saúde holística. Os dados do questionário WHOQOL-BREF mostraram melhorias na percepção da QV nos domínios físico, psicológico e ambiental (p > 0,05), enquanto o domínio social não apresentou resultados estatisticamente significativos. O domínio físico, que inclui aspectos como energia/fadiga, sono/repouso e mobilidade — elementos diretamente abordados pela intervenção — mostrou o maior aumento na pontuação média total de QV: de 61,07 (±18,26) antes para 72,02 (±13,39) após a intervenção.
Os achados destacam o potencial das práticas diárias ayurvédicas para promover a saúde e melhorar a qualidade de vida de forma viável, não farmacológica e de baixo custo. No entanto, ampliar a aplicação dessa abordagem nos sistemas públicos de saúde apresenta alguns desafios importantes. Isso inclui a manutenção do engajamento a longo prazo com as práticas, incorporando-as de forma eficaz às rotinas dos serviços de saúde. Mais pesquisas com populações mais amplas e períodos de acompanhamento prolongados são essenciais para fortalecer a base de evidências e orientar o desenvolvimento de políticas públicas que apoiem a integração do conhecimento tradicional às estratégias contemporâneas de saúde.
Lifestyle-related diseases not only impact individuals’ quality of life (QoL), but also account for 71% of global deaths and 54.7% of deaths in Brazil, posing significant challenges to health systems. Ayurveda, a traditional Indian system of medicine, is considered a lifestyle medicine that aims to maintain optimal health through the adoption of self-care routines. The present study aimed to develop a method for applying Ayurvedic daily practices within the Brazilian Unified Health System (SUS) and to assess the role of these practices in improving the QoL of healthcare professionals from the Family Health Strategy of Paty do Alferes/RJ, Brazil, during the COVID-19 pandemic. Participants were recruited through active outreach, involving in-person visits to health units. Selected professionals received guidance through theoretical and practical educational activities, referred to as “Living Ayurveda.” The guidance was delivered in modules totaling 20 hours, based on and adapted from the concept of Trayopastambha, with a focus on four key areas: Nutrition, Sleep, Mental Relaxation, and Physical Movement. Quality of life was assessed using the WHOQOL-BREF, a validated QoL questionnaire provided by the World Health Organization, self-administered before and after the intervention. Results were analyzed statistically in the third month. The method developed followed a person-centered approach, placing the individual at the core of their care and supporting them in decision-making. All topics were structured and implemented according to the following format: Anchor (a practice for connecting with intention and bringing focus to the present moment), Discussion (theoretical exploration of the topic using Ayurvedic concepts) and Challenge (suggested practices and/or activities for implementing Ayurvedic concepts in daily life).
The study was developed in response to the high prevalence of lifestyle-related diseases and their effects on the physical and mental well-being of healthcare professionals, which were further exacerbated during the COVID-19 pandemic. It also addressed the lack of structured, accessible, and culturally adapted non-pharmacological strategies for health promotion within the Brazilian public health system, as well as the underutilization of traditional systems of knowledge, such as Ayurveda, in this context.
A total of 30 healthcare professionals participated in the study, which took place from July to October 2021, over a three-month period. The material used in the intervention gave rise to a practical guide entitled “AYURVEDA: Observe, Experience & Transform – A Practical Guide for Maintaining Good Health”, designed to facilitate the introduction of Ayurvedic daily practices into the healthcare system while considering regional specificities. The content was intended for both healthcare professionals and the general public, with the goal of promoting holistic health. Data from the WHOQOL-BREF questionnaire showed improvements in perceived QoL in the physical, psychological, and environmental domains (p > 0.05), while the social domain did not show statistically significant results. The physical domain, which includes aspects such as energy/fatigue, sleep/rest, and mobility—elements directly addressed by the intervention—showed the greatest increase in average total QoL score: from 61.07 (±18.26) before to 72.02 (±13.39) after the intervention.
The findings highlight the potential of Ayurvedic daily practices to promote health and improve quality of life in a feasible, non-pharmacological, and low-cost manner. However, expanding the application of this approach within public health systems presents some important challenges. These include sustaining long-term engagement with the practices, incorporating them effectively into the routines of health services. Further research with broader populations and extended follow-up periods is essential to strengthen the evidence base and guide the development of public policies that support the integration of traditional knowledge into contemporary health strategies.
