Redes invisíveis: comunidades móveis e cuidado sistêmico no setor público

Relato de Experiência – IDEASUS / FIOCRUZ.
Subtítulo: O voluntariado intersetorial, a saúde digital e a inovação no cuidado comunitário entre 2009 e 2025.

1. Qual o problema enfrentado ou desafio identificado?

Entre os anos de 2009 e 2025, nos municípios do Extremo Sul da Bahia, como Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro e Belmonte, enfrentamos um cenário crônico de fragilidade na comunicação institucional e na continuidade do cuidado público, especialmente nas áreas da saúde mental, educação e assistência social.
Com extensa área territorial, comunidades rurais e indígenas isoladas, além da descontinuidade política e orçamentária, o acesso a serviços essenciais se tornava intermitente. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por exemplo, muitas vezes falhava em oferecer suporte contínuo a pacientes com transtornos mentais, enquanto escolas, UBSs e fóruns operavam isoladamente, sem articulação entre si.
A ausência de políticas públicas de comunicação digital intersetorial, aliada à sobrecarga de servidores e à falta de estrutura para atendimento remoto, revelava-se como um entrave à integralidade e à equidade previstas pelo SUS. Diante disso, surgiu a urgência de criar soluções comunitárias que vencessem o tempo, a distância e a burocracia, utilizando tecnologias já disponíveis na vida cotidiana da população.

2. Que solução foi construída e/ou implementada?
A solução foi a criação e fortalecimento de uma rede comunitária digital voluntária, baseada no uso de ferramentas tecnológicas simples, como WhatsApp, Facebook, YouTube e videoconferências, para realizar cuidado terapêutico, articulação intersetorial e escuta qualificada.
Entre 2016 e 2025, projetos como o Grupo Saúde e Equilíbrio, o NPICS Brasil e a Clínica Interativa criaram comunidades móveis de cuidado compostas por voluntários, profissionais da saúde, líderes religiosos e servidores públicos que atuavam fora dos canais oficiais, mas com profundo compromisso ético e institucional.
A estratégia baseou-se em:
Grupos no Facebook e WhatsApp operativos para articulação entre saúde, educação, fórum, social e CAPS;
Escuta ativa digital e mensagens terapêuticas enviadas a pacientes em sofrimento psíquico;
Uso de redes sociais para campanhas educativas, acolhimento e acompanhamento psicossocial;
Produção de conteúdo e capacitações comunitárias online (lives, vídeos, artigos, podcasts).
A solução não substituiu o serviço público, mas preencheu lacunas críticas com afeto, presença e continuidade, usando o digital como ponte e não como fim.

3. Quais foram os resultados observados?
A solução gerou impactos concretos e mensuráveis, entre os quais destacam-se:
Redução de crises emocionais agudas entre pacientes em sofrimento psíquico, graças ao acompanhamento contínuo e ao vínculo construído com voluntários.
Fortalecimento da rede intersetorial, com trocas sistemáticas entre servidores de diferentes áreas, fora da estrutura hierárquica formal.
Diminuição da judicialização de conflitos familiares e escolares, através da escuta comunitária e práticas restaurativas realizadas remotamente.
Ampliação do acesso ao cuidado em regiões distantes, como aldeias indígenas (Mata Medonha, Agricultura/Coroa Vermelha), zonas rurais (Embaúba, Santo Antônio, Barrolândia) e periferias urbanas.
Além disso, o projeto foi responsável por:
Inspirar parcerias com o Fórum de Justiça de Santa Cruz Cabrália (CEJUSC);
Produzir materiais educativos e científicos utilizados por escolas, universidades e centros de formação em saúde;
Ser reconhecido por agentes públicos como modelo alternativo de governança comunitária e inovação sistêmica no setor público.

4. Que aprendizados foram gerados a partir dessa experiência?
A informalidade é potência: soluções comunitárias, mesmo fora da estrutura formal, podem gerar vínculos reais, continuidade de cuidado e inovação ética.
A tecnologia é relacional: quando usada com escuta, afeto e espiritualidade, ela se torna ponte de cuidado, e não apenas ferramenta de informação.
As redes invisíveis sustentam o sistema: sem os voluntários, servidores e líderes comunitários que atuam com seus próprios celulares e recursos, muitos territórios estariam desassistidos.
É preciso regulamentar e ampliar o voluntariado digital e criar políticas públicas que reconheçam o cuidado realizado pelas comunidades móveis.
Cuidado é política pública — mas também é espiritualidade, comunidade e ancestralidade.
O modelo desenvolvido pode ser replicado e adaptado em outros contextos, especialmente em regiões periféricas, rurais ou de difícil acesso. O que se propõe aqui é um chamado à inovação sistêmica, onde os afetos, as redes de fé, os saberes tradicionais e as tecnologias cotidianas possam se unir para garantir o direito à saúde, à escuta e à dignidade.

Referências Documentais e Científicas
As experiências narradas ao longo deste livro se apoiam em uma base documental sólida, construída ao longo de 16 anos de prática, escuta e sistematização. Abaixo, seguem algumas das principais fontes utilizadas, incluindo publicações científicas, documentos oficiais, relatórios técnicos e materiais audiovisuais arquivados digitalmente.
8.1 Documentos Oficiais
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Brasília, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): diretrizes e estratégias. Brasília, 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Programa Saúde na Escola – PSE: Caderno de Diretrizes, Objetivos, Prioridades e Metas. Brasília, 2013.
FIOCRUZ / IDEASUS. Relatos de Experiência em Inovação no SUS. Vários volumes.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A Gramática do Tempo. Cortez, 2006.
8.2 Publicações Científicas e Técnicas
BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária Integrativa: um movimento social terapêutico. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008.
HELLINGER, Bert. As ordens do amor. Cultrix, 2004.
GARRIGA, Joan. O Amor que nos faz bem. Planeta, 2017.
STAM, Jan Jacob. Sistemas em Movimento. JJS Institute, 2011.
CASTILLO, Carola. As Constelações Familiares segundo Bert Hellinger. Conaculta, 2013.
8.3 Relatos e Arquivos Sistêmicos
LEAL, Diego da Rosa. Live: A Constelação Sistêmica enquanto solução interdisciplinar e intercultural no contexto do SUS. Telesaúde Bahia, 2024.
🔗 https://youtu.be/7In9cnTKHCs

FamilySearch. Álbum: Movimento Floral no SUS Cabrália/Bahia/Brasil.
🔗 https://www.familysearch.org/memories/gallery/album/1242168

FamilySearch. Documento: Transcrição integral da live no Telesaúde Bahia (PDF).
🔗 https://www.familysearch.org/photos/artifacts/221944580

Anotações de campo e relatórios disponibilizados ao CEJUSC, para acesso, consulta e uso da Juíza da Comarca de Santa Cruz Cabrália, Dra. Tarcizia Fonseca, entre 2017 a 2024.
(Cópias físicas arquivadas no Npics/Caps Cabrália e em formato digital no FamilySearch)

Link do documento do Google, com Ebook e a prática relatada em anexo:
https://docs.google.com/document/d/1h34HdYVlcDG6QtwePP406zZ5iZ5IH85bBsNT87gCmo4/edit?usp=drivesdk

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal

A prática foi aplicada em

Santa Cruz Cabrália

Bahia

Nordeste

Esta prática está vinculada a

Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

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07 ago 2025

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07 ago 2025

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