Município/Estado:
Santa Cruz Cabrália, Bahia (BA)
Instituições envolvidas:
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Santa Cruz Cabrália; Faculdade UnesulBahia; Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); CAPS de Porto Seguro.
Período de realização:
2014 – 2016 (fase de pré-implantação das PICS no município)
Responsável técnico ou articulador local:
Simone Borges – Assistente Social (CAPS/Cabrália)
Diego da Rosa Leal – Enfermeiro, educador, voluntário no projeto (COREN-BA 98607)
Coordenação de Extensão da UnesulBahia (Setor acadêmico)
2. CONTEXTO E MOTIVAÇÃO
No período de 2014 a 2016, o município de Santa Cruz Cabrália vivenciava uma fase de reorganização das políticas públicas de saúde mental, diante da expansão da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) na região da Costa do Descobrimento. Paralelamente, fortalecia-se no Brasil a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), com incentivo à inserção de abordagens ampliadas e não convencionais de cuidado.
Neste contexto, o CAPS de Santa Cruz Cabrália, sob a Coordenação da assistente social Simone Borges, passou a acolher voluntários e estudantes extensionistas da UnesulBahia, interessados em desenvolver práticas integrativas em saúde mental. O desejo era ampliar o cuidado para além da prescrição medicamentosa, incluindo rodas de conversa, terapias expressivas, espiritualidade, abordagens através do toque, imposição de mãos e escuta ativa – práticas já sendo articulados, de forma embrionária, nos CAPS de Porto Seguro, município vizinho.
A experiência relatada nasceu da confluência entre ensino, serviço e comunidade, como expressão concreta da diretriz da integralidade do SUS.
3. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A iniciativa teve início com o acolhimento, por parte do CAPS de Cabrália, de estudantes da UnesulBahia e outras instituições de ensino, em sua maioria dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Serviço Social. Esses estudantes participavam de projetos de extensão ou estágios voltados para a saúde integral e comunitária. Foram convidados a desenvolver atividades semanais no serviço, com orientação da equipe multiprofissional.
As práticas implementadas incluíram:
Roda de escuta e partilha com usuários;
Oficinas de expressão artística (desenho, música, colagem);
Registros biográficos e construção de “registros da vida” com os pacientes;
Dinâmicas de cuidado espiritual e terapias dialogadas;
Vivências inspiradas na Terapia Comunitária Integrativa (TCI).
A articulação com os CAPS de Porto Seguro se deu através de trocas informais entre profissionais, reuniões regionais da saúde mental e aproximações em grupos de trabalho da RAPS. Algumas práticas inspiradas nos CAPS de Porto foram adaptadas para a realidade de Cabrália, respeitando a singularidade dos usuários e dos profissionais envolvidos.
A atuação voluntária dos estudantes foi conduzida com supervisão técnica, sempre em diálogo com a coordenação do serviço. Os relatos produzidos ao final de cada vivência foram arquivados e utilizados como subsídio para futuras propostas formais de implantação das PICS no município.
A assistente social Simone Borges desempenhou papel crucial ao articular a entrada dos estudantes e preservar o alinhamento ético e institucional da proposta. O trabalho também contou com o acompanhamento voluntário de profissionais como o enfermeiro Diego da Rosa Leal e o fisioterapeuta Paulo Roberto Ramos, que contribuíram para o registro das experiências e articulação com outras redes.
4. LIÇÕES APRENDIDAS E RECOMENDAÇÕES
A experiência demonstrou que a implantação das PICS pode se iniciar mesmo antes da existência de portarias e normativas locais, desde que haja vontade política, articulação intersetorial e disposição pedagógica para o cuidado.
Lições aprendidas:
A presença de estudantes no CAPS fortalece o cuidado em saúde mental e amplia o vínculo com a comunidade;
O protagonismo de profissionais sensíveis à saúde integral é determinante para que experiências como essa floresçam;
A escuta ativa, a arte e o acolhimento espiritual são estratégias eficazes para qualificar o cuidado em serviços públicos;
A sinergia entre municípios vizinhos favorece a construção de redes regionais colaborativas.
Recomendações:
Incentivar a presença de projetos de extensão universitária nos CAPS e UBS;
Garantir a formalização de experiências bem-sucedidas por meio de decretos municipais ou planos de trabalho intersetoriais;
Promover capacitações sobre PICS, saúde mental e cuidado ampliado em saúde para os trabalhadores do SUS;
Documentar experiências e depoimentos de usuários como parte viva da história dos serviços.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC. Brasília: MS, 2006.
BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária Integrativa: passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2011.
FERREIRA, M. P.; PESSOA, V. M. M.; MELO, L. A. F. Práticas Integrativas e Complementares no SUS: avanços e desafios da institucionalização. Revista Brasileira de Saúde da Família, Brasília, v. 22, n. 1, p. 45–57, 2022.
GOMES, Maria de Fátima L. et al. Inserção das práticas integrativas no cuidado em saúde mental. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. 122, p. 615–627, jul.–set. 2019.
Relatórios internos de extensão – UnesulBahia. Projeto AvanSUS: Saúde Integral e Humanização, 2016.
LEAL, Diego da Rosa. Arquivos pessoais e relatos no FamilySearch. Npics Brasil, 2016–2020.
BENEVIDES, R.; PASSOS, E. A humanização como dimensão pública das políticas de saúde: um estudo sobre a Política Nacional de Humanização do SUS. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 561–571, 2005.
Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil
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