Adesão à plataforma Salus 2.0 como ferramenta para monitoramento dos casos e qualificação da assistência prestada aos usuários com sífilis no município de Rio das Ostras

A sífilis é um problema grave de saúde pública que, nos últimos anos, vem apresentando tendências de crescimento na maioria dos países de renda média, como é o caso brasileiro (de Andrade et al. 2020, de Morais Pinto et al. 2021).
De acordo com MS (2020:167), no Brasil, nos últimos cinco anos, observou-se um aumento constante no número de casos de sífilis em gestantes, sífilis congênita e sífilis adquirida. Esse aumento pode ser atribuído, em parte, à elevação nos números de testagem, decorrente da disseminação dos testes rápidos, mas também à diminuição do uso de preservativos, à redução na administração da penicilina na Atenção Básica e ao desabastecimento mundial de penicilina, entre outros.
O controle e a eliminação da sífilis dependem da disposição e vontade política dos gestores locais, bem como da colaboração dos profissionais de saúde e da sociedade como um todo.
Esse movimento precisa caminhar pela busca da qualidade da atenção às gestantes e suas parcerias sexuais durante a assistência pré-natal, a mobilização para ampliação do acesso ao diagnóstico e ao tratamento e de interação entre os vários setores da saúde e comunidade.
Neste mesmo período, fomos convidados a participar de uma reunião para apresentação de uma nova ferramenta inteligente para monitoramento de casos de sífilis, a plataforma Salus 2.0. Essa ferramenta foi idealizada pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) e seria disponibilizada aos municípios que realizassem adesão sem ônus.
A plataforma Salus 2.0 é uma plataforma de controle, integração, monitoramento e transparência nas ações de vigilância epidemiológica e atenção primária em saúde centrada na gestão de casos.
Vimos na plataforma uma oportunidade para monitoramento dos casos objetivando melhoria da qualidade da assistência e dos indicadores de sífilis no município.

Objetivos:
1- Implantar e implementar a plataforma Salus 2.0;
2- Realizar o monitoramento dos casos notificados objetivando a melhoria da qualidade da assistência e dos indicadores de sífilis.

Considerando essa situação, quando cheguei ao Departamento de Vigilância Epidemiológica de Rio das Ostras em agosto de 2022, decidi realizar um levantamento dos dados municipais e traçar um perfil dos casos notificados.
Desse perfil, teve origem o I boletim epidemiológico municipal de sífilis.
Através desse levantamento, identificamos vários indicadores ruins e traçamos estratégias visando a melhoria deles.
Os indicadores foram:
1- Taxa de detecção (por 100.000 habitantes) de sífilis adquirida, em gestante e congênita em menores de 1 ano;
2- Distribuição percentual de casos de gestantes com sífilis segundo cor ou raça por ano diagnóstico;
3- Distribuição percentual de casos de gestantes com sífilis segundo escolaridade por ano diagnóstico;
4- Distribuição percentual de casos de gestantes com sífilis segundo idade gestacional por ano diagnóstico;
5- Frequência de casos de sífilis em gestante X realização de pré-natal por ano diagnóstico;
6- Momento do diagnóstico de sífilis materna;
7- Casos de Sífilis Congênita segundo informação sobre realização de Pré-Natal da mãe por ano diagnóstico;
8- Realização de tratamento do parceiro de gestantes com sífilis;
9- Frequência de notificação de sífilis em gestante de acordo com unidade notificadora;
Neste mesmo período, fomos convidados a participar de uma reunião para apresentação de uma nova ferramenta inteligente para monitoramento de casos de sífilis, a plataforma Salus 2.0.
Essa ferramenta foi idealizada pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde) e seria disponibilizada aos municípios que realizassem adesão sem ônus.
A plataforma Salus 2.0 é uma plataforma de controle, integração, monitoramento e transparência nas ações de vigilância epidemiológica e atenção primária em saúde centrada na gestão de casos.
Suas principais funcionalidades são:
Mapa interativo com georreferenciamento dos casos;
Gestão de casos para sífilis adquirida, congênita, gestante e criança exposta;
Transparência do cidadão com dados do boletim epidemiológico sobre casos de sífilis;
Painel de Indicadores para casos de sífilis por tipo, testes realizados, casos diagnosticados e tratados, entre outros;
Central de Alertas e Notificações para tratamentos em atraso, monitoramento de exames, busca ativa, entre outros;
Gerenciamento de notificações lançadas no Sinan para monitoramento das fichas registradas;
A plataforma conta com integrações ao CNS, CNES, RNDS, e-SUS APS PEC, GAL, Lacen, Sinan.

Então, após apresentações da plataforma para gestores e profissionais, resolvemos realizar a adesão a mesma. Mas, para tanto, precisaríamos garantir o acesso de profissionais das Unidades a computadores com acesso à internet para alimentação da ferramenta.
A partir do momento que identificamos a plataforma Salus 2.0 como sendo uma importante ferramenta no monitoramento, controle de casos e qualificação da assistência prestada ao usuário com sífilis, iniciamos nossa busca por apoio entre os gestores da secretaria de saúde para implantação e implementação da ferramenta.
Iniciamos reuniões e apresentação dos dados do I Boletim Municipal de Sífilis e apresentação da plataforma como uma ferramenta viável de execução para gestores da secretaria de saúde e solicitamos apoio no sentido de garantir o recurso mínimo para tal. Os recursos necessários seriam computadores nas Unidades com acesso à internet para alimentação do dados no sistema e implementação da plataforma.
Nos foi garantido um computador por unidade básica de saúde e ESF a fim de viabilizar a implantação descentralizada da plataforma.
Enquanto aguardávamos a chegada e distribuição dos computadores, continuamos publicizando os dados e a plataforma para profissionais de saúde.
Realizamos a adesão do município e a vigilância epidemiológica começou a alimentar dados da plataforma a partir de 01/01/2023, através da digitação e monitoramento de todos os casos que chegavam das unidades básicas e especializadas através de notificações.
Em fevereiro de 2023, foi iniciada a entrega dos computadores para as unidades básicas e ESF. E a partir daí retomamos nossas pactuações com Coordenação de Atenção Básica e Departamento de ESF para capacitação das equipes e implementação da plataforma de maneira descentralizada para as unidades.
Fechamos com gestores da plataforma e com gestores locais que faríamos um treinamento para Iniciação na Plataforma Salus 2.0 no modelo presencial em 2 dias com 4 turmas.
27 e 28 de julho com 2 turmas pela manhã e 2 turmas a tarde.
Como houve profissionais que não conseguiram estar presente em alguma turma nas datas disponibilizadas, o treinamento ainda foi estendido para 07e 14/08.
No dia 02 de outubro participamos, juntamente com o Programa Municipal IST/HIV/AIDS/Hepatites Virais, da capacitação sobre sífilis adquirida e sífilis congênita como uma ação de educação continuada integrante da Programação Municipal do Outubro Verde, com público-alvo profissionais de saúde da rede municipal de saúde.
Essa foi mais uma estratégia visando fortalecer a rede de cuidados e sensibilizar e capacitar profissionais para o diagnóstico oportuno, tratamento e monitoramento dos casos de sífilis no município.
Permanecemos sendo referência técnica para questões de implementação da plataforma além disso, realizamos monitoramento conjunto dos casos notificados, orientação em relação a implementação do PCDT 2022 conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.

Atualmente, contamos com um total de 297 casos de sífilis sendo monitorados através do uso da plataforma Salus 2.0.
Destes, 251 estão em andamento , 46 perdidos e 1 caso encerrado. Quando temos um sistema de monitoramento que nos dá alertas de casos com pendências como é o caso da plataforma Salus 2.0, podemos acionar as equipes de referência que realizam uma busca para verificar o motivo da perda de seguimento que pode acontecer por situações como:
Atraso na ida a unidade para administração da medicação prescrita, mudança de endereço, entre outros.
Essa informação auxilia a equipe e a gestão a compartilhar estratégias para resgate desses usuários.
Os 46 casos perdidos estão em processo de busca pelas equipes, mas já sabemos que a maioria se deu por perda de contato com o usuário, principalmente por mudança de endereço.
O caso e considerado encerrado no sistema após o monitoramento do VDRL ou queda sustentada de 2 titulações.
Desde a implantação do sistema identificamos algumas dificuldades:
1- No início da implantação, ela foi centralizada pela vigilância epidemiológica municipal. Tal fato dificultou o monitoramento e encerramento dos casos visto que a mesma necessitava de feedback das unidades acerca do acompanhamento de casos para alimentar a plataforma. Esperamos que com o Treinamento das equipes das unidades, esse encerramento aconteça de forma mais eficiente visto que o mesmo será registrado pelas equipes que gerenciam o cuidado direto aos casos;
2- Essa informação também nos mostrou que o acesso dos usuários aos exames de seguimento e ao tratamento estavam prejudicados, visto que, existe uma cota de exames a ser realizada por semana em cada unidade, o que fazia com que os usuários não conseguissem realizar seus exames de seguimento. E também, não eram todas as unidades que estavam realizando a aplicação da penicilina G benzatina 1.200.000 UI. Tal fato dificultava o efetivo tratamento do caso, visto que após diagnosticado, o usuário deveria se dirigir a uma unidade de Emergência para a aplicação da medicação prescrita;
Após a identificação dos pontos frágeis da linha de cuidados, acionamos a gestão e foram realizadas as seguintes ações:
1- Sensibilização e Capacitação das unidades de Atenção Primária a saúde para a aplicação da Penicilina G benzatina 1.200.000 UI no momento do diagnóstico;
2- Organização da dispensação do medicamento por parte da farmácia municipal que passou a liberar alguns kits de tratamento para cada unidade, que seriam repostos mediante a prestação de contas do uso do medicamento por parte da Unidade de saúde.
3- Pactuação com o Laboratório terceirizado que os casos de sífilis em monitoramento nas unidades teriam seus exames não treponêmicos (VDRL) e treponêmicos (FTA-Abs) realizados numa cota a parte em cada unidade. Sendo prioridades dentro do laboratório.

Além disso, contamos com um total de 297 casos de sífilis em monitoramento no município, sendo que 207 (70%) são de sífilis adquirida, 77(26%) são de sífilis em gestante, 9 (3%) são sífilis congênita e 4 (1%) são de crianças expostas à sífilis.
Nosso objetivo maior é a eliminação da transmissão vertical da sífilis. Desta forma, buscamos através de estratégias como a implantação e implementação da Plataforma Salus 2.0, zerar o percentual de casos de sífilis congênita.
Percebemos ainda que a Vigilância Epidemiológica é gestora do monitoramento do maior número de casos. Porém, outras unidades de saúde já aparecem como gestoras do monitoramento de seus casos após o treinamento e sensibilização das equipes.

A nossa meta é que os casos sejam 100% monitorados pelas suas unidades de referência no próximo ano.
Para isso, seguiremos capacitando e sensibilizando equipes e profissionais e ampliando os acessos à plataforma de profissionais diretamente envolvidos no cuidado.
observamos uma prevalência de casos nas faixas etárias de 20-29 anos e 30-39 anos. Seguidas da faixa etária de 40-49 anos.
Se analisarmos os dados do país e também do estado do Rio de Janeiro através de seus boletins Epidemiológicos, observamos que a nossa realidade condiz com a do pais e a do estado no que tange as faixas etárias de 20-29 anos e 30-39 anos. Somente com pequena divergência entre 40-49 anos que se apresenta mais elevada no município em comparação aos outros dois analisados. Quando realizamos um recorte em relação a sífilis em gestante, observamos que nossa prevalência permanece nas faixas etárias de 20-29 anos e 30-39 anos, porém há um aumento em relação a faixa etária adolescente de 15 a 19 anos.

Esse fato nos faz refletir a cerca de 2 problemas importantes em saúde pública: a sífilis em gestante e a gravidez na adolescência.
Quando analisamos a prevalência do diagnóstico em relação a idade gestacional , percebemos que essa ocorre em fase inicial da gestação (1º e 2 º trimestres) e nos faz refletir sobre o fato de que, neste caso, o diagnóstico precoce precisa ser acompanhado de um pré-natal qualificado com um bom monitoramento do caso que venha a garantir a cura da gestante o mais rápido possível, lembrando que, o diagnóstico precoce da sífilis durante a gestação reduz o tempo de exposição do feto a T pallidum, diminuindo as chances de transmissão e complicações na gestação.

A análise do gráfico que nos mostra a prevalência de casos de sífilis em gestante segundo raça/cor e escolaridade, nos mostra, primeiramente que devemos reforçar, junto aos profissionais preenchedores das fichas de notificação, a importância do preenchimento correto da mesma, no que tange o campo escolaridade.
Observamos melhora significativa no preenchimento do campo raça/cor após sensibilização dos profissionais acerca da obrigatoriedade de preenchimento do mesmo durante as ações de treinamento através da apresentação da Portaria 344 de 1 fevereiro de 2017.
Outro fator importante é a predominância de casos entre pardas e negras.
Segundo MORAIS et ali (2019:674) mulheres negras apresentam demandas recorrentes em saúde que o Estado deve analisar ao desenvolver as políticas de saúde para segmentos sociais.
Em relação a escolaridade, a prevalência está entre as mulheres que apresentam ensino médio incompleto.
Segundo gráfico que nos mostra a distribuição dos casos de sífilis em gestante segundo bairro de residência, a concentração de casos segue prevalente em bairros bastante populosos e que apresentam maior índice de pobreza e menor acesso aos serviços de saúde. Esses locais, geograficamente, abarcam regiões distintas da cidade mas, já mapeadas como de grande vulnerabilidade econômica e social.

Concluimos que, muitos são os obstáculos para eliminação da transmissão vertical da sífilis no município de Rio das Ostras. Mas, observamos que existe um caminho possível que vem sendo percorrido com a união da gestão, das unidades que compõem a rede de saúde, vigilância epidemiológica, laboratório e profissionais de saúde.
Consideramos que a evolução das ações deve ser constante e que a plataforma Salus 2.0 se constitui numa poderosa ferramenta de enfrentamento dessa epidemia de grande importância na saúde pública e que impacta diretamente nas vidas das pessoas.
Esperamos ter contribuído para que outros municípios também encontrem estratégias coletivas de enfrentamento desse agravo.

Principal

Bianca Albuquerque Cortes Monteiro

bianca.monteiro35@gmail.com

enfermeira

Coautores

Bianca Albuquerque Cortes Monteiro, Andrea Araújo Viana

A prática foi aplicada em

Rio das Ostras

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Campo do Albacora, 75 Loteamento - Atlantica, Rio das Ostras - RJ, 28895-664

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Bianca Albuquerque Cortes Monteiro

Conta vinculada

05 dez 2023

CADASTRO

13 ago 2024

ATUALIZAÇÃO

05 set 2022

inicio

15 nov 2023

fim

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

Arquivos

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