Inspirado no Ocupe o CS do Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (CSEB/FM/Usp), localizado no Butantã – espaço físico que existe desde 2017 para adolescentes e jovens atendidos neste serviço, construído para e pelas juventudes para a formulação sobre suas percepções sobre saúde; o Ocupe SUS Juventudes nasce em dezembro de 2020, como possibilidade de interação, construção social e política, de forma virtual, visando superar as adversidades do exercício da participação social frente às questões de juventudes e hiv. Em sua concepção é constituído por diferentes sujeitos sociais, como: usuários jovens do Sistema Único de Saúde (SUS), lideranças juvenis, ativistas, redes, coletivos, militantes de organizações não governamentais, trabalhadores da saúde e de outras áreas, pesquisadores e acadêmicos. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo, por meio da Coordenação Estadual de IST, HIV e AIDS sediada no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, foi a precursora do Ocupe SUS Juventudes, mecanismo que se estruturou como um espaço privilegiado para o compartilhar de práticas recomendadas pela Linha de Cuidado para a Saúde na Adolescência e Juventude para o Sistema Único de Saúde no Estado de São Paulo (LCA&J) (NASSER et al, 2021), visando sua aplicabilidade nos serviços de saúde e em outras instituições responsáveis pela promoção da educação em saúde sexual, reprodutiva e prevenção do hiv, aids e outras IST. Além disso, no contexto fazia-se necessário o aprofundamento das discussões advindas dos encontros juvenis da região sudeste do Brasil, coordenados pela Rede de Jovens São Paulo Posithivo (RJSP+), e registradas em cartas políticas e atas pelo Grupo de Trabalho (GT) Juventudes e transmissão vertical do hiv. Utilizando como principal estratégia estabelecer a educação popular e a troca de saberes para a participação social e a valorização da voz dos usuários, o Ocupe SUS Juventudes logo se transformou num espaço colaborativo, de coordenação coletiva e de práticas reflexivas relacionadas ao cuidar, resistir e como contribuir para o futuro, aprendendo com o passado, no aqui e agora. Seus objetivos principais são: valorizar práticas emancipatórias e humanizadas na aplicação da LCA&J nos serviços de saúde que atendem pessoas vivendo com hiv/aids , assim como nos espaços responsáveis pela promoção da saúde sexual e reprodutiva da juventude; informar aspectos relevantes de educação em saúde considerando a democratização da informação; promover o cuidado junto aos jovens no que se refere aos agravos da infecção hiv/aids; realizar a observação da LCA&J para ser aplicada de forma transversal à Rede de cuidado das pessoas vivendo com hiv/aids (PVHA) ; realizar monitoramento e ampliação do conhecimento no tema promoção e prevenção de agravos que se relacionam com sexualidade; e ampliar a participação política e social da juventude.
1. Falta de ações locais articuladas que promovam reflexão dialógica, conscientização e autonomia relacionadas a sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos com foco na prevenção das ist/hiv/aids de adolescentes e jovens
2. Falta de estratégias de educação permanente para profissionais da área da Educação e da Saúde na temática sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos com foco na prevenção das ist/hiv/aids para aplicação na execução das políticas públicas
3. Divulgação e articulação para implementação da linha de cuidado para a saúde na adolescência e juventude para o SUS no Estado de São Paulo nas regionais de saúde, nos municípios paulistas e ampliando as reflexões e diálogos para todo o Brasil
43 encontros de discussão de temas e estratégias de mobilização de juventudes;
Participação na implementação da LCA&J – SUS SP juntamente à SES SP;
Construção de ambiente online no site do CRT DST/Aids-SP para divulgação de ações educativas, incluindo materiais e podcasts;
Curso de formação de profissionais e lideranças juvenis em parceria com 4 instituições governamentais e 7 instituições não governamentais com experiência de atuação com adolescência e juventude;
90 podcasts para disseminação de práticas emancipatórias, de participação social, orientação de conteúdo de prevenção e promoção de saúde sexual e reprodutiva e prevenção de ist, hiv, aids e hepatites virais, incluindo a disseminação da prevenção combinada
Realização de 04 encontros exclusivos junto às juventudes;
Participação em 6 eventos nacionais disseminando conteúdos e estratégias de ação do grupo;
Criação do GT juventudes, saúde mental, redução de danos e cuidado em liberdade numa perspectiva antirracista e contra colonial;
Confecção de manual técnico online e impresso de 500 páginas “Adolescências e juventudes ocupando SUS: práticas de promoção, prevenção e assistência em saúde sexual e reprodutiva e IST/HIV/Aids” em cumprimento ao objetivo de democratização da informação, integralidade, intersetorialidade e educação permanente junto a entidades, escolas, ongs e coordenações de IST/HIV/AIDS de todo o estado, contendo conteúdos técnicos, comunitários e modelos de intervenção participativa com adolescentes e jovens (encontros, debates, oficinas presenciais, de corpo, grafitti, fanzine, teatro do oprimido entre outras), visando a promoção da autonomia para o cuidado em saúde sexual e reprodutiva e prevenção de ist, hiv, aids e hepatites virais e promoção da Saúde Mental, incluindo estratégias preventivas e de redução de danos frente ao uso de álcool e drogas link para acesso da publicação https://saude.sp.gov.br/instituto-de-saude/transparencia/ultimas-noticias/adolescencias-juventudes-ocupando-sus-praticas-de-promocao-prevencao-e-assistencia-em-saude-sexual-e-reprodutiva-e-isthivaids
Articulação e parceria entre organizações não governamentais e instituições governamentais: Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde/SP, Rede Nacional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA Brasil), RNAJVHA núcleo Espírito Santo, RNAJVHA núcleo Amazonas, RNAJVHA núcleo São Paulo, Rede de Jovens Minas Gerais, Rede de Jovem Rio+, Rede de Juventudes afetadas pela Tuberculose (RJAT Brasil), Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Grupo de Incentivo à Vida (GIV), Centro de Convivência “É de lei”, Mães pela Diversidade, Instituto Vida Nova, Associação Ilê Asé Iyalodé Oyó, Fundação Poder Jovem, OSCIP Terra das Andorinhas, Coletivo Megê, Associação Prudentina de Incentivo à Vida (APIV), Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras Núcleo São Paulo, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas núcleo São Paulo, Instituto Multiverso, Coletivo Luminar, Instituto Nacional de Pedagogia Hospitalar, Rede Nacional de Pessoas vivendo com HIV/Aids (RNP núcleo São Paulo) e Organização Social de Apoio à Cultura de Itapevi – OSACI, Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD Unifesp), Espaço Transcender (Usp) e Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS) núcleo SP.
A experiência foi uma das 5 experiências exitosas apresentadas no evento Dezembro Vermelho do Ministério da Saúde em dezembro de 2025 onde um convite é feito para todes através da Carta Manifesto:
O Ocupe SUS Juventudes nasce durante o enfrentamento da pandemia de Covid-19, como um movimento articulador e participativo. Inicialmente criado para divulgar e discutir a Linha de Cuidado da Adolescência e Juventude no SUS em São Paulo, o espaço cresceu e se tornou um observatório nacional de práticas, monitoramento e defesa da saúde das juventudes no campo das ist, hiv e aids. A partir de reuniões online e abertas, com interlocutores das regionais e coordenações municipais, o observatório passou a reunir profissionais de saúde, gestores, lideranças juvenis, organizações da sociedade civil e jovens vivendo com hiv e aids de diversas regiões do país, o que possibilitou um espaço plural e coletivo de construção. Assim, organizamos encontros mensais para discutir, monitorar e inspirar a aplicação de práticas emancipatórias no cuidado em saúde, com foco no protagonismo juvenil e na promoção da autonomia das juventudes. Nosso objetivo é fortalecer o SUS como espaço vivo, crítico e transformador, criando pontes entre experiências, territórios e realidades diversas. O que fazemos : o observatório promove troca de práticas e metodologias entre territórios; espaços de escuta qualificada para juventudes; enfrentamento à fragmentação do cuidado; ações de educação permanente interseccional; produção de materiais formativos (podcasts, publicações e debates); fomento à participação social de jovens vivendo com HIV. Porque é urgente existirmos ? Logo nas primeiras reuniões emergiram questões estruturais que atravessam, de forma interseccional, a saúde das juventudes no Brasil como, racismo, patriarcado, desigualdades de gênero, violência contra pessoas LGBTQIA+, capacitismo, encarceramento em massa, exclusão territorial, extermínio de jovens negros e da população indígena. Foi reconhecido que não avançaremos na prevenção combinada do hiv, nem até 2030, se não incorporarmos essas intersecções como elementos centrais para a reorganização da prática clínica, da gestão e do cuidado em nível local.
Hoje, os fluxos de cuidado são majoritariamente construídos para responder a uma juventude idealizada, branca, urbana, cis, escolarizada e sem vulnerabilidades estruturais. Esse modelo torna o cuidado fragmentado e invisibiliza territórios, corpos e necessidades reais, por isso investimos na produção de diálogos com o objetivo de reorganização estrutural dos processos de cuidado. O QUE VIVEMOS NA PRÁTICA ? Identificamos, ao longo das reflexões, que praticamente todos os usuários e profissionais envolvidos nessa luta, em nível local, sofrem ou já sofreram assédio moral por parte da gestão. Isso evidencia que a reestruturação das práticas e fluxos locais só será possível se profissionais e gestores incorporarem, em seu cotidiano de trabalho, o enfrentamento ativo às violências institucionais.
Para exemplificar, trazemos o caso de um jovem negro, de 17 anos, com exame CD4 < 70, que, para ser atendido, precisaria seguir um fluxo rígido, pensado a partir de uma lógica que não considera a exclusão estrutural da população negra. O profissional que tentou agilizar o atendimento, a fim de evitar o óbito (que é o desfecho recorrente quando tais desigualdades não são consideradas), foi acusado de “descumprir regras”. Este não é um episódio isolado: situações semelhantes foram relatadas por outros trabalhadores implicados em casos parecidos, evidenciando uma postura institucional neoliberal que busca silenciar tanto os usuários quanto quem luta pela integralidade do cuidado. Outros casos emblemáticos também foram trazidos, especialmente envolvendo: jovens LGBTQIA+, adolescentes que fazem uso de substâncias psicoativas, juventudes periféricas e racializadas. Nesses contextos, o silenciamento também é duplo: atinge os usuários e atinge os profissionais que tentam garantir o cuidado integral. Uma das principais estratégias institucionais para manter esse silenciamento é justamente deslegitimar quem propõe mudanças. O resultado desse fluxo fragmentado, que não atua na raiz dos problemas de saúde, como sabemos, tem sido:
óbitos evitáveis; fragilidade da atenção à saúde mental, especialmente no campo da redução de danos; tentativas de auto lesão ou suicídio; ausência de intervenções de prevenção em territórios periféricos; encarceramento em comunidades terapêuticas e invisibilização de populações vulnerabilizadas. Diante disso, o enfrentamento das IST/HIV/aids permanece prejudicado e sem mudanças estruturais. O que defendemos ? A Linha de Cuidado para Adolescentes e Juventudes no SUS é uma estratégia que visa organizar e integrar a atenção à saúde para este grupo, garantindo cuidado integral desde a atenção primária até a mais complexa. Seu objetivo é promover a saúde, prevenir agravos e garantir que adolescentes e jovens tenham acesso a serviços de forma acolhedora e contínua, considerando suas necessidades específicas, seu protagonismo e direitos. Mas como garantir a integralidade do cuidado se a própria rede, na prática, permanece fragmentada, como se corpos fossem fragmentados? Como falar de prevenção combinada se territórios, raças e identidades seguem invisibilizados ? Como avançar enquanto a juventude negra e indígena continua sendo a mais atingida? Assim fazemos um convite à ação: nosso observatório não nasce como um projeto, mas como um ponto de virada. Não há integralidade do cuidado enquanto o cuidado for aplicado para alguns e silenciar outros. A reconstrução do SUS passa por ouvir, reconhecer e mobilizar a potência política das juventudes. Seguimos firmes no compromisso de democratizar saberes, fortalecer práticas emancipatórias e construir, com base nas intersecções, novas formas de existir e cuidar no SUS. Estamos abertos a dialogar, construir e ocupar, com e para as juventudes, coletivamente, os caminhos para um SUS vivo, antirracista, anticapitalista, antimanicomialista, antiproibicionista, contra colonial e verdadeiramente público. O Sistema único de Saúde e sua política nacional de educação popular em saúde, são políticas contra coloniais, políticas inclusivas, participativas e dialógicas, assim temos a oportunidade do alcance da equidade nas nossas mãos. E você ? Cuida por inteiro ou pela metade?
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