Projeto Saúde das Populações Tradicionais na Sub-Bacia do Canal do Cunha (Baía de Guanabara) – Vigilância Popular em Saúde e Educação Ambiental e Sanitária de Base Comunitária

O Projeto Saúde das Populações Tradicionais na Sub-Bacia do Canal do Cunha (Baía de Guanabara) – Vigilância Popular em Saúde e Educação Ambiental e Sanitária de Base Comunitária está sendo desenvolvido no âmbito da Chamada Pública para Apoio a Ações de Saúde Integral nas Favelas do Rio de Janeiro (2024), coordenado pela FIOCRUZ, no contexto da elaboração do Plano Integrado de Saúde das Favelas (RJ), sob a coordenação do Movimento Baía Viva, que é uma organização socioambiental, cultural e pluriétnica fundada em 1984, inscrita no CNPJ no. 41.931.182/0001-00 que atua junto aos territórios pesqueiros da Baía de Guanabara, aldeias indígenas e demais comunidades tradicionais e favelas.
A proposta visa o desenvolvimento de metodologias e estratégias no campo da Vigilância Popular em Saúde e da Educação Ambiental e Sanitária de Base Comunitária visando o fomento da participação social em saúde que está alinhada com os princípios e diretrizes preconizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) instituído pela Lei nº 8080/1990, que abrange um conjunto de ações nos campos da saúde coletiva e da saúde ambiental, bem como é orientada pelo conceito de Saúde Única e integral.
A Baía de Guanabara é um importante símbolo histórico, cultural e ecológico do Rio de Janeiro e do Brasil. E por isso, em 01/07/2012 teve o reconhecimento pela organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como sítio do Patrimônio Cultural da Humanidade.
No entanto, apesar disso, este extenso e populoso território com aproximadamente 13 milhões de habitantes que vivem em 17 municípios da Região Metropolitana fluminense, nas últimas décadas vem passando por um forte processo de ‘sacrifício ambiental’ provocado pela poluição e degradação de seus ecossistemas. A Lei Estadual no. 3616/2001 instituiu o Dia Estadual da Baía de Guanabara, trouxe maior visibilidade à importância estratégica desta região hidrográfica. Anteriormente, este ecossistema já dispunha de proteção legal assegurada no Capítulo VIII do Meio Ambiente, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro (1988) com o status de Área de Preservação Permanente (APP) e de Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE).
Num contexto caótico e desigual no qual 12,63% dos domicílios do estado do Rio de Janeiro são reconhecidos oficialmente como “aglomerados subnormais” (nomenclatura ainda utilizada pelo IBGE) ou de forma mais adequada por “favelas e comunidades urbanas”, o projeto visa atuar por meio de ações de Monitoramento Participativo das políticas públicas no campo da Saúde Ambiental e do Saneamento Ambiental, visando promover a vigilância em saúde de base territorial e promoção integral da saúde, o que se dará através do mapeamento das múltiplas vulnerabilidades territoriais existentes na populosa (2,4 milhões de habitantes, IBGE/2022) e degradada Sub-bacia do Canal do Cunha localizada na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e nas três principais ilhas da Baía de Guanabara (Governador, Fundão e Paquetá). Através da cartografia social o projeto buscará empoderar a comunidade para identificar e agir sobre suas principais necessidades, utilizando técnicas participativas que valorizam o conhecimento local.
O objetivo da proposta é contribuir para a produção de informações por meio de pesquisa semi estruturada e visitas de campo aos territórios, ações de vigilância popular em saúde e saneamento, de educação popular em saúde e educação ambiental de base comunitárias para a melhoria das condições de vida, o fortalecimento da organização comunitária de segmentos sociais em situação de multivulnerabilidades socioambiental, socioeconômica, sanitária e climática, tais como as comunidades tradicionais situadas na porção Oeste da Baía de Guanabara, populações que vivem em territórios favelizados, pescadores artesanais, indígenas em contexto urbano e negros/as.
A área de atuação do projeto caracteriza-se pela ausência histórica do poder público. Na década de 1950, como parte do modelo urbano-industrial dominante socialmente injusto e desigual adotado nas últimas décadas, do ponto de vista ambiental ocorreram grandes aterros na orla da Baía de áreas de manguezais e brejos, praias e ilhas como as que atualmente constituem a Ilha do Fundão para a expansão urbana e industrial. Em especial a partir dos anos 1970, a região passou por um processo de intensa degradação ambiental que resultaram na perda da balneabilidade das praias situadas nos bairros e ilhas do subúrbio carioca, período que também marca o início da decadência econômica da pesca artesanal. A partir dos anos 1980, com o país passando por sucessivas crises econômicas, deu-se início ao processo de desindustrialização da região que provocou o abandono de galpões de fábricas e até mesmo terrenos e encostas em áreas de risco que foram ocupadas para usos como moradia popular, sem dispor das condições adequadas de saneamento básico e drenagem urbana.
No que diz respeito à situação social, o território desta região carioca é marcado por uma intensa segregação socioespacial (segregação urbana) e forte degradação dos corpos hídricos (com a totalidade dos rios desta sub-bacia sendo transformados em valões de esgotos e lixo!) que resultam em problemas sanitários, como proliferação de doenças de veiculação hídrica, e a poluição desde meados dos anos 1970 de todas as praias interiores da Baía, em função da ausência e/ou precariedade de políticas públicas essenciais à dignidade humana e à melhoria da qualidade de vida e do Bem Viver, tais como as de saúde, educação, habitação, saneamento básico, assistência social, empregabilidade etc.
Este cenário de desigualdades socioespaciais, déficit habitacional e de saneamento básico resultaram na formação de vários complexos de favelas, como os do Caju, Penha, Alemão, Manguinhos, Jacarezinho, da Maré, Pavuna e Dendê e Bancários na Ilha do Governador onde o projeto pretende atuar com ações de capacitação e de mobilizações em saúde.
É sobre este território marcado pelo racismo ambiental que o projeto pretende atuar enfocando ações que venham a contribuir por meio de uma ampla rede de atores sociais (organizações populares, coletivos, entidades da pesca artesanal etc) e o apoio da academia (grupos de pesquisa da UFRJ, FIOCRUZ e UERJ com atuação multidisciplinar), através de ações de capacitação e de mobilização comunitária, mapeamento das potenciais vulnerabilidades para a construção de um planejamento popular deste território na perspectiva da sua transformação em Territórios Saudáveis e Sustentáveis.
Neste sentido, a presente proposta visa atender os requisitos previstos no Edital Chamada Pública para Apoio a Ações de Saúde Integral nas Favelas do Rio de Janeiro (Fiocruz) tendo como Objeto e Áreas Temáticas prioritárias as áreas do conhecimento previstas na alínea “f)” que visa “apoiar a promoção de Território sustentáveis e saudáveis: ações que articulem nas favelas intervenções sociais, econômicas, culturais e ambientais relacionadas a determinação social da saúde, visando ampliar o acesso e qualidade à saúde nas favelas; ações de enfrentamento às discriminações na saúde; ações que promovam justiça climática, racial e de gênero; ações que articulem as políticas de equidade em saúde nas favelas.”
Assim como esta proposta pretende contribuir para o desenvolvimento de metodologias inovadoras no campo da saúde, visando promover avanços nas medidas de prevenção às doenças como as de veiculação hídrica e “contribuir para ações de bem-estar coletivo nas favelas fluminenses.”

A questão-problema central a ser abordada pelo projeto diz respeito à precariedade e/ou déficit de políticas públicas essenciais à qualidade de vida e à promoção da dignidade humana historicamente presente nos territórios favelizados da área de abrangência do projeto que abrange a Zona Norte do município do Rio de Janeiro onde está situada a populosa Sub-Bacia do Canal do Cunha na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara. Os principais problemas socioambientais encontrados neste extenso território são: ausência e/ou precariedade do saneamento básico (déficit sanitário); má gestão dos resíduos sólidos urbanos (lixo) que é lançado irregularmente em grande volume nos corpos hídricos (rios, canais e valões) e deságuam nas águas, praias e manguezais da Baía de Guanabara, além de ocasionar constantes inundações/alagamentos; ausência de coleta seletiva dos resíduos nas favelas; déficit habitacional e moradias insalubres ou precárias; constantes violações do direito de acesso à água potável para consumo humano que é distribuída de forma desigual e intermitente para os territórios periféricos (escassez hidrossocial), problemas de poluição e degradação ambiental das águas da Baía e grande concentração de lixo plástico (lixo marinho) com o despejo irregular estimado de 90 ton/dia nas águas da Baía (INEA/SEAS) que vem prejudicando a economia da pesca artesanal, usos balneários e de lazer e o turismo.

Entre os resultados esperados, destacam-se: (i) O fortalecimento da organização comunitária por meio da atuação em rede de organizações populares (associações de pescadores, coletivos) em cooperação com instituições acadêmicas (UFRJ UERJ e FIOCRUZ) que atuam no campo da saúde coletiva, saúde ambiental e ações de planejamento popular dos territórios.
(ii) Promoção de processos formativos e de mobilização comunitária, por meio de ações de Monitoramento Participativo e de Vigilância Popular em saúde de base territorial e de educação ambiental e sanitária e de educação popular em saúde, visando promover o acompanhamento por parte da sociedade civil e da academia do atual estágio de implementação de políticas públicas nas áreas do saneamento básico (PDBG e PSAM) e do Plano Municipal de Saneamento Básico da cidade do Rio de Janeiro; gestão do lixo urbano (Programa Municipal de Coleta Seletiva); Plano Diretor de Drenagem Urbana da Cidade do Rio de Janeiro e Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais da cidade do Rio de Janeiro (PDMAP), Política Climática, entre outras.
(iii) Construção participativa de Cartografia Social e Sanitária do Canal do Cunha (“Mapas da Vida”) contendo os principais aspectos demográficos, socioeconômicos, socioambientais epidemiológicos e identificação dos Territórios Pesqueiros tradicionais localizados na porção Oeste da Baía de Guanabara.
(iv) Desenvolvimento do Plano de Educomunicação em linguagem acessível ao público beneficiário (favelas, comunidades pesqueiras).

A partir da experiência vivenciada no desenvolvimento do projeto, recomendamos que em propostas similares em desenvolvimento junto à territórios onde vivem populações em situação de vulnerabilidade social, econômica, sanitária e climática seja planejada uma atuação em rede, por meio da formação de coalizão, abrangendo as comunidades locais, coletivos e movimentos sociais e segmentos da academia. O processo de mobilização comunitária associado à produção de informações técnicas sobre a realidade dos territórios e o monitoramento participativo de políticas públicas é fundamental como estratégias para a conquista de direitos e de melhorias nos campos da saúde coletiva, saúde ambiental e da justiça climática.

Principal

Movimento Baía Viva

baiaviva2018@gmail.com

Coordenador

Coautores

Nome das organizações parceiras na execução do projeto ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS - Associação dos Pescadores Artesanais da Prainha (APAP, Ilha do Fundão) - Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT, Ilha do Governador) - Associação Redes de Desenvolvimento da Maré (Jornal Maré de Notícias) - RedeCCAP - Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável (Manguinhos) - Verdejar Socioambiental com atuação (Complexo do Alemão) - Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso Ltda (Cootrabom) - Pastoral da Ecologia Integral-RJ - Associação Universitária Latino-Americana (AULA) - Coletivo Arco Potyguara - Utopia Produções Artísticas e Culturais - Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro e Região (Sintsama-RJ) INSTITUIÇÕES ACADÊMICAS E CIENTÍFICAS - Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (VPAAPS/Fiocruz) - Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) - Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA), Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz) - Grupo de Pesquisa "Saúde, Ambiente e Saneamento” da Fiocruz/ENSP - Museu da Vida (Fiocruz) - Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha (Fiocruz) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ) - Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES/UFRJ) - Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (DRHIMA) da Escola Politécnica (POLI/UFRJ) e do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ - ETTERN (Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza) do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ETTERN/IPPUR/UFRJ) - Laboratório de Imagem e Criação em Dança da Companhia de Dança Contemporânea (LICRID/CDC/UFRJ) - Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (LAMCE) e do Projeto Baía Digital (Parque Tecnológico da UFRJ) - Curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ) - Grupo de Pesquisa Saberes da Enfermagem e da Saúde Coletiva vinculado ao Departamento de Enfermagem em Saúde Pública da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) - Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente (DESMA/UERJ).

A prática foi aplicada em

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Araújo Porto Alegre, 71 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Terceiro Setor

Foi cadastrada por

Sérgio Ricardo de Lima

Conta vinculada

20 jan 2025

CADASTRO

20 jan 2025

ATUALIZAÇÃO

01 ago 2024

inicio

Condição da prática

Andamento

Situação da Prática

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