AMPLIA – Atendimento Matricial de Psiquiatria: Local, Integral e Ampliado
Apresentação:
O AMPLIA é um ambulatório ampliado, criado a partir de uma exigência do MEC para a formação de psiquiatras referida à prática ambulatorial. Passa a compor a grade de formação dos alunos de residência de Psiquiatria da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (Programa de Residência sob a organização e responsabilidade de equipe sediada no Instituto Municipal Philippe Pinel). A experiência retratada aqui compreende o início da implantação do serviço, de abril a outubro de 2024. Os tradicionais ambulatórios Psiquiatria da cidade do Rio de Janeiro não conseguem garantir o desenvolvimento das competências necessárias à formação de psiquiatras para atuar no SUS. A aposta do Amplia é ter como norte o apoio matricial. A ideia é de uma dupla formação: que as clínicas de família e o dispositivo do apoio matricial sirvam para o aprendizado dos residentes de psiquiatria e que estes ofereçam formação, privilegiadamente, aos médicos das equipes de referência e, ao conjunto de profissionais destas equipes. A intenção é que os alunos da residência sejam modificados pela lógica do apoio matricial e pelo cotidiano plural das clínicas e, que convoquem os profissionais destas equipes de Saúde da Família a pensar numa lógica transversal e interdisciplinar que os retire da posição procedimento-centrada, baseada num funcionamento problema-resposta e os coloque em direção a uma lógica de acompanhamento de cuidado, que privilegia a assistência centrada na história e relato de cada paciente.
Objetivos:
Objetivo Geral:
Desenvolver uma estratégia de atenção secundária implicada na formação de profissionais psiquiatras que possam atuar no SUS, sob a lógica de cuidado da Reforma Psiquiátrica e do cuidado colaborativo.
Objetivo Específico:
Fomentar ações de matriciamento.
Atender pacientes que aguardam consulta especializada em psiquiatria da fila de espera do SISREG.
Integração da formação entre os residentes de Psiquiatria, alunos da Residência Multiprofissional em Saúde Mental e residentes do Programa de Residência de Família e Comunidade.
Metodologia:
O Amplia prevê um funcionamento assistencial em três turnos. Dois desses turnos são ocupados por ações matriciais em Saúde Mental, desenvolvidas em algumas Clínicas da Família da cidade do Rio de Janeiro. Nesses dois turnos o objetivo é formar psiquiatras para atuarem em ações no nível primário de atenção à saúde. O terceiro turno é de acompanhamento ambulatorial stricto senso, configurando-se, portanto, atenção secundária em saúde. Para que o usuário seja atendido por este ambulatório, que funciona geralmente em local diferente da clínica da família de origem, é necessário que ele tenha, primeiramente, passado por uma avaliação junto a equipe de referência em alguma ação de matriciamento. O objetivo é que, após um período de quatro retornos no ambulatório, aconteça novo matriciamento e se reavalie o projeto terapêutico singular. As ações de apoio matricial às equipes de referência podem ter múltiplos desenhos. Podem se realizar interconsultas, discussões de caso clínico, visitas domiciliares, atividades de formação continuada, grupos terapêuticos e outras atividades pertinentes às necessidades de formação e apoio apontadas pelas equipes de referência. O Amplia atua também na articulação da atenção primaria com os outros pontos da RAPS, de acordo com as necessidades dos casos acompanhados.
Os atuais e tradicionais ambulatórios de Saúde Mental com atendimento em Psiquiatria na cidade do Rio de Janeiro não conseguem, por conta de sua atuação convencional, engessada e parcial, garantir a formação das competências que um médico psiquiatra, adequadamente formado, deve ter. Falamos de serviços ambulatoriais superlotados, com grandes filas de espera no sistema de regulação, retornos espaçados por no mínimo seis meses, médicos psiquiatras esgotados com centenas de pacientes sob seus cuidados, com nenhum tempo para articulação com outros serviços, apresentando práticas rígidas e repetidas. Para atender as necessidades de formação em ambulatório possante, é necessário que o serviço tenha como norte principal o apoio matricial, e, que o protagonismo das ações, conduzidas e gerenciadas pela atenção básica, seja dos profissionais das equipes de referência. Um cuidado ambulatorial eficaz em um equipamento de saúde do SUS se posiciona como apoio para as equipes da atenção básica, como articulador para necessidades que atravessam os eixos do trabalho em saúde mental e nos diferentes níveis de complexidade. A criação do Amplia procura responder esta necessidade de formação ambulatorial em psiquiatria, organizando uma pratica que forneça aprendizagem tanto no núcleo de psiquiatria como no campo da saúde mental e, que prepare este profissional para atuar no SUS.
Antes do Amplia, nos ambulatórios da cidade, os residentes recebiam orientações relacionadas à assistência medicamentosa. Não eram convocados a conversar com os médicos de família, muito menos com os enfermeiros, ACS ou outros profissionais da equipe de referência ou de apoio matricial. Aprendiam a perpetuar uma prática ambulatorial solitária, com respostas igualmente solitárias que não contribuem para a construção de autonomia, tão cara aos projetos terapêuticos singulares, que visam um cuidado integral, territorial e em liberdade. A construção de uma parceria na condução das questões relacionadas ao sofrimento psíquico com a equipe da APS potencializa a construção de ações que envolvem estratégias territoriais. Essas ações possibilitam envolver diferentes atores na construção de suporte ampliado para cada caso. Na antiga experiência nos ambulatórios observamos uma inversão da lógica do trabalho em Rede onde quem passa a ordenar o cuidado é o especialista. Nesse formato de trabalho perde-se a conexão com a APS. As estratégias de cuidado são, na maioria das vezes, exclusivamente medicamentosas e, cria-se um insuflamento da agenda do especialista com casos que, ao longo do tratamento, podem se tornar de baixa ou média complexidade e que deveriam, portanto, estar no escopo de atuação do médico da APS. Otimizar recursos, sabendo gerenciar a própria agenda e avaliando o tipo de intervenção necessária a partir da complexidade dos casos é, também, um aprendizado.
A principal questão que temos enfrentado é uma certa resistência que não é direcionada ao nosso trabalho, mas à mudança de lógica que ele aponta. O que tem se apresentado como obstáculo é o que denuncia embaraços no modo de cuidar em saúde pública. Equipes apressadas, pressionadas com um número de pacientes e atendimentos muito grande, que, no nosso modo de entender, prejudica a qualidade do serviço, a qualidade da saúde que se constrói com os usuários e coloca em risco a saúde dos profissionais. O pedido que vai em direção ao Amplia é de que fosse um ambulatório tradicional, que assumisse os casos, que ordenasse o cuidado. Quase como se a colaboração que certas equipes de APS em saúde pedem é a diminuição do tamanho extenuante de suas demandas. Lançar luz sobre essas questões nos ajuda a olhar para o ponto central do que está colocado. Isso que percebemos como um empecilho no processo de trabalho, aponta para outro trabalho a fazer, aponta para a necessidade de rever os modos de produção de saúde. E talvez, através da permanência do Amplia na rede, seja possível para as equipes construírem outros modos de construção de saúde.
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