Cuidado integrativo e sistêmico em território indígena: relato de experiência com uma família pataxó na Aldeia Nova Coroa, Santa Cruz Cabrália (BA)

Autores
Diego da Rosa Leal¹
Ana Cristina Medeiros²
Kailany Pataxó³
¹ Enfermeiro, terapeuta integrativo, constelador, coordenador do NPICS Brasil, servidor cedido ao CEJUSC Cabrália – COREN 98607
² Advogada e consteladora familiar, colaboradora do CEJUSC e NPICS Terra Máter
³ Agente Comunitária de Saúde Indígena, Aldeia Nova Coroa – Santa Cruz Cabrália/BA

Resumo
Este relato de experiência apresenta o cuidado sistêmico e integrativo realizado com uma família indígena da Aldeia Nova Coroa, no município de Santa Cruz Cabrália (BA). O processo teve início no contexto pós-pandêmico, com articulação entre o NASF e a liderança local, voltado inicialmente ao tratamento de um homem com alcoolismo. A adesão ao cuidado partiu da matriarca da família, que passou por acolhimento em saúde mental, uso de florais e constelação sistêmica. Ao longo dos anos, o cuidado foi reatualizado em função de episódios clínicos e sociais, como um grave episódio cardíaco da paciente e, posteriormente, um caso de violência doméstica envolvendo sua filha. O artigo destaca o protagonismo da rede de proteção, a importância das práticas integrativas no território e o papel das agentes de saúde indígenas no cuidado humanizado e articulado com a espiritualidade, a ancestralidade e a justiça restaurativa.
Palavras-chave: Saúde indígena; Práticas integrativas; Constelação familiar; Violência doméstica; Rede de proteção; Marcapasso; Sistema familiar; SUS; CAPS; CREAS.

Abstract
This experience report presents a systemic and integrative care process developed with an indigenous family from the Nova Coroa Village, located in the municipality of Santa Cruz Cabrália (Bahia, Brazil). The initiative started in the post-pandemic period through a partnership between the NASF and indigenous leadership, initially focusing on a man with alcoholism. The therapeutic adherence came from the family matriarch, who underwent mental health care including florals and systemic constellation. Over the years, care was reactivated due to clinical and social events, including a cardiac emergency and, later, a case of domestic violence involving her daughter. This article highlights the role of the protection network, the importance of integrative practices in indigenous territories, and the pivotal contribution of indigenous community health agents in humanized and spiritual care integrated with restorative justice.
Keywords: Indigenous health; Integrative practices; Family constellation; Domestic violence; Protection network; Pacemaker; Family system; SUS; CAPS; CREAS.

INTRODUÇÃO, OBJETIVO E METODOLOGIA
Epígrafe
“A alma encontra repouso quando tudo e todos têm um lugar no coração.”
— Bert Hellinger

1. INTRODUÇÃO
A saúde indígena no Brasil, especialmente no contexto pós-pandêmico, requer abordagens que integrem saberes tradicionais, práticas integrativas e tecnologias do cuidado que respeitem a ancestralidade e os modos próprios de vida. Em territórios como o da Aldeia Nova Coroa, no município de Santa Cruz Cabrália (BA), experiências comunitárias de cuidado têm demonstrado que a escuta sensível, os vínculos intergeracionais e o olhar sistêmico sobre o sofrimento psíquico e físico podem produzir transformações potentes no campo da saúde pública.
Este artigo relata a experiência de acompanhamento clínico, espiritual, psicossocial e sistêmico com uma família indígena pataxó, marcada por múltiplos episódios de sofrimento, violência e doença — e, ao mesmo tempo, por resistência, fé e reorganização familiar. Iniciado em articulação com o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) e as lideranças da aldeia, o processo se desenvolveu ao longo de vários anos com o suporte da rede local (CAPS, CREAS, CRAM, CEJUSC, Agentes Indígenas) e foi reativado a partir de novos episódios clínicos e jurídicos envolvendo diferentes membros do sistema familiar.
A experiência revela como as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) — especialmente os florais, a constelação familiar, a meditação sistêmica e a escuta clínica — podem dialogar com a espiritualidade e com os serviços de saúde mental e justiça restaurativa, oferecendo um cuidado humanizado e coerente com os princípios do SUS: universalidade, integralidade e equidade.

2. OBJETIVO
Relatar uma experiência de cuidado integrativo e sistêmico com uma família indígena residente na Aldeia Nova Coroa, em Santa Cruz Cabrália (BA), destacando os efeitos terapêuticos da escuta sensível, do vínculo longitudinal e das práticas integrativas no enfrentamento de traumas, adoecimentos crônicos e violências intergeracionais.

3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência com abordagem qualitativa e caráter descritivo-narrativo. Os dados apresentados decorrem da vivência do autor enquanto enfermeiro da rede SUS, terapeuta integrativo e facilitador de constelações sistêmicas familiares, com registros em prontuários do CAPS e do NPICS Terra Máter.
As ações foram realizadas em território indígena pataxó, com autorização da liderança comunitária e adesão voluntária dos membros da família, respeitando os princípios éticos do cuidado relacional. A narrativa é construída a partir da memória profissional e de relatos orais da paciente, da agente comunitária de saúde indígena e dos profissionais envolvidos no caso.
As identidades foram preservadas por meio do uso de iniciais, com o intuito de proteger a privacidade dos sujeitos. A metodologia valoriza o testemunho vivido, a experiência intersubjetiva e os vínculos comunitários como fontes legítimas de conhecimento e transformação.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
4.1. Primeiras aproximações e o início do cuidado com B.F.
O acompanhamento à família Pataxó da Aldeia Nova Coroa teve início ainda no contexto pós-pandêmico, a partir de uma articulação entre a equipe do NASF e a liderança comunitária local, especialmente a técnica de enfermagem indígena — esposa do cacique da aldeia — que intermediou o primeiro contato. A motivação inicial foi o caso de um dos filhos da paciente, com sinais graves de dependência alcoólica e em situação de sofrimento psíquico e vulnerabilidade.
Apesar do foco inicial ser o filho, ele recusou o cuidado. A adesão, no entanto, partiu da matriarca da família, identificada aqui como B.F., que se mostrou receptiva e aberta a iniciar um processo terapêutico. O autor deste artigo realizou o primeiro acolhimento, enquanto enfermeiro e terapeuta integrativo, conduzindo a escuta clínica inicial no CAPS e iniciando o prontuário de acompanhamento.
Durante a escuta, B.F. compartilhou episódios de violência sexual vividos em contextos rurais distintos. Relatou dois estupros ocorridos em momentos diferentes da vida, com semelhanças entre os episódios, que ela mesma identificava como “coincidências”, demonstrando uma percepção instintiva das repetições e sincronicidades em sua história. A dor expressa por B.F. foi profunda, carregada de vergonha, tristeza e uma sensação de abandono espiritual.
A partir desse momento, foi construído um Projeto Terapêutico Singular (PTS) envolvendo florais de Bach, práticas integrativas em grupo e sessões de constelação familiar sistêmica, com acompanhamento conjunto da advogada e consteladora Ana Cristina Medeiros. A adesão de B.F. ao uso dos florais de Bach representou um passo importante na reorganização do seu campo emocional, promovendo, segundo a filosofia de Bach (1931), uma reconexão entre a alma e a personalidade. A constelação na água foi um marco no processo de reorganização interna de B.F., que passou a apresentar melhoras perceptíveis na escuta clínica, nas interações familiares e na expressão de sentimentos.

4.2. Episódio agudo e o papel da agente de saúde indígena
A continuidade do cuidado com B.F. teve um momento crítico em 2022, quando um episódio cardíaco grave foi identificado pela Agente Comunitária de Saúde Indígena, recém-ingressa na equipe local. Em seu depoimento, ela relata:
“Uma experiência que eu tive com a Dona B.F. foi logo quando entrei na equipe, em setembro de 2022. Em outubro, fiz uma visita não programada à sua rua. Quando cheguei à casa, ela me disse que sentia o coração bater muito devagar. Pediu que eu aferisse sua pressão. Os batimentos estavam em torno de 39 a 40. Confirmei com meu oxímetro e depois com meu aparelho manual. Eu ainda era estudante de técnico em enfermagem, mas achei estranho e liguei para a coordenadora, enfermeira (A.). Ela orientou que fosse solicitado transporte imediato para o hospital.”
A agente acompanhou a paciente até o hospital de Santa Cruz Cabrália, acionando sua própria mãe para acompanhar a paciente durante a triagem, pois B.F. estava sozinha e não tinha com quem ir. O médico local recomendou encaminhamento direto para o Hospital Luiz Eduardo Magalhães, em Porto Seguro, considerando a urgência da situação.
A paciente ainda relutava em ir de imediato, mas foi convencida pela agente:
“Ela disse que iria só às cinco da tarde, que um membro da igreja a levaria. Mas eu insisti: Dona B.F., vá agora, o médico pediu urgência. E graças a Deus ela foi.”
Ao chegar no hospital, foi imediatamente internada na semi-intensiva e ficou cerca de 15 dias aguardando cirurgia. A gravidade só foi percebida pela própria paciente quando recebeu a notícia de que seria levada de avião para Jequié para implantar um marcapasso, pois seu coração já não funcionava adequadamente sozinho.
Durante esse processo, a prima R. F. — figura importante na rede informal de apoio — acompanhou a paciente. Ao retornar para casa, foi novamente visitada pela agente e pela equipe, recebendo orientações de pós-operatório, cuidados clínicos e reorganização do seguimento terapêutico.
Segundo relato da agente:
“Ela me agradeceu muito. Disse que se eu não tivesse passado na casa dela naquele dia, talvez ela nem estivesse mais aqui.”

4.3. Reatualização do sistema familiar: a filha, a violência e a rede de proteção
Em 2025, o cuidado com a família foi reativado, desta vez a partir de uma situação envolvendo a filha de B.F., identificada aqui como R., e seu companheiro, R.A. O casal enfrentava um processo judicial em função de um episódio de violência doméstica. Embora os detalhes do caso não sejam abordados neste relato, o episódio ativou novamente a rede de proteção social e de saúde.
Como enfermeiro da rede e terapeuta integrativo, o autor retornou às visitas domiciliares, agora com foco no cuidado do casal, reforçando o vínculo com B.F. e iniciando o acompanhamento sistêmico de R. Esta participou de uma meditação sistêmica no Fórum, durante o acolhimento da vítima, em uma ação articulada com o CEJUSC e o setor de Práticas Integrativas do Npics Terra Máter.
Atualmente, a filha está sendo acompanhada pelo CREAS, pelo CRAM e pelo CAPS, sendo o marido também integrado ao cuidado em saúde mental, com consultas agendadas com a equipe interdisciplinar. A abordagem parte de um olhar restaurativo e integrativo, com foco na reconexão dos vínculos, na responsabilização e no cuidado continuado, sempre com respeito ao tempo e à vontade de cada sujeito.
Essa reatualização do acompanhamento reforça a importância da longitudinalidade do cuidado em territórios vulnerabilizados, onde o sofrimento raramente é isolado, mas sim sistêmico, intergeracional e comunitário.

5. DISCUSSÃO
A experiência relatada neste artigo evidencia o potencial transformador das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) quando aplicadas em territórios indígenas com base no vínculo, na escuta e na confiança mútua. A trajetória da família acompanhada mostra que o cuidado em saúde mental não pode ser compreendido apenas pela via biomédica, mas sim a partir da interdependência entre história familiar, sofrimento simbólico, espiritualidade, ancestralidade e relações intergeracionais.
A escuta qualificada oferecida à matriarca, B.F., permitiu a ressignificação de traumas profundos e a criação de um campo de cuidado afetivo e terapêutico. O uso de florais, as constelações sistêmicas e os procedimentos de meditação atuaram como tecnologias relacionais que favoreceram reorganizações internas e familiares.
Conforme autores como Barreto (2012), Hellinger (2003) e Pellegrini (2019), o cuidado relacional é, por si só, uma potência de reorganização da vida.
Conforme proposto por Bach (1931), os estados emocionais desorganizados são considerados causas espirituais do adoecimento físico, sendo os florais utilizados como agentes sutis de equilíbrio emocional, espiritual e energético.
O papel da Agente Comunitária de Saúde Indígena se destacou como exemplo da atuação viva, sensível e humanizada dentro da rede SUS, articulando saberes técnicos com práticas de cuidado solidário. Sua prontidão e iniciativa salvaram a vida de B.F., revelando o quanto a presença e a escuta no território são fundamentais para a integralidade do cuidado.
A reatualização do acompanhamento, a partir da violência doméstica sofrida pela filha do casal, demonstra a força dos vínculos familiares como pontos de alavancagem para a intervenção em rede. Situações que, à primeira vista, remetem à desordem e à dor, podem também abrir caminhos para reconstrução, se acolhidas por uma rede que combina justiça restaurativa, atenção psicossocial e abordagem sistêmica — como ocorre no CEJUSC Cabrália, articulado ao NPICS Brasil.
A articulação entre CAPS, CREAS, CRAM, CEJUSC e rede comunitária indígena reforça a importância de linhas de cuidado territoriais e interinstitucionais, respeitando as complexidades e os tempos próprios de cada sistema familiar.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente relato reafirma que o cuidado em saúde indígena requer mais do que protocolos clínicos: exige presença, escuta, vínculo e abertura para tecnologias relacionais que respeitem o sagrado, a ancestralidade e a complexidade dos sistemas familiares.
A história de B.F. e sua família revela que é possível unir práticas clínicas, espirituais e comunitárias em um cuidado verdadeiramente integral. O diálogo entre o saber biomédico e o saber tradicional, entre a justiça formal e a justiça restaurativa, entre a clínica e a constelação familiar, não só é possível como necessário.
Recomenda-se o fortalecimento da formação em práticas integrativas para profissionais da atenção básica, a valorização do trabalho das agentes indígenas de saúde e a implementação de projetos terapêuticos singulares com abordagem sistêmica nas políticas públicas de saúde e assistência social.
Por fim, este relato é uma expressão viva do que o Sistema Único de Saúde pode ser quando enraizado nos territórios e alimentado pela escuta do que pulsa no invisível.

Referências Bibliográficas
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BACH, Edward. Cura-te a ti mesmo. São Paulo: Pensamento, 2006..
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral dos Povos Indígenas. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde: PICS no SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
HELLINGER, Bert. Ordens do Amor: um guia para o trabalho com constelações familiares. São Paulo: Cultrix, 2003.
LEAL, Diego da Rosa. A Constelação Sistêmica enquanto solução interdisciplinar e intercultural no contexto do SUS. Transcrição da live apresentada ao Telesaúde Bahia, 2023. Disponível em: https://www.familysearch.org/photos/artifacts/221944580. Acesso em: 31 jul. 2025.
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SILVA, M. R.; PEREIRA, M. G. Enfermagem psiquiátrica e o cuidado integral: perspectivas e desafios na atenção à saúde mental. Revista de Enfermagem UFPE, Recife, v. 14, e245793, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/245793. Acesso em: 31 jul. 2025.
VIEIRA, A. L.; MAGALHÃES, A. A. P. Justiça Restaurativa: uma nova perspectiva para resolução de conflitos. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 123-140, 2019.

Agradecimentos
A equipe autora expressa sua profunda gratidão ao Polo Base da SESAI de Porto Seguro, na figura da enfermeira Sirlene Lopes, pelo acolhimento sensível e pelo comprometimento contínuo com os projetos de saúde integral e intercultural desenvolvidos ao longo de mais de uma década junto às comunidades indígenas do extremo sul da Bahia.
Agradecemos, de maneira especial, à Rita Pataxó, profissional de enfermagem, liderança comunitária e esposa do cacique da Aldeia Nova Coroa, cuja atuação incansável, delicada e profundamente humana tem sido fundamental na articulação intersetorial e na criação de pontes entre as famílias da aldeia e a rede de atenção psicossocial de Santa Cruz Cabrália. Seu exemplo inspira uma prática de cuidado enraizada na ancestralidade, na escuta e no respeito ao território.
Aos enfermeiros da unidade, pelo apoio sensível na construção e no fortalecimento do Projeto Terapêutico Singular da família em questão, nossa admiração e reconhecimento.
E também registramos nosso agradecimento à dedicada equipe do CRAM de Santa Cruz Cabrália, pelo trabalho atento e acolhedor, realizado não apenas de forma presencial, mas também no suporte online, garantindo o acompanhamento continuado e empático ao caso de R. e de tantas outras mulheres em situação de vulnerabilidade.
Este trabalho só foi possível graças à construção coletiva e ao espírito de corresponsabilidade que move cada profissional e liderança envolvida na rede de cuidado.

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Autores Diego da Rosa Leal¹ Ana Cristina Medeiros² Kailany Pataxó³

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