Neste trabalho, a Equipe de Saúde do município de Joaquim Felício – MG se propõe a mostrar suas ações na busca pelo aumento da cobertura vacinal no município, justificando o êxito ao comparar os anos de 2019 e 2022. A escolha desses anos se deu para eliminar o fator de confusão ‘pandemia de Sars-Cov-2′ de 2020 e o período inicial de transição de suas ações, que se deram em 2021. As principais dificuldades e problemáticas levantadas pela equipe e gestores foram: análise das demandas e melhoramento técnico da Equipe de Saúde, não se limitando a Equipe de Vacina; análise e melhoramento das instalações da sala de vacina; dificuldade de acesso à UBS por parte dos pacientes e seus cuidadores; e qualificação do registro de vacinas aplicadas. Por sua vez, as ações se concentraram em dois grandes objetivos: I) cumprir integralmente o Programa Nacional de Imunizações (PNI) em todos os menores de um ano, coibindo o aumento da taxa da população não-imunizada do munícipio; II) vacinação e/ou registro das crianças que não haviam registro no sistema uniformizado; III) Melhorar a classificação de Risco para Reintrodução de Doenças Imunopreviníveis do município, para a Secretaria de Estado de Minas Gerais. Ao comparar o resultado entre os anos de 2019 e 2022, notamos uma melhora no desempenho de aplicação e registro de no mínimo 60% para todas as vacinas de menores de 1 ano de idade do PNI, chegando em até 200%, como na vacina da BCG, comprovando a efetividade das medidas aplicadas, bem como melhora significativa da Classificação de Risco, saindo de Risco Alto em 2020 para Risco Muito Baixo, já em 2021.
Como já descrito, a análise dos problemas foi feita sobretudo pela enfermeira responsável pela sala de vacina. Obviamente, esta não se deparou com um único problema, mas, sim, uma gama de problemas intrincados, que em sinergia, dificultavam os registros e o acesso a vacinação adequados no município. As principais causas observadas podem ser divididas em três grupos, em caráter técnico, físico e social. Entre as causas técnicas, podemos citar o desconhecimento por parte dos próprios agentes de saúde da importância da vacinação. Isto se tornava principalmente agravante para as ACS, que muitas vezes eram a porta da UBS para os cidadãos e poderiam funcionar como grandes disseminadoras de informações positivas e auxiliadores na vista do cartão de vacina de todos os cidadãos. Além disso, cita-se também a necessidade de se adaptar ao sistema de registro das vacinas pela Equipe da Vacina, não se limitando ao cartão físico. Em relação ao grupo de problemas físicos, citamos um espaço muitas vezes insuficiente para a vacinação e todo o material envolvido. Ademais, a ausência de veículo específico para a Equipe de Vacina dificultava que fosse feito uma busca ativa, incluindo visitas domiciliares aos cidadãos que necessitavam. Por último, é valido expor os problemas sociais, embora esses sejam mais difíceis de quantificar. Inúmeros pacientes, principalmente aqueles de maior vulnerabilidade social, não buscam a imunização devido à dificuldade de locomoção e acesso. Apesar da pandemia de COVID-19 ter suscitado novamente a importância da vacinação, a volta da imunização à mesa de discussão também trouxe o aumento das ‘fake news’. Dessa forma, também foi elencado como desafio a desinformação em relação a vacinação por parte da população.
Após o diagnóstico situacional observado pela equipe técnica da sala de vacina, e descrito acima, as ações foram problemas-orientadas e agrupadas duas frentes: I) impedir que “as novas crianças” tenham o cartão em atraso; II) mitigar os problemas de vacinas não aplicada ou não registradas das “crianças antigas”, que estão com a caderneta em atraso no sistema. Essa divisão, apesar de facilitar a programação, era mais teórica do que prática, uma vez que as ações, em sua maioria, atuavam nas duas frentes. À exemplo: sob tutela da enfermeira responsável, foi realizado, junto da secretaria de saúde, uma reunião presencial no dia 18/07/2022, com profissionais de múltiplas áreas, como a Vigilância em Saúde, eSFs, PACS, CRAS, Conselho Tutelar, Secretaria de Educação e a Secretaria de Assistência Social, com o intuito de fortalecer o processo e a importância da vacinação com agentes que possam sensibilizar a população. Com essa ação, buscava-se levar a informação até o cidadão final, diminuindo a resistência da população e incentivando-os a vacinar. Em 31/08/2022, foi realizada uma visita por técnico em sala de vacina e fiscal sanitário para diagnóstico e monitoramento da sala de vacina. Através do recurso financeiro disponibilizado para estruturação das ações de imunização, está sendo construída, já em fase final, um prédio próprio para a sala de vacinação e almoxarifado situado em anexo a UBS para melhorar a qualidade do atendimento prestado à população, conforme proposto pela equipe técnica. Outras ações para a solução de problemas físicos com impactos sociais incluíram a aquisição de veículo próprio para a sala de vacina. É importante destacar que anterior a essa data os gestores já haviam compreendido da necessidade de veículo para a Equipe da Vacina, revezando o uso de carros destinado a outras funções, como o carro das eSFs desde 2021/2. Assim, mesmo antes do carro próprio, já era possível realizar visitas domiciliares as comunidades com maior dificuldade de acesso pelo menos uma vez por mês dado a organização interna dos gestores. Devido ao registro muitas vezes ter se limitado ao cartão físico, inúmeras crianças foram vacinadas sem terem sido lançadas no sistema informatizado. Dessa forma, com os ACS agora cientes da importância da vacinação, foi realizado uma capacitação, para que estes pudessem aprender a ler o cartão de vacina e, posteriormente, foi re-implantado o cartão espelho. Os ACS realizam o preenchimento de formulário nas visitas domiciliares, de forma a informar quais crianças haviam tomado quais vacinas. Com isso, foi possível localizar e dimensionar todas as crianças que de fato estavam em atraso vacinal e quais necessitavam de atualização cadastral. Cabe ressaltar que neste levantamento, pode ser verificado que haviam poucas crianças em atraso vacinal, mas que a enorme maioria dos cartões de vacina, não estavam disponibilizados e forma correta no sistema ESUS AB, o que foi feito para todas as crianças menores de 5 anos que estavam cadastradas na base local do sistema. Concomitantemente, foi elaborada uma planilha simples de acompanhamento e aprazamento manual das próximas vacinas a serem aplicadas. Através deste instrumento, a enfermeira informa semanalmente, sempre as segundas-feiras, aos ACSs quais crianças precisam ser vacinadas naquela semana e faz o controle de comparecimento das mesmas. Trata-se de uma planilha do Excel, conforme imagem abaixo, em forma de calendário, para preenchimento manual, sendo de fácil leitura e acompanhamento. Além disso, para um melhor planejamento e melhoramento técnico contínuo da equipe, a partir de outubro de 2022, começamos a realizar reuniões mensais com a Equipe de Imunização, Vigilância, eSF, NASF, Secretaria Municipal de Saúde e os acadêmicos da UFMG. Como resultado, melhoramos a articulação de parcerias entre as equipes, de modo a um aprimoramento contínuo do serviço prestado. Por último, para lidar com a dificuldade de acesso que inúmeros trabalhadores apresentam de atender a UBS em horário comercial, pactuamos a extensão do horário da sala de vacina, uma vez a cada 15 dias, e a abertura da sala de vacina um sábado de cada mês. Assim, possibilitamos aos trabalhadores levarem as suas crianças para a vacinação sem prejuízo laboral. É válido destacar outras ações realizadas pela Equipe de Vacina que não constam no Plano de Ação Municipal para o aumento da cobertura vacinal e que, mesmo assim, foram realizadas. Por exemplo: como fruto das reuniões mensais entre as equipes, foi pactuado que, pelo menos uma vez por semestre, a enfermeira responsável iria comparecer as reuniões mensais de Educação em Saúde para as gestantes. Com isso, todas as mães e parceiros já ficam cientes da importância e das idades para aplicação das vacinas mesmo antes do nascimento da criança, incentivando-os a buscarem a sala de vacina nos momentos corretos. Outra ação que também merece destaque foi resultado do diálogo com os gestores de saúde: o uso de carro de som para repassar informações tidas como vitais pela equipe de vacinação. Com isso, foi possível estabelecer uma linha de contato direto com a população, repassando informações positivas e confiáveis sobre a importância dos imunizantes e avisar de ações a serem realizadas, como mutirões e expansão do horário de funcionamento da sala de vacina. Como podemos visualizar abaixo pelos dados comparativos de 2019 com 2022, as medidas foram eficazes. Após a implementação, houve melhora de todas as vacinas apresentadas, com um aumento de, em pontos percentuais: 47,67 para Rotavírus Humano; 70,35 para Meningococo C; 85,29 para Hepatite B; 85,29 para Pentavalente; 55,27 para Pneumocócica; 78,68 para Poliomielite; 48,53 para Febre Amarela. A vacina de BCG apresentou um aumento de 62,01 p.p. Os percentuais acima de 100% são resultado da busca aos indivíduos não vacinados e o registro póstumo do cartão-espelho de algumas doses não registradas no sistema ESUS AB. É uma mostra clara dos esforços e dos resultados da equipe na busca ativa pelos indivíduos que mais necessitavam. Quando olhamos para os aumentos percentuais, os números são ainda mais impressionantes: 60,46% para Rotavírus Humano; 99,3% para Meningococo C; 170,5% para Hepatite B; 170,5% para Pentavalente; 71,7% para Pneumocócica; 125,8% para Poliomielite; 64,7% para Febre Amarela. A vacina de BCG apresentou um aumento de 212,5%. A vacina de BCG, novamente, merece um parágrafo a parte. Como comentado anteriormente, a aplicação deste imunobiológico é de responsabilidade da maternidade de referência, em Bocaiúva. Foi notado pela equipe local que na maior parte das vezes, a vacina havia sido aplicada, uma vez que havia a marca característica desse imunobiológico no braço direito das crianças ou apresentavam registro em formulário trazido da maternidade, mas sem o registro em cartão ou registro informatizado. À vista disso, a equipe local entrou em contato com a maternidade de referência solicitando melhor registro desta vacina. Além disso, para as crianças em que não foi possível contabilizar pela aplicação, o que ocorria principalmente naquelas não nascidas na maternidade de referência, a própria equipe local começou a organizar a aplicação. Cabe neste caso ressaltar, que Joaquim Felício é o primeiro município pertencente a Macro Região de Montes Claros e que faz sua divisa mais próxima com o município de Buenópolis, pertencente a região de saúde de Sete Lagoas, na qual as maternidades não realizam BCG e os recém nascidos são referenciados a UBS do município de Joaquim Felício, para a realização da vacina.
O resultado apresentado neste trabalho é um compilado de múltiplos esforços. Embora houvesse uma equipe responsável direta pela imunização, não teria sido possível chegar aonde chegamos sem os inúmeros outros agentes envolvidos. Entre eles, destacamos os secretários de saúde, as eSF, as ACS, os acadêmicos de medicina da UFMG e, obviamente, a Equipe de Imunização. Para a equipe local, os bons resultados demonstrados nesta dissertação servem como incentivo para a busca contínua pelo aperfeiçoamento, e não motivo de inércia. As ações realizadas são simples e de baixo investimento, financeiro, mas de grande impacto para a proteção da população atendida. Para outros gestores, este bom desempenho é o resultado de medidas facilmente reproduzíveis em diversas localidades, e que podem servir de inspiração para a melhora da vacinação em outros municípios.
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