A vacinação é uma estratégia com potencial impacto na prevenção de doenças. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) surgiu em 1973, em meio a um contexto político adverso, com a consonância de sanitaristas em prol da saúde da população e a burocracia pública nacionalista. Trata-se de um período em que diversos modelos e projetos no âmbito da saúde foram criados, até chegar na atual configuração do sistema de saúde brasileiro. A criação deste programa refletiu em um movimento da população a fim de defender o acesso à saúde. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade no país ocasionada por doenças imunopreveníveis, com a sua consolidação, o PNI ampliou seu escopo e relevância, proporcionando o fortalecimento do Ministério da Saúde (MS) na coordenação de ações de vacinação, que já vinham sendo feitas no Brasil. Atualmente no país, por meio do SUS, é assegurado a população de forma gratuita 43 produtos, entre eles vacinas, imunoglobulinas e soros, que incluem 19 vacinas que compõem o calendário vacinal da criança, adulto e idoso. Destaca-se a contribuição do PNI no Sistema Único de Saúde (SUS), com a descentralização de ações no âmbito da atenção primária à saúde, garantiu-se a execução da vacinação de forma eficaz e segura, atuando na prevenção de agravos e promoção em saúde, sendo referência internacional. O êxito das ações do PNI é inquestionável e a partir da sua criação e estruturação, desde a implantação do primeiro calendário nacional de vacinação (CNV) contendo quatro vacinas obrigatórias para o primeiro ano de vida, à partir de então as vacinas deixaram de fazer parte dos programas especiais do MS, garantindo assim acesso à vacinação a todas as crianças. Destaca-se que na década de 2000, principalmente, a partir do ano de 2006, houve uma considerável incorporação de vacinas ao CNV, com o decorrer da vacinação relacionada às melhores condições de vida da população e o acesso à água potável e aos serviços de saúde resultou em uma diminuição considerável da taxa de mortalidade infantil e aumento da longevidade humana.
A partir do ano de 2016 observa-se uma queda das coberturas vacinais, dados mostram que o Brasil não atingiu as metas preconizadas pelo MS de 95% de cobertura vacinal, com exceção da BCG e Rotavírus de 90%. Junto a isso ocorre o retorno de doenças que já haviam sido erradicadas, a exemplo disse é o sarampo, isso fez com que o país perdesse o certificado de erradicação da doença, emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Vale ressaltar que a vacinação, principalmente nos últimos anos, perpassa por questões complexas, e as baixas coberturas são reflexos que envolvem aspectos políticos, culturais, sociais e econômicas, diante disso, no ano de 2019 à OMS considerou que à hesitação vacinal é uma das dez maiores ameaças à saúde pública. À medida que o país sofre com a diminuição das coberturas vacinais, isso torna-se também realidade do município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia. Destacamos que o estado de Rondônia faz fronteira como os Estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso e com a Bolívia. A capital Porto Velho, possui uma população estimada, em 2022, de 549.952 habitantes, delimitados por 34.090,962 km² sendo a capital mais extensa do país. O município é dividido em zonas: norte, sul e leste, a mais populosa, e expandida geograficamente em distritos (unidades administrativas em observação a continuidade territorial), localizada acima ou abaixo do rio Madeira, com acesso fluvial ou terrestre, considerados zona rural. Entre unidade básica de saúde (UBS) e unidade de saúde da família (USF), a Atenção Primária de Saúde (APS) do município é composta por 38 unidades, sendo 19 urbanas e 19 rurais, das quais três são de acesso fluvial, com uma cobertura total de Estratégia Saúde da Família (ESF) de 64,95%. A extensão territorial e a cobertura da ESF do município são informações que afetam diretamente o alcance das coberturas vacinais tornando-se obstáculos, como por exemplo o acesso da população as unidades de saúde, principalmente aquelas que residem na área ribeirinha, além disso 35,05% da população de área descoberta. Neste contexto a Divisão de Imunização (DI), pertencente ao Departamento de Atenção Básica (DAB) da Secretaria Municipal de Saúde (SEMUSA) de Porto Velho (RO) traça estratégias para o alcance das altas coberturas vacinais, facilitando o acesso às vacinas de rotina e campanha, diante disso, este trabalho tem como objetivo discorrer sobre as ações da sala móvel, estratégia está com intuito de fortalecer a imunização no município.
O acesso da população a serviços de saúde é um indicador imprescindível para avaliação da oferta de serviços, planejamento e programação de ações que atendam as demandas dos usuários. Mediante as particularidades que perpassa o município, buscando de forma alternativa uma continuidade do atendimento da APS à população, a sala móvel trata-se de uma unidade itinerante ofertando serviços de vacinação de forma contínua aqueles indivíduos que residem em áreas descobertas e de difícil acesso, em prol do aumento das coberturas vacinais. A sala móvel é composta atualmente por enfermeiros, técnicos de enfermagem capacitados em sala de vacina, médicos e assistente social, cada profissão desempenha um papel primordial para a continuidade do serviço, dando todo suporte, orientações e esclarecimentos necessários, principalmente relacionada a existência de tantas fake news envolvendo as vacinas. Esta unidade de vacina itinerante possui mais de 10 anos e surgiu em meio a uma necessidade do serviço, na qual enfrentava o aumento dos casos de influenza e início da campanha contra a gripe, com intuito de dar celeridade ao processo de imunização a equipe foi formada primeiramente com técnicos de enfermagem e enfermeiros. Atualmente somam-se diversas ações realizadas por estas equipes, abaixo serão descritas algumas delas. 5.1 Sala Móvel e a Atenção à Pessoa Idosa ou Acamada: as ações realizadas ao público idoso, deu-se por meio da vacinação em instituições de longa permanência (ILP) do município, bem como, para idosos não residentes nessas instituições em seu domicílio, tais estratégias fazem valer o estatuto do idoso, no que diz respeito aos seus direitos. No que se refere a pandemia da Sars-Cov-2 a vacinação dentro das ILP, trouxe um outro desafio, dado o pertencimento dos institucionalizados aos grupos de maior susceptibilidade para a covid-19 em suas formas mais graves, as quais resultaram nos piores desfechos às infecções por SARS-CoV-2, incluindo o óbito. Outra ação de grande impacto no aumento da cobertura vacinal do município são as ações realizadas no atendimento domiciliar. O atendimento domiciliar configura-se como o ato de deslocamento do profissional de saúde até o domicílio com o intuito de promoção e prevenção, evitando o adoecimento através dos imunobiológicos. Esse atendimento é realizado para pessoas com perdas funcionais e dependência para as Atividades da Vida Diária (AVD). Tais ações contribuem para a redução de propagação de doenças imunopreveníveis. Outro fator primordial na composição da equipe da sala móvel, é a assistente social, que frente às visitas em conjunto com os demais profissionais da suporte para os pacientes e seus familiares, agindo como interlocutora da realidade socioeconômica dos indivíduos para com as demais instâncias municipais e estaduais, que por muitas vezes estão desassistidas ou desconhecem os seus direitos. 5.2 Sala Móvel nas Escolas: a parceria com o Programa Saúde na Escola (PSE) que visa à integração da educação com saúde, foi fundamental para a equipe adentrar nas escolas, tanto municipais, como estaduais, além disso, fez-se presente nas instituições privadas de educação. Nos últimos anos, em meio a pandemia e as campanhas contra influenza, sarampo, poliomielite e covid-19 foi realizado um planejamento de palestras nas escolas, esclarecimentos de dúvidas juntamente aos professores, pais e cuidadores e ao final era ofertado a vacina para as crianças. Este momento nas escolas foi possível observar a carência de conhecimento por parte dos profissionais da educação em relação e segurança e eficácia da vacina e a leitura dos cartões de vacina, o que refletia diretamente na orientação aos pais quanto a seguridade da imunização, além disso, trazer discutir sobre os dados atuais da cobertura vacina, o risco e até mesmo o retorno de doenças imunopreviníveis contribuiu para maior aceitabilidade e disseminação de informações sobre a vacina e o combate a fake news. Destacamos que, além de realizar a vacinação nas escolas que não são pactuadas ao PSE e são de área descoberta, as equipes dão suporte também aquelas ações realizadas pela unidade de saúde. O ano de 2022 destacou-se com a parceria ao Sindicatos dos Estabelecimentos de Ensino Particular (Sinepe), antecedida de uma reunião com os diretores desses estabelecimentos, tivemos como adesão 100% das creches e escolas privadas para realização das vacinas contra pólio, obtendo êxito nessas ações, para o ano de 2023 está previsto o retorno a essas escolas com a atualização do cartão de vacina. Vale ressaltar que a parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semed) irá permitir a implantação da declaração de comprovação vacinal, este documento tem como finalidade facilitar o trabalho da educação ao receber e avaliar o cartão de vacina dos estudantes, considerando que os servidores que trabalham diretamente no recebimento desses documentos no ato das matrículas desconhecem o calendário vacinal e isso dificulta o reconhecimento de atraso vacinal, diante disso, nossas equipes ficarão responsáveis pela avaliação, atualização, se necessário, das vacinas e emissão das declarações. 5.3 Sala móvel nas localidades de difícil acesso: como já citado, a extensão territorial do município torna-se um obstáculo para acesso dos usuários, visto que muitos residem ramais, linhas ou comunidades que não possuem nem sinal telefônico, além disso, a falta de profissionais capacitados em sala em algumas localidades fortalece ainda mais a necessidade da realização de forma contínua dessas ações, pois cada dose de vacina aplicada conta. Para chegar em algumas comunidades ou residências é necessário que a equipe faça o transporte dos materiais, incluindo as caixas térmicas refrigeradas onde estão acondicionados as vacinas, seringas, caixa de perfuro, entre outros materiais para auxiliar no processo de imunização. Para que de fato à vacinação ocorra a equipe tem que abrir mão de salas refrigeradas, das mesas e computadores que dão conforto no atendimento e suporte na escrituração e inserção de informações no sistema, que são comumente utilizados no dia-a-dia das salas de vacina nas unidades de saúde, para isso é necessário adaptar o atendimento em meio a natureza, como demonstrado abaixo. Vale destacar que para acesso a essas comunidades, que por muitas vezes à vacinação ocorre aos finais de semana e feriados, conforme cronograma pré-estabelecido, as equipes passam por obstáculos até a chegada no local, entre eles estradas em más condições, obras na pista, acidentes, entre outros entraves que dificultam o acesso, mas não impedem a realização da atualização dos cartões de vacina desse público, abaixo constam alguns registros desses obstáculos.
Ao refletir o futuro das coberturas vacinais e o risco do retorno das doenças imunopreveníveis é necessário consolidar aqueles objetivos alcançados e as novas estratégias de enfrentamento dos novos desafios que perpassam na sociedade atualmente. Para superar esses desafios é fundamental cada vez mais o envolvimento do PNI com todas as esferas de gestão, assim como à articulação com outros setores, além da saúde, o social e educação, para assim ter uma participação ativa de todos os atores que estão envolvidos neste processo de imunização, considerando o contexto que o usuário está inserido e seus determinantes sociais. Destaca-se principalmente o papel dos vacinadores, que são os responsáveis pela realização e sucesso dessas ações, além disso a necessidade do retorno do seu reconhecimento e engajamento em meio a uma mobilização populacional em prol de condições para desenvolver suas atividades, através principalmente da disseminação de informações acerca do seu trabalho cotidiano. Diante do cenário atual da queda das coberturas vacinais, faz-se necessário a gestão traçar estratégias para evitar o retorno de agravos imunopreviníveis, frente a isso, trabalhos realizados como a sala móvel uni a busca ativa vacinal além do suporte necessário para as equipes de saúde e a população, frente a obstáculos como o enfrentamento de fake news e a hesitação vacinal, que se tornou um problema de saúde pública.
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