Em 34 anos de Sistema Único de Saúde (SUS), a Atenção Primária em Saúde (APS)trouxe um aumento da integração das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, apoiadas em diagnósticos epidemiológicos, formação profissional e processos de trabalho em equipe (SANTOS NRS, 2018).
No contexto de trabalho em equipe multidisciplinar no SUS, o fisioterapeuta veio para somar ações que venham ao encontro das reais necessidades da população (VASCONCELOS, FAGUNDES e GIUSTI, 2007), buscando uma maior resolutividade dos casos atendidos.
Aorigemda Fisioterapia no Brasil não teve uma tradição ligada à APS, pois tinha o propósito de reabilitar pessoas lesionadas das grandes guerras, em acidentes de trabalho, ou por doenças oriundas das condições sanitárias precárias (NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2010).No entanto,dentre as suas responsabilidade fundamentais, de acordo com o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, consiste,além de reabilitar, prevenir e promover a saúde, empenhando na melhoria da qualidade dos serviços de Fisioterapia, no que concerne às políticas públicas de saúde (COFFITO, 2013).
Poucos estudos científicos publicados em boas bases de evidências científicas definiram o perfil dos usuários dos SUS dos centros de reabilitação, e são ainda mais escassas as evidências sobre as patologias mais prevalentes e o prognóstico/evolução desses casos.
Sendo assim, a realização deste estudo possibilitará conhecer as reais necessidades da população, e desta forma, embasar um processo de ajustes, podendo subsidiar o melhor direcionamento da gestão e das políticas de saúde públicas nesta localidade, melhorando o desempenho do serviço de fisioterapia oferecido e fortalecendo as ações de saúde pública.A elaboração de condutas de promoção e prevenção a partir do levantamento do perfil e prognósticos dos pacientes que procuram por tais serviços, subsidiará a definição de prioridades e planejamento de ações para melhoria da qualidade da Atenção Básica, alocação de recursos e avaliação dos programas implantados, contribuindo para um manejo mais eficaz dos casos atendidos.
Diante do exposto, o objetivo do estudo foi identificar o perfil e prognóstico dos pacientes atendidos no setor de fisioterapia do município de São Miguel da Boa Vista – Santa Catarina ao longo dos últimos 8 anos.
O trabalho em equipe multidisciplinar proporciona uma melhor operacionalização dos princípios do SUS. A integração do Fisioterapeuta a equipe da estratégia saúde da família possibilita uma maior resolutividade no âmbito da saúde pública. Estudos que identificaram o perfil e prognóstico dos pacientes atendimentos pela fisioterapia nas unidades básicas de saúde são escassos. a realização deste estudo possibilitará conhecer as reais necessidades da população, e desta forma, embasar um processo de ajustes, podendo subsidiar o melhor direcionamento da gestão e das políticas de saúde públicas nesta localidade, melhorando o desempenho do serviço de fisioterapia oferecido e fortalecendo as ações de saúde pública.A elaboração de condutas de promoção e prevenção a partir do levantamento do perfil e prognósticos dos pacientes que procuram por tais serviços, subsidiará a definição de prioridades e planejamento de ações para melhoria da qualidade da Atenção Básica, alocação de recursos e avaliação dos programas implantados, contribuindo para um manejo mais eficaz dos casos atendidos.
Foram realizados 8576 atendimentos individuais, dos quais 63% eram do gênero feminino e 37% do gênero masculino. A faixa etária predominando foi entre 41 e 60 anos, totalizando 45% dos atendimentos. A maioria eram agricultores (25%) e donas de casa (25%).(Tabela 1).
Em relaçãoaos diagnósticos clínicos encaminhados, 264 (35%) pacientes vieram com diagnósticos de problemas de coluna, 229 (30%) pacientes com outros casos (artralgias, problemas respiratórios, dentre outros), 151 (20%) pacientes vieram sem diagnóstico clínico, 108 (14%) eram pós operatórios diversos e 20 (2%) apresentavam acidente vascular encefálico (AVE). (Figura 1). Dentre os casos de pacientes com problemas de coluna, 63% apresentavam lombalgia, 25% cervicalgia e 12% dorsalgia. (Figura 2). Dentre os pós operatórios, a maioria eram pós operatório de punho e mão 31(29%), seguido de joelho/perna 21(19%) e ombro 18(17%). (Tabela 2).
Dentre os pacientes sem diagnóstico clínico no encaminhamento, foi observado durante a avaliação fisioterápica que42(29%) destes pacientes apresentavam problemas advindos da coluna vertebral, seguidos de ombros dolorosos 38(26%) e artralgias em joelhos 22(15%). (Tabela 2).
Em relação ao prognóstico, 408 (54%) pacientes tiveram melhora total do quadro clínico, 137 (18%) melhora parcial, 89 (12%) foram encaminhados (para grupos ou viu-se a necessidade de retornar ao clínico para reavaliação) e 13 (2%) sem melhora. (Figura 3).Quanto ao número de sessões realizadas, 453 (63%) dos pacientes realizaram de 1 a 10 sessões e 177 (25%) dos pacientes realizaram de 11 a 20 sessões. (Tabela 2).
Quando pensamos em pacientes com afecções musculoesqueléticas da coluna vertebral, dados alarmantes podem ser evidenciados. Estudo recente trouxe que a dor lombar está cada vez mais se tornando um grande problema de saúde pública com uma estimativa global de prevalência ao longo da vida de 70-85%(KEBEDE A. ET al, 2019).Dados estes que corroboram com os resultados desta pesquisa, na qual 34% dos pacientes encaminhados para a fisioterapia vieram com diagnósticos relacionados a intercorrências da coluna vertebral, destes, 63% apresentavam lombalgia (Figura 2).
No contexto brasileiro, estima-se que 34,3 milhões de pessoas com 18 anos ou mais tenham problema crônico de coluna, somando cerca de 21,6% da amostra populacional, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde realizada em 2019 (IBGE: 2019). As hérnias de disco, segundo o IBGE, atinge cerca de 5,4 milhões de brasileiros, e um levantamento recente de 2020 divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, que analisou o ranking dos 5 pedidos do auxílio doença mais prevalentes, 3 destes eram por problemas relacionados a coluna lombar, sendo que transtornos no disco lombar ficando em primeiro lugar (Informe de previdência social, 2022).
Nota-se, neste estudo, que a faixa etária predominante foi entre 41 e 60 anos, sendo a maioria mulheres (63%), e maior prevalência da lombalgia neste gênero. Tais achados estão em consonância com os dados de uma revisão sistemática recente, em que a maior prevalência de lombalgia ocorreu na faixa etária superior a 40 anos e no sexo feminino. Entre os homensa faixa etária de início dos sintomas foi de31 a 59 anos (SAKAMOTOet al, 2020).
A maioria dos atendimentos foi de pacientes agricultores (25%) e donas de casa (25%). Notavelmente, na literatura, há evidências de que a maior prevalência desse transtorno ocorre em determinadas populações trabalhadoras, incluindo a agricultura, o qual é significativamente maior do que na população em geral(EUROPEAN AGENCY FOR SAFETY AND HEALTH AT WORK, 2019).Estudos trazem que os agricultores que ficam em posturas instáveis (inclinados principalmente para a frente ou para os lados), associado a carga de trabalho excessiva e trabalhos repetitivos, apresentam maior prevalência de lombalgias. (KANG MY et al, 2016; FATHALLAH FA, 2010).
Dentre os pós operatórios investigados, a maioria eram pós operatório de punho e mão 31(29%), seguido de joelho/perna 21(19%) e ombro 18(17%). Como as maiores prevalências são de agricultores e donas de casa, sabe-se que são pessoas que realizam trabalhos repetitivos e que exigem esforço físico, sobrecarregando tais articulações.
Sendo aAPS a porta de entrada e coordenadora do cuidadono âmbito do SUS, tendo função de acolher os problemas mais comuns de uma comunidade, ela deveser capaz de atender às demandas de saúde de forma dinâmica e ampliada, onde apesar de ser considerado um nível menos complexo, a resolutividade estimada é de 80% (STARFIELD B., 2002).Não adianta o SUS ser universal, igualitário, integral, descentralizado e regionalizado, se não houver resolubilidade efetiva. A resolubilidade do atendimento é tudo que espera o usuário quanto procura um serviço de saúde.
Sabendo-se que uma das maiores taxas de atendimentos e encaminhamentos é devido a problemas de coluna, vê-se a necessidade de buscar ações estratégias de enfrentamento deste tipo de intercorrência, reformulandonovas pactuações de fluxos e protocolos.
Segundo Trelha et al (2002), o desenvolvimento de Políticas de Saúde que insiram e valorizem o trabalho do fisioterapeuta dentro das equipes de saúde são necessárias para promover a integração do profissional na comunidade. A integração do Fisioterapeuta qualificado na APS pode ocorrer de forma independente no atendimento a pacientes com problemas musculoesqueléticos, tirando a sobrecarga do modelo centrado no médico (BODENHEIMER T. ET al, 2021). Uma revisão sistemática de 2014 descobriu que os pacientes atendidos diretamente por fisioterapeutas, sem necessidade de encaminhamento médico, tiveram melhores resultados (média de menos dor e de dias perdidos de trabalho), custos mais baixos, maior satisfação do paciente,, menos medicamentos e nenhum aumento do risco de dano (OJHA HA, SNYDER RS, DAVENPORT TE, 2014).
Nesta perspectiva, as ações da fisioterapia podem colaborar para a redução do consumo de medicamentos, estimulando a grupalidade e a formação de redes de suporte social. Estes dados são reafirmados com a resolutividade que obteve-se nos atendimentos individuais neste estudo, o qual 54% dos pacientes tiveram melhora total do quadro clínico,18% melhora parciale 2% sem melhora. Importante frisar também que 63% dos pacientes realizaram somente até 10 sessões de fisioterapia. Esses são dados que motivam a buscar novos recursos objetivando obtermos ainda melhores resultados.
A partir do conhecimento dos indicadores sociodemográficos e de saúde (clínicos), fornecidos por meio de prontuários, possibilitou-nos identificar o diagnóstico situacional dos munícipes atendidos pelo setor de fisioterapia deste município e permitiu a elaboração de um planejamento estratégico, objetivando melhorias na gestão local em saúde e o melhor direcionamento das políticas públicas de saúde. A ação estratégica foi a criação de Grupo de Pilates para pacientes com problemas de coluna.
Dados obtidos com este trabalho permitiu a orientação do processo de negociação e contratualização de metas e compromissos entre equipes e gestor municipal, assim como entre este e as outras esferas de gestão do SUS, além de subsidiar a definição de prioridades e planejamento de ações, visando a melhoria da qualidade da atenção básica.
Este estudo tem algumas limitações. Não coletamos dados sobre uso de tabaco, álcool, faltas ao trabalho e usamos autorrelato para definirmoso prognóstico. Em contrapartida, os pontos positivos foi a grande amostra e os próprios resultados, que fornecem base para pesquisas futuras.
Secretaria Municipal de São Miguel da Boa Vista – Santa Catarina
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