A iniciativa para a construção do Projeto Caminhos da Resiliência surge da reivindicação social por parte de um grupo de responsáveis atípicos que mobilizaram a gestão do município demandando por ações de cuidado que tivessem como público não apenas as crianças e adolescentes atípicos, mas que incluísse os familiares, considerando a complexidade de suas demandas. Tendo em vista que esses responsáveis, em sua maioria, não contam com rede de apoio, pensamos no espaço das escolas e o horário do turno escolar para a realização de nossas atividades. Para o planejamento e execução do Projeto foi realizada a contratação de 5 psicólogos, que atuam no território do município de Itaboraí em parceria com as Secretarias de Saúde, Educação e Desenvolvimento Social, realizando rodas de conversa com esses responsáveis. As rodas de conversa foram realizadas em polos específicos localizados em escolas da rede municipal de Educação com os profissionais da saúde do Projeto visando a construção de rede de cuidado à estes responsáveis.
O problema que moveu o autor a pensar o Projeto Caminhos da Resiliência foi a partir da falta de espaços e ações de cuidado para familiares e responsáveis de crianças e adolescentes atípicos, principalmente a partir da reivindicação dos mesmos ao município para tal. Segundo dados do Ministério da Saúde em 2014, foi constatado que a demanda de cuidado desses responsáveis reflete na redução ou impossibilidade de atividades laborais, lazer e do autocuidado, sendo de extrema importância a implementação de ações de cuidado à saúde voltada à esse público.
A partir do Projeto possibilitou-se trabalhar com os responsáveis atípicos questões relativas a retomar o autocuidado, resgatar a própria identidade e autonomia, como os estudos, cursos profissionalizantes e atividades laborais, além de poderem se reconhecer em outros lugares para além de cuidador, como sujeitos de direito e de possibilidades. O espaço das rodas mostrou-se potente na construção de redes de apoio, fortalecimento dos vínculos afetivos e na redução do sentimento de solidão relatados. Muitos grupos funcionaram como apoio emocional para os responsáveis mais fragilizados ou que precisavam de determinada orientação se expressarem, ouvir palavras de incentivo, se sentirem acolhidos, respeitados em suas dores e terem suas histórias legitimadas. A partir das demandas que surgiam nos grupos, foi realizado um trabalho de articulação com demais dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial, compartilhando os casos e transmitindo situações que necessitavam de maior atenção e cuidado. Além disso, contamos com a participação de profissionais da E-multi (Atenção Básica) em nossos encontros, que colaboraram com seus conhecimentos às nossas rodas, orientando e tirando dúvidas sobre diversos assuntos como: seletividade alimentar, estigmas, uso correto das medicações, incentivo à atividade física, dentre outros. Finalizamos ressaltando a importância do Projeto como sendo um dispositivo potente de atenção e cuidado, visando o protagonismo aos responsáveis atípicos.
Um dos principais desafios enfrentados na implementação do Projeto foi a baixa adesão dos usuários, mesmo com todo um planejamento de distribuição territorial inicial a fim de facilitar e ampliar o acesso dos mesmos. Ainda nos esbarramos com dificuldades no deslocamento e localidade de alguns Polos, a alguns responsáveis possuírem trabalho formal e informal e coincidência com horários de tratamentos dos filhos ou deles próprios. Diante disso, se faz necessário ajustar estratégias de localização e acessibilidade a fim de garantir maior inclusão e integração entre o Caminhos da Resiliência e esses familiares, como por exemplo, fazermos um horário estendido e recebê-los a partir das 18h ou aos sábados, executar o Projeto de forma itinerante e não concentrar as atividades somente nos Polos estabelecidos. Percebemos ao longo de toda trajetória de nosso Projeto o adoecimento psíquico e sobrecarga emocional que esses responsáveis apresentam, principalmente pela falta de rede de apoio, sendo de suma importância que possamos construir políticas públicas voltadas ao cuidado desses responsáveis atípicos.
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