A infecção pelo HIV alcança perfis diversos ao longo do tempo e nas diferentes localidades em que se faz presente. A evolução no tratamento permitiu que passasse a ser considerada uma condição crônica de saúde, com tratamento integral ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Aumento na sobrevida e melhoria na qualidade de vida em pessoas que vivem com HIV são importantes ganhos obtidos a partir desses avanços, todavia é necessário voltar os olhares para os novos casos de infecção, que continuam crescentes em segmentos e momentos específicos. Foi realizada análise descritiva das características epidemiológicas e sociodemográficas dos casos de infecção pelo HIV notificados no município de Ipatinga, Minas Gerais, entre os anos de 2000 e 2019, contemplando as duas últimas décadas, e em período anterior à emergência causada pela pandemia de covid-19. Os dados foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponíveis para acesso aberto (datasus.gov.br). Para o cálculo das taxas de incidência padronizadas foi considerado o número de casos notificados e a população residente, estratificados por sexo, para cada ano. Foi realizada análise por regressão joinpoint (https://surveillance.cancer.gov/joinpoint) para a identificação de tendência por pontos de inflexão (APC, annual percent change) e para o período completo (AAPC, average annual percent change); e considerada significância estatística de 5%.
Conhecer é o primeiro passo para a identificação das demandas locais, e para que seja possível implementar estratégias direcionadas às especificidades de cada segmento da população, consideradas as suas vulnerabilidades e os desafios que lhe são próprios. Compreende-se que uma análise de tendência, situada em um contexto sócio-histórico local e de políticas públicas possa contribuir para elucidar trajetórias de distribuição dos casos e, assim, apontar para possibilidades de intervenção.
A maior proporção de casos foi observada para o sexo masculino (64,53%) e em jovens adultos (78,5% dos casos entre 20 e 49 anos). A via de transmissão é majoritariamente heterossexual (63,03%). Há predomínio de casos em negros (46,55% entre pretos e pardos) e com baixa escolaridade, sendo 52,25% dos casos com Ensino Fundamental. A evolução temporal das taxas de incidência por sexos evidencia maiores magnitudes para o sexo masculino na maior parte do período analisado, a maior taxa observada em 2011 (13,43/100.000) e menor em 2017 (1,39/100.000); para o estrato feminino, a maior taxa foi observada em 2009 (8,21/100.000) e a menor em 2019 (1,36/100.000). As variações observadas nas taxas de incidência para cada sexo, com períodos de incremento e de declínio, evidenciam diferentes razões entre as taxas de incidência por sexos, com menor valor observado em 2017 (0,89) e maior em 2014 (5,00). A análise de tendências no município indica declínio nas taxas para ambos os sexos, com significância estatística para o estrato feminino. Observa-se que, ao longo do tempo, a proporção de casos se mantém maior em indivíduos do sexo masculino, entretanto, a predominância da via de transmissão heterossexual aponta para mudanças na dinâmica de distribuição dos casos, com ampliação do alcance em mulheres. Ao analisar a distribuição por ano, nota-se importante diferença nas magnitudes das taxas e variações nas razões entre os sexos. Variações nas taxas de incidência são associadas a diferenças no acesso a diagnóstico, possibilidades de adoção de práticas preventivas, disponibilidade de políticas de saúde e vulnerabilidades relacionadas a aspectos como sexo/gênero e raça/etnia.
As diferenças nas tendências de distribuição dos casos e suas características sociodemográficas apontam para a importância do direcionamento de ações considerando especificidades de diferentes grupos populacionais. Lançar luz à prevenção da infecção em mulheres inclui considerar a noção de risco, muitas vezes negligenciada devido ao estigma que a perpassa. Propostas de intervenção que considerem essas nuances estão em construção no município, por meio de estratégias educativas e que possibilitem a ampliação das possibilidades de autonomia nas escolhas preventivas.
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