Adicionar PráticaA poesia como possibilidade de cuidado de pessoas com transtorno mental

A perda da saúde mental está frequentemente associada a outras perdas e pode resultar em exclusão social. A poesia surge como uma possibilidade de expressão das frustrações e angústias desses indivíduos, funcionando como uma via de inclusão e minimizando a estigmatização. No CAPS, o grupo de poesias demonstrou ser um espaço de acolhimento e cuidado, no qual os participantes podem se expressar livremente e encontrar suporte na escrita. A poesia, portanto, enquanto dispositivo de cura, representa uma forma de “normalidade” para a pessoa em sofrimento psíquico, que muitas vezes não consegue falar sobre seus problemas e traumas.
A impossibilidade de verbalizar coloca esses indivíduos em uma posição de vulnerabilidade, expostos à estigmatização, ao preconceito e à exclusão, unir pessoas com interesse por esse tipo de escrita se constituiu como uma excelente ferramenta de apoio psicológico, uma vez que, no grupo, sentimentos angustiantes encontram vazão para a elaboração de ideias, compartilhamento de experiências, sensação de pertencimento e suporte mútuo, somado a isso, o grupo surgiu como uma alternativa para otimizar os atendimentos, considerando a grande demanda por atendimento psicológico no CAPS.
O grupo de poesias surgiu durante uma sessão psicológica na qual um paciente trouxe a poesia como forma de expressar emoções que não era capaz de verbalizar. Dessa inspiração nasceu tembém o livreto Há coisas que só saem por escrito, consolidando a escrita como ferramenta terapêutica, essa prática reforça a lógica do cuidado e a importância das emoções na promoção da saúde mental. A intervenção ocorre em encontros quinzenais, nos quais os participantes compartilham suas produções e refletem sobre seus sentimentos. O impacto da iniciativa se estendeu ao evento comemorativo dos 23 anos do CAPS, incluindo um sarau e uma exposição, fortalecendo a autonomia e a valorização dos participantes. Os resultados indicam que a arte pode ser uma estratégia eficaz para o cuidado em liberdade, possibilitando a ressignificação das experiências dos usuários.

Analisando e descortinando as possibilidades de cuidado percebidas no processo de formação do grupo de poesias, pode ser observar a Lógica do Cuidado da obra de Annemarie Mol, em que ressalta que não são os cientistas que produzem a realidade, mas sim as práticas, as relações construídas e os movimentos.
Além disso, às contribuições de Vinciane Despret (2004) sobre a Teoria das Emoções, na qual a autora resgata a importância das emoções no campo da ciência, é possível demonstrar como os sujeitos são “racionalmente impregnados pela emoção” ao envolverem-se nas relações, são afetados e afetam a partir desses encontros.

O desenvolvimento deste grupo acontece de maneira apaixonante, reconhecendo a importância da paixão, enquanto sentimento, inclusive na implicação dos técnicos atuantes. Inserir a emoção dentro de um material científico ou de uma técnica de intervenção psicológica pode causar certo estranhamento. Isso se deve à herança platônica que nos foi transmitida, na qual a razão impera sobre a emoção, relegando esta última a um papel secundário. No entanto, como sugere Despret (2004), a emoção não ocupa um lugar inferior à razão na busca pelo conhecimento, todos os elementos envolvidos são interligados e coexistem nas relações.
O grupo de poesias mostrou-se uma alternativa viável de intervenção psicológica, permitindo que os participantes encontrassem na escrita um meio de expressar emoções e fortalecer sua identidade. A experiência evidenciou que a arte pode ser um caminho potente para a inclusão social e a promoção da saúde mental. Além disso, ao compartilhar suas poesias, os participantes também geraram reflexões e mudanças no ambiente ao seu redor. Essa prática reforça a importância da arte como dispositivo de cura e de ressignificação das experiências individuais.
As ações empreendidas para acolher e promover a saúde mental de usuários com transtorno mental podem ser entendidas como possibilidades de cuidado, pondo em prática uma ciência que reintroduz paixão ao seu campo. Existe acima de tudo uma relação de coafetação com a experiência vivida no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – em que a paixão e a ciência se integram. Como afirma Vinciane Despret (2004): “Parler d’amour en termes scientifiques”.
Ou seja, ao passo que ocorre o acolhimento psicológico e o tratamento dado ao usuário, a ação precisa promover um processo de conscientização em que se leve em conta o sujeito não como um ser acabado, rotulado por sua doença, mas como um sujeito que se faz enquanto tal, em constante relação com seu meio, capaz de transformar-se a si mesmo e aos outros, ao invés de reduzi-lo a um mero espectador social, ao mero usuário do sistema de saúde, envolvê-lo em um exercício de autenticidade como membro de um grupo, parte de um povo.
Nesse sentido, o grupo de poesias não tem como parâmetro apenas mais uma metodologia de intervenção psicológica de tratamento mental, pretende acima de tudo instaurar um processo de conscientização que seja capaz de promover no usuário do CAPS seu poder transformador de si, de sua condição mental e de sua realidade social, abrir-lhes novas possibilidades de ação, de consciência de uma nova práxis, um novo saber sobre si e seu potencial, de uma consciência real de sua autonomia e limitação no campo social e na sua corresponsabilidade com seu processo de cura, como cita Laura Perls , transcrito por Jean Clark (1992):
“… Quando se está comprometido, é pra valer, com tudo que se possa ocorre no confinamento da situação; não somente no casamento e na família, mas em qualquer relação a qual tenha assumido responsabilidade, seja ela uma profissão, arte, uma vocação, não há saída…” ( JEAN CLARK,1992)

Assim, pode-se concluir assumindo que a riqueza de saberes e personagens do CAPS, bem como às suas experiências, seus traumas e suas conquistas, potencializa o interesse profissional e do usuário na busca do equilíbrio psíquico, por meio da poesia, com a intenção de elaborar emoções impossíveis de serem expressadas verbalmente, porque há coisas que só saem por escrito.

Para exemplificar esse impacto, aponto o evento promovido pela Prefeitura de São Pedro da Aldeia para celebrar os 23 anos do CAPS, com uma programação voltada à promoção da saúde mental e inclusão social. No dia 15/10/2024, o Circuito Cultural contou com o sarau de poesias, realizado por integrantes do grupo, onde suas produções foram apresentadas e vendidas ao público, acompanhadas da exposição “Há coisas que só saem por escrito” e um bazar. Já no dia 25/10/2024, durante o II Seminário de Saúde Mental, foi lançado o livreto “Há coisas que só saem por escrito”, uma coletânea de poemas criados pelo grupo, consolidando a importância da arte como ferramenta de reabilitação psicossocial e valorização das vozes dos usuários do serviço.

Principal

Fabiana Castro

jaquelinepms@gmail.com

COORDENADOR

Coautores

Fabiana Castro Jaqueline Paula de Souza Fernandes

A prática foi aplicada em

São Pedro da Aldeia

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Prefeito Waldir da Silva Lobo - Morro do Milagre, São Pedro da Aldeia - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

JAQUELINE PAULA DE SOUZA FERNANDES

Conta vinculada

24 mar 2025

CADASTRO

24 mar 2025

ATUALIZAÇÃO

15 jun 2024

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