O ambiente de trabalho pode representar um fator determinante para a saúde dos trabalhadores, sendo as doenças musculoesqueléticas (DME) uma das consequências mais frequentes. Essas condições impactam significativamente a qualidade de vida e a capacidade funcional dos indivíduos, resultando, frequentemente, em afastamentos laborais (LEE et al., 2015). Entre os profissionais de saúde, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são particularmente vulneráveis, uma vez que enfrentam sobrecargas físicas e emocionais inerentes à sua função. Atuando diretamente na comunidade em que residem, esses profissionais estão expostos a diversos fatores de risco ocupacionais e psicossociais. Estudos recentes apontam que os ACS apresentam alta prevalência de doenças crônicas, multimorbidades e hábitos de vida pouco saudáveis, como sedentarismo e consumo excessivo de sódio e álcool (MARTINS et al., 2019; MAGALHÃES et al., 2018). No entanto, há uma escassez de investigações sobre o impacto específico das DME na qualidade de vida desses trabalhadores. Diante dessa lacuna, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar a relação entre dores musculoesqueléticas e qualidade de vida dos ACS do município de Ibiara, Paraíba.
Para isso, foram estabelecidos objetivos específicos que incluem delinear o perfil clínico e sociodemográfico dos ACS, identificar as principais regiões anatômicas acometidas por DME, estimar o nível de qualidade de vida autopercebido e propor estratégias para a melhoria das condições de vida e trabalho desses profissionais. A relevância deste estudo fundamenta-se na necessidade de compreender e mitigar os impactos da DME sobre os ACS, cuja atuação é essencial para a Atenção Primária à Saúde (APS). A alta prevalência de dores musculoesqueléticas entre esses profissionais pode comprometer sua capacidade laboral e afetar a qualidade do atendimento prestado à população. Assim, a identificação das principais queixas e fatores associados permitirá o desenvolvimento de intervenções direcionadas, contribuindo para a melhoria da saúde ocupacional e da qualidade de vida desses trabalhadores.
As dores musculoesqueléticas representam um problema recorrente entre os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), resultando na redução da capacidade funcional e no comprometimento da qualidade de vida. Durante reuniões com profissionais da Secretaria de Saúde de Ibiara-PB, identificou-se uma alta incidência de queixas relacionadas a dores na região lombar, joelhos e tórax. Os principais desafios encontrados incluem a falta de estratégias preventivas para minimizar o impacto das DME, a ausência de suporte ergonômico e de medidas ocupacionais eficazes para reduzir a sobrecarga física no trabalho, bem como o impacto da dor musculoesquelética na capacidade funcional e no bem-estar dos profissionais, ocasionando maior fadiga e queda na produtividade. Além disso, destaca-se a necessidade de implementação de ações de educação em saúde voltadas para ergonomia, prática de atividade física e suporte psicossocial. A identificação desses fatores reforça a urgência da adoção de políticas que promovam a saúde dos ACS e evitem agravamentos futuros.
O estudo foi conduzido entre julho de 2023 e janeiro de 2024, envolvendo 16 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) do município de Ibiara-PB. A coleta e análise dos dados foram realizadas por meio de questionários validados e aplicação de métodos estatísticos adequados. O perfil sociodemográfico dos participantes revelou idades entre 32 e 62 anos, com média de 46,06 ± 9,86 anos, e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. A maioria dos ACS era do sexo feminino (81,3%) e casada (56,3%), predominando o vínculo empregatício efetivo (87,5%), com atuação igualmente distribuída entre as zonas urbana e rural.
As regiões anatômicas mais acometidas por dores musculoesqueléticas foram a lombar, os joelhos e o tórax. A análise estatística indicou que a dor lombar teve um impacto significativo na capacidade funcional (p=0,032), no estado geral de saúde (p=0,041) e na vitalidade (p=0,028). Já a dor nos joelhos comprometeu tanto a capacidade funcional (p=0,037) quanto a vitalidade (p=0,043), enquanto a dor torácica esteve significativamente associada à redução da vitalidade (p=0,049).
Os achados deste estudo corroboram pesquisas anteriores que relacionam as doenças musculoesqueléticas a limitações funcionais, impactos negativos na saúde mental e redução do bem-estar social (HARTVIGSEN et al., 2018; NEOGI, 2013). Diante desses resultados, reforça-se a necessidade de implementar ações voltadas à promoção da saúde ocupacional para os ACS, visando mitigar os efeitos das dores musculoesqueléticas e melhorar sua qualidade de vida.
Para que os achados deste estudo possam ser aplicados em outros contextos, é recomendada a adoção de estratégias direcionadas à saúde ocupacional dos ACS. Inicialmente, deve-se mapear as principais queixas musculoesqueléticas desses profissionais para que as intervenções sejam mais eficazes. A realização de avaliações periódicas, utilizando questionários validados, permite o monitoramento contínuo das condições de saúde e a identificação precoce de possíveis agravamentos.
A implementação de treinamentos ergonômicos e programas de prevenção das DME, com foco em posturas adequadas e técnicas para minimizar a sobrecarga física, é essencial para reduzir a incidência dessas condições. Além disso, a promoção de atividades físicas adaptadas pode incentivar a prática de exercícios que auxiliem na prevenção e alívio das dores musculoesqueléticas.
Dada a alta demanda emocional inerente à profissão, a criação de grupos de suporte psicossocial e manejo do estresse se torna uma medida relevante para melhorar o bem-estar dos ACS. Para garantir a efetividade dessas ações, é fundamental engajar a gestão municipal na formulação de políticas públicas voltadas à saúde ocupacional desses profissionais e integrar as estratégias preventivas às políticas de Atenção Primária à Saúde, aproveitando os recursos já disponíveis.
Por fim, o monitoramento contínuo dos impactos das intervenções deve ser realizado por meio da análise periódica dos indicadores de saúde e qualidade de vida dos ACS. A replicação dessas estratégias pode contribuir significativamente para a melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida desses profissionais em diferentes contextos, reduzindo o impacto das dores musculoesqueléticas e fortalecendo a atenção primária à saúde.
R. Armênia Siqueira Campos, 150 - A Definir, Ibiara - PB, 58980-000, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO