A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) estabelece como atribuições comuns a todos os profissionais a participação no processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vulnerabilidades (BRASIL, 2017). A territorialização é o primeiro passo para a caracterização da realidade local, uma ferramenta metodológica que possibilita o reconhecimento das condições de vida e da situação de saúde da área de abrangência (Justo et al. 2017). As informações no mapa territorial devem ser as mais fidedignas possíveis da realidade local, pois quando se refere a territorialização em saúde, está englobando não só o território físico/geográfico, mas também o social com suas constantes mutações (Guimarães, 2016). O presente relato discute a importância de um mapa territorial em saúde mental como instrumento para o planejamento das atividades em saúde, direcionada a usuários em uso de psicotrópicos, de forma a colaborar na identificação das necessidades e as possíveis intervenções da população adscrita com adoecimento mental. Apresenta a experiência de uma Enfermeira da Atenção Primária à Saúde, no Município de Cuité no Curimataú Paraibano, no período de setembro de 2019 a fevereiro de 2020 a usuários em uso de psicotrópicos. No território podemos vislumbrar as necessidades dos usuários, identificar doenças, distinguir as diversas realidades e programar com a equipe de saúde, estratégias de cuidado.
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, com propósito de descrever a construção de um mapa territorial em saúde mental, por uma Enfermeira da Atenção Primária à Saúde, como instrumento de cuidado aos usuários em uso de psicotrópicos. O território é composto por quase três mil pessoas cadastradas e atendidas por seis agentes comunitários de saúde. Para a confecção do Mapa Territorial de Saúde Mental, foi utilizado um planejamento estratégico com a participação efetiva dos agentes comunitários de saúde (ACSs) com intuito de caracterizar e delimitar cada microárea. Foi elaborado uma ficha para o cadastramento dos usuários em uso de psicotrópicos que foram identificadas por uma cor relacionada a cada microárea, para melhor identificação, sendo inserido as seguintes variáveis: Nome do ACS para identificar a área de cobertura, nome do usuário, idade, sexo, endereço, estado civil, medicamento, dose, posologia, tempo de uso do medicamento e o motivo do uso do medicamento. Fichas preenchidas e numeradas, foram separadas por cor e analisadas de acordo com cada variável. As doenças referidas foram várias e para identifica-las, considerou-se necessário, legendar cada doença, representando cada uma com uma cor nas ruas em que pertenciam. Após as ruas mapeadas, o passo seguinte foi inserir de acordo com o levantamento das ruas, as doenças referidas pelos usuários no Mapa Territorial de Saúde Mental construído.
O território em saúde é o local de entendimento do processo de adoecimento, em que as representações sociais do processo saúde-doença envolvem as relações sociais e as significações culturais (Minayo,2006). Possibilitou-se através da construção do Mapa Territorial em Saúde Mental, reconhecer inúmeras doenças que foram referidas por 90 usuários que utilizavam os psicotrópicos. Doenças referidas (depressão, insônia, ansiedade, nervosismo, esquizofrenia, problema mental, retardo mental, cefaleia, epilepsia, alcoolismo, transtorno obsessivo compulsivo, convulsão, alzheimer, lesão cerebral, aneurisma, distúrbio neurológico, síndrome do pânico, dislexia, bipolaridade, fobia social, transtorno mental e psicose. Quanto a prevalência da idade por uso desse tipo de medicação acomete indivíduos em idade de 36 a 50 anos e os idosos também utilizam com frequência esses medicamentos. O público feminino predomina na utilização dessas substâncias e existem usuários com um tempo mínimo de uso e outros com mais de 30 anos. A prevalência de pessoas solteiras foi evidenciada em maior proporção. Diante dessa realidade foram trabalhados os Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) com o intuito de traçar uma estratégia de cuidado, através de condutas articuladas entre o usuário, a família, a equipe de saúde, equipe multiprofissional e trabalho intersetorial. Foi identificado pelos agentes de saúde que alguns usuários negam ser atendidos no centro de assistência psicossocial.
A territorialização representa um importante instrumento de organização do processo de trabalho e das práticas em saúde. Constituiu-se como uma ferramenta que possibilita o reconhecimento da situação social e das condições de saúde do território e de seus usuários. Para implementar as ações e instrumentalizar o cuidado, torna-se necessário conhecer o território, compreender como um espaço vivo e dinâmico, geograficamente delimitado e ocupado por uma população constituída de identidades culturais, sociais, políticas e específicas. Enquanto enfermeira inserida diretamente na atenção primária, a territorialização serviu de base não só para a efetivação de um diagnóstico em saúde, mas foi exitoso para a criação de vínculo entre profissionais, ESF e a comunidade, nos constituindo como sujeitos potenciais para intervir diretamente na realidade que se apresenta através de implementações das ações de saúde. Assim, torna-se necessário instrumentalizar a prática profissional com construções exitosas de Mapa Territorial em Saúde Mental, garantindo a eficiência dos serviços, ampliando possibilidades de atendimento a usuários com transtorno mental e desvinculando prática primárias de repetição de renovação de prescrição de medicamentos.
R. 19 de Julho, 91 - Das Graças, Cuité - PB, 58175-000, Brasil
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