- Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde
Josy Pinho
- 20 mar 2024
A vacina BCG previne contra a formas graves de tuberculose, devendo ser aplicada nos primeiros dias de vida, e considerada para fins de cobertura as doses aplicadas até o primeiro ano de vida. De forma geral, de acordo com Pesquisa Nacional Sobre Cobertura Vacinal (2023) a cobertura vacinal pra a BCG manteve-se estável de 2010 até 2018, mantendo-se próxima ou superando a meta de 90%. Ao analisarmos dados do SI-PNI, a cobertura em 2019 começou a apresentar baixa, 86,7%, decaindo nos anos subsequentes, 73,3% (2020) e 70,7% (2021) e em 2022, superando a marca alcançada em 2019, de 89,11%, mesmo com redução de doses enviadas aos estados. Em abril de 2022, o Ministério da Saúde através do Ofício Circular N° 80/2022/SVS/MS informou a redução na cota de distribuição da vacina BCG para os estados em 50% devido à dificuldade de aquisição desta vacina e o quantitativo na base nacional não seria suficiente para manter o envio habitual aos estados necessitando esta ação. Considerando o informativo do Ministério da Saúde, os estados e regiões de saúde, precisaram traçar estratégias para garantir o acesso da vacina a todos os nascidos vivos, de forma que recebessem sua dose o mais precocemente possível. Na 20° Regional de Saúde do estado do Paraná, fora pactuado a criação de microrregiões de aplicação de vacina BCG, de forma a otimizar as doses, evitando o descarte de doses não utilizadas, considerando a validade do conteúdo do frasco, após aberto (6 horas), já que não se trata de frascos de dose única. Os 18 municípios da 20°RS foram sub divididos em 6 (seis) microrregiões de acordo com o somatório do estimado de nascidos vivos dos municípios, e proximidade territorial. Palotina fora uma destas microrregiões, acolhendo os municípios de Maripá e Nova Santa Rosa, distantes 16 km e 30 km respectivamente. Cada sede de microrregião ficou incumbida de organizar a aplicação e agendamento sendo em Palotina realizado através de agendamento telefônico, com oferta semanal do imunizante, de forma a garantir que todas as doses do frasco fossem aplicadas, evitando perdas. A aplicação fica condicionada a minimante 14 (quatorze) crianças agendadas para a data. Durante 10 meses, foram aplicadas 532 doses do imunizante em crianças de cinco municípios, sendo residentes em Palotina, 81,4%; Nova Santa Rosa 8,6%; Maripá, 7,8%; Terra Roxa, 2% e Toledo 0,2%. Além dos municípios pertencentes a microrregião foram acolhidas crianças de outras cidades próximas, afim de garantir a oferta precoce. A estratégia de microrregiões iniciou-se em meados de maio de 2022, perdurando até o presente momento. Apesar dos desafios enfrentados perante a redução no recebimento do imunizante, bem como a necessidade de organização quanto ao transporte e deslocamento destas crianças para o recebimento do imunizante em cidades satélites, pode-se observar impacto positivo na cobertura vacinal. A propagação de informações inverídicas, associadas a velocidade de disseminação, bem como a insegurança da população após o período de pandemia, impactam nas coberturas, verificando a necessidade de trabalho educacional constante e vigilância das equipes do território.
Os problemas identificados regionalmente, ou nos municípios, derivam de uma cascata de situações que refletem na ponta final, a aplicação dos imunizantes aos usuários. Um dos primeiros problemas identificados no âmbito municipal, é a instabilidade no recebimento dos imunizantes, bem como a distribuição dos mesmos, de forma a garantir a cobertura vacinal prevista no PNI, tendo a disposição todos os imunizantes necessários, sem desabastecimento. Além disto, o número de doses calculados por frascos (no caso de frascos multidoses), é outro desafio encontrado diariamente por aplicadores das salas de vacina, visto que por vezes na prática, devido a falta de padronização ou envio de insumos compatíveis, a extração de doses é bem inferior ao estimado pelo Minsitério da Saúde, gerando a subutilização dos mesmos, tendo divergências entre o previsto e o executado, dificultando o controle do estoque e organização da distribuição municipal, e principalmente acarretando “perda de recurso”. A alteração constante dos sistemas de informação relacionados a imunização, bem como a dificuldade de comunicação entre eles, também traz reflexo negativo no município, devido a demanda constante do repasse de informações e alimentação de sistemas, bem como dificulta o acompanhamento das informações. Ademais, desafios relacionados as barreiras de acesso ao usuário são continuos, horários de funcionamento da sala de vacinação (geralmente no horário comercial) e em contrapartida a dificuldade com o dimensionamento de pessoal, dificulta a ampliação do horário da sala de vacina de forma contínua, sendo realizadas apenas ações pontuais. A dificuldade em trabalhar intersetorialmente também causa impacto sobre a cobertura vacinal, como o acompanhamento dos serviços sociais, e instrumentos acessórios para garantir o direito garantido no Estatuto da Criança e Adolescência; a apresentação de declaração de situação vacinal para matrícula no âmbito do estado do Paraná, definida por lei é ainda pouco cobrada e valorizada e poderia ser um instrumento para contribuir para a melhora da cobertura vacinal. Ademais, retomar a credibilidade das vacinas diante da desinformação propagada garantindo a ampliação da cobertura vacinal é um dos principais desafios.
Após a identificação da necessidade de otimizar as doses do imunizante da BCG, devido a previsão de redução no envio, bem como uma possibilidade de desabastecimento, realizou-se um levantamento de forma regional, da média de nascidos vivos dos 18 municípios pertencentes a 20º Regional de Saúde (SINASC), e inicou-se um processo de microrregionalização para aplicação deste imunizante, sendo sedes destas microrregiões, preferencialmente municipios que possuem materinidades de referências para a região, bem como considerando os limites geográficos, subdividindo-se portanto os 18 municípios em 6 microrregiões, as quais foram responsabilizadas por receber as doses, administrar as mesmas e realizar os referidos registros. A microrregião sediada em Palotina acolheu os municípios de Maripá e Nova Santa Rosa, distantes 16 e 30 km respectivamente. Devido ao acolhimento de crianças de outros municípios, optou-se pelo agendamento prévio, com calendário de aplicação semanal, de forma a garantir a quantidade mínima de usuários a receber a dose do imuizante, evitando qualquer perda, bem como possibilitar a organização do município de origem quanto ao transporte deste usuário até o município sede da microrregião. O desencadeamento de ações devido ao desabastecimento de um único imunizante, mobilizou toda uma estruturação de rede afim de garantir o acesso do usuário ao recebimento da dose, preceituando-se a necessidade de uma boa comunicação intersetorial para superar as barreiras demonstradas, como falta de veículo, distância dentre outros. A aplicação fica condicionada a minimante 14 (quatorze) crianças agendadas para a data. Durante 10 meses, foram aplicadas 532 doses do imunizante em crianças de cinco municípios, sendo residentes em Palotina, 81,4%; Nova Santa Rosa 8,6%; Maripá, 7,8%; Terra Roxa, 2% e Toledo 0,2%. Além dos municípios pertencentes a microrregião foram acolhidas crianças de outras cidades próximas, afim de garantir a oferta precoce. Uma pesquisa realizada no âmbito municipal, demonstra que a população considera que o setor da saúde não divulga as ações e serviços disponíveis, sendo que a maioria diz extrair informações pelas redes sociais e ondas de rádio, desta feita, a ampliação da divulgação através de campanhas institucionais, veiculadas pelas mídias sociais, bem como a participação em programas de rádios locais, trazendo informações de fonte confiável a população, pode contribuir positivamente para a ampliação da cobertura vacinal. A vacinação de “ocasião” também pode ser uma estratégia utilizada no âmbito municipal, aproveitando a vinda do usuário a UBS por outro motivo, para atualização do calendário vacinal, para que isto ocorra é necessário capacitar todos os profissionais atuantes na rede de serviços quanto ao calendário vacinal e disponibilidade de imunizantes no município. A verificação de situação vacinal, nas escolas, associada a busca ativa, contribui para atualizar o calendário, porém por vezes é dificultada devido a limitação de pessoal para a referida ação. Especificamente para a vacina BCG, a disponibilização desta em frascos de doses únicas, devido a sua curta durabilidade após aberta, possibilitaria que maternidades de municípios de pequeno porte, vacinassem os recém nascidos antes da alta hospitalar, como atualmente é realizada a vacina da Hepatite B. Em resumo, a necessidade de constância no fornecimento de insumos, bem como na realização de campanhas educativas, educação permanente, e ações de rastreio são princípios que devemos seguir para aprimorar as ações relacionadas a imunização.
A problematização acerca da redução das coberturas vacinais, é de suma importância para que possamos ajustar os processos de trabalho, em todas as esferas, federais, estaduais e municipais para atender as necessidades da população. Em situações adversas, como a descrita em nosso trabalho, com a redução do envio de um imunizante (BCG), diante de coberturas vacinais tão baixas, principalmente após o período de pandemia nos revela a importância de estruturar a rede de serviços, não só no âmbito municipal, mais além das fronteiras geográficas, de forma a se apoiar e encontrar soluções para continuar atuando com base nos três principais princípios do SUS, universalidade, integralidade e equidade. No âmbito municipal, já é possível observar a grande heterogeneidade, e particularidades dos territórios de cada Equipe de Saúde da Família, ampliando para o âmbito regional, temos a particularidade do número populacional, arrecadação financeira, adversidades políticas, estruturação de serviços ainda mais diversificados, e indo além, com tamanha extensão territorial de nosso país, as realidades se contrapõe com facilidade, onde o tema central pode ser um único, mas as dificuldades e realidades são extremamente diferente por vezes. A logística de distribuição para áreas remotas, a vacinação em comunidades ribeirinhas, e por vezes até a ausência de acesso à internet ou telefone para um agendamento talvez impeçam a replicação exata de ações como a desenvolvida em nosso munícipio e região, mas podem despertar inspiração para solução de sua problemática. A comunicação fora pilar essencial para o desenvolvimento desta experiência, comunicação entre municípios, setores, e principalmente usuários, envolvendo uma extensa gama de serviços, transporte, agendamentos, cadastramento a fim de garantir o acesso a vacinação e saúde ao usuário.
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