- Promoção da Saúde
Bruno Henrique da Silva Ramos
- 18 nov 2024
O Hospital Municipal de Ipatinga Eliane Martins (HMEM) atende usuários com lesões de pele de várias etiologias, sendo a de maior predominância a Lesão por Pressão (LP).
O comprometimento da integridade da pele requer cuidados específicos na prevenção e no tratamento da lesão, assim como a identificação e intervenção das dimensões desse agravo.
Em 2014, observou-se no HMEM a grande demanda de pacientes com feridas e nesse contexto percebeu-se a inexistência de um eixo norteador para prevenção e tratamento de lesões de pele. Surgiu então a necessidade de se criar uma Comissão de Prevenção e Tratamento de Lesões de Pele (CPTLP).
A CPTLP teve uma formação inicial com profissionais representantes de setores do hospital, com enfoque em avaliação de feridas e recomendações de tratamentos. Em 2018, entendeu-se a importância de se manter uma equipe exclusiva na CPTLP, com metas mais amplas voltadas para tratamento, com assistência direta aos pacientes com lesões, capacitação contínua da equipe, gerenciamento de aquisição de insumos, etc. Além disso, percebeu-se a necessidade de revisar o protocolo de prevenção e tratamento de lesões de pele, com base na observação de um elevado número de lesões de ocorrência na instituição, principalmente lesões por pressão. Entre as medidas de aprimoração sugeridas neste protocolo, a CPTLP propôs a utilização do colchão de pressão alternada ativa e a despadronização do colchão tipo caixa de ovo de espuma, até então utilizado no HMEM.
No ano de 2019, a CPTLP, observando elevado número de pacientes com lesões por pressão na instituição, iniciou um levantamento de dados, com o objetivo de estruturar as medidas de prevenção a serem implementadas. Foi desenvolvida uma planilha para acompanhamento mensal de todos os pacientes em risco e percebeu-se a urgência em analisar a incidência de LP na instituição. Foi elaborado então um instrumento de coleta desse indicador, que revelou uma incidência média de 19,74%, calculada entre os meses de abril e julho. Essa incidência foi obtida baseada na avaliação de todos os pacientes adultos internados no hospital com risco de adquirir lesão por pressão, o que significa que foram considerados pacientes de risco baixo, moderado, alto e muito alto, de acordo com a escala de Braden, ou seja, pontuação menor ou igual a 18. O cálculo foi realizado por mês, conforme a fórmula abaixo:
N° de pacientes que desenvolveram lesão por pressão no mês x 100
N° de pacientes em risco para lesão por pressão no mês
Nessa época, uma das medidas de prevenção de LP’s era o uso do colchão tipo caixa de ovo de espuma, que apesar de valor de custo mais baixo, tinha vida útil muito inferior ao colchão de pressão alternada ativa. Não havia critérios bem determinados para indicação do uso, chegando a ser utilizado em prazos inferiores a 1 dia, devido a necessidade de descarte por paciente e saídas imprevistas dos pacientes. O colchão de espuma era de uso individual e demandava o uso de uma capa plástica agregando custo adicional.
Em relação à média da incidência de LP, o resultado encontrado foi considerado elevado, baseado também nos números absolutos de casos novos, que geravam grande preocupação à CPTLP.
A partir do mês de agosto de 2019, iniciou-se o uso do colchão de pressão alternada ativa no HMEM.
A padronização do colchão seguiu os seguintes critérios:
• Nas UTI’s, estão disponibilizados colchões permanentes em todos os leitos.
• Nas enfermarias, são a equipe assistencial instala colchões para todos os pacientes com risco moderado, alto ou muito alto para LP, ou seja, Braden menor ou igual a 14.
• A desinfecção concorrente e terminal das peças que compõe o kit do colchão de pressão alternada ativa é realizada conforme definição de procedimento estabelecido pela CPTLP, o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e a empresa terceirizada responsável pela limpeza, com capacitações e supervisão das equipes de enfermagem e limpeza.
• A dispensação dos colchões pelo setor de suprimentos é controlada pela CPTLP. Os descartes também são feitos após avaliação da comissão.
• Foi estabelecido um fluxo para reparo de peças danificadas, em que as mesmas são identificadas e alocadas em uma sala de equipamentos, e a equipe da CPTLP as recolhe para fazer a conferência e restauração dos colchões furados. É realizada checagem dos motores e, quando necessário, encaminhados ao setor de manutenção.
• Para restauração dos colchões furados, foram realizados testes com diversas colas disponíveis no mercado, e houve melhor desempenho com a cola do tipo para PVC flexível. É utilizada a própria borda do colchão para fazer o retalho.
De agosto de 2019 até agosto de 2024 foram dispensados para uso no HMEM 136 colchões de pressão alternada ativa. Não foram quantificadas as perdas, pela possibilidade de reaproveitamento das peças. O HMEM dispõe de 169 leitos de internação adulto, sendo 28 leitos de UTI. Atualmente, há uma média diária de 53 pacientes em uso do colchão.
Concluiu-se que o colchão de pressão alternada ativa apresentou vida útil favorável desde que seguidos critérios de manutenção, resultando de um excelente custo-benefício.
Em relação à eficácia do colchão, foram observados que entre os meses de agosto a dezembro de 2019 a média da incidência de LP reduziu para 8,67%, como apresentado no gráfico abaixo.
A análise de incidência de LP foi mantida nos anos seguintes, apresentando as seguintes médias anuais: 7,33% em 2020; 11,45% em 2021; 5,97% em 2022; e 5,13% em 2023. Nesse período, outras medidas de prevenção gradativamente foram implementadas e outras aprimoradas, conforme recomendações da ANVISA e consensos internacionais. O protocolo passou a ser atualizado a cada dois anos.
Recomendação
Para a implantação do uso do colchão de pressão alternada ativa em ambiente hospitalar é imprescindível primeiramente a elaboração e cumprimento de um protocolo de prevenção de lesões por pressão, com ampla divulgação e capacitação para a equipe assistencial, pois a utilização da superfície de apoio é apenas uma das medidas de prevenção recomendadas para prevenção de lesões por pressão.
É importante ter uma Comissão atuante, com profissionais alocados exclusivamente nesta comissão para garantir coleta de indicadores, acompanhamento de pacientes em risco, avaliação periódica de todos os pacientes com lesões, capacitações de equipe, estudos para melhor padronização de insumos, etc.
Deve-se considerar a presença de profissionais especialistas e com interesse na área, pois estes têm melhor discernimento crítico diante das diversas inovações tecnológicas.
Colchões de pressão alternada ativa não são utilizados em muitos hospitais, portanto, a coleta, mensuração e análise de dados é fundamental para demonstrar aos gestores a eficiência desse equipamento, considerando que sua implementação resulta no cumprimento de normas técnicas, redução de custos e benefícios ao paciente.
Hospital Municipal Eliane Martins - Avenida Felipe dos Santos - Cidade Nobre, Ipatinga - MG, Brasil
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