As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são abordagens terapêuticas que reconhecem e valorizam os saberes tradicionais, as culturas e os modos de vida das comunidades quilombolas. Desde 2024, ano de sua institucionalização, o Campo Temático de Práticas Integrativas e Complementares (CTPICS) da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador tem potencializado estratégias para a promoção da saúde e da equidade, por meio da inserção das PICS nas unidades da Atenção Primária à Saúde, incluindo as Unidades de Saúde da Família (USF).
Em especial, este trabalho destaca a atuação da USF da Ilha de Maré, situada no Subúrbio Ferroviário de Salvador, que assiste à Comunidade Quilombola local. Com o objetivo de enfrentar as desigualdades que afetam populações vulnerabilizadas, busca-se apresentar como as PICS vêm sendo inseridas de forma complementar na assistência à saúde, promovendo um cuidado mais equitativo e integral.
A aprovação da Política Municipal de Práticas Integrativas de Salvador em 2024, aliada aos dados do Diagnóstico Situacional das PICS realizado em 2023, evidenciou o potencial de inserção dessas práticas no cuidado integral à Comunidade Quilombola da Ilha de Maré. Como estratégia, o Campo Temático das PICS referenciou uma profissional da saúde, integrante da equipe da Estratégia Saúde da Família da ilha, para ampliar a oferta de cuidados integrais e promover um atendimento mais humanizado.
É importante destacar que o deslocamento diário dessa profissional é feito por barco e, muitas vezes, sob condições adversas do mar, o que evidencia seu compromisso com a saúde da população local. Atualmente, são ofertadas diversas práticas integrativas no território, como fitoterapia, auriculoterapia, dança circular, reiki, meditação, ventosaterapia, entre outras. Essa ampliação é fruto de processos formativos e qualificações iniciados em 2024, em parceria com instituições de ensino superior, dos quais participam os profissionais da USF da Ilha de Maré.
A unidade ampliou sua oferta terapêutica como fitoterapia, auriculoterapia, dança circular, meditação e ventosaterapia, promovendo o cuidado mais diversificado e alinhado às necessidades do território. Essa ampliação tem contribuído diretamente para o aumento do acesso e da adesão ao cuidado, com atendimentos periódicos em diferentes formatos: individuais, domiciliares, quando há restrições de mobilidade, e em grupos.
O resultado significativo foi o fortalecimento do autocuidado e da autonomia dos usuários, que passaram a se envolver mais ativamente no próprio processo de saúde. Relatos dos usuários indicam melhoria na qualidade de vida, redução do estresse e alívio de sintomas físicos e emocionais. Além disso, a atuação da USF da Ilha de Maré tem promovido um ambiente de respeito às crenças e religiosidades de matriz africana, permitindo que os moradores expressem seus saberes e práticas tradicionais, como os das rezadeiras e benzedeiras, sem julgamentos ou invalidações por parte da equipe de saúde.
A qualificação contínua dos profissionais da unidade, por meio de formações realizadas desde 2024 em parceria com instituições de ensino superior, também se destaca como fator essencial para a efetividade das ações. Esses processos formativos possibilitaram a aplicação responsável e segura das PICS no cotidiano do serviço. Dessa forma, a transversalidade do cuidado promovida pela USF da Ilha de Maré, por meio das PICS, vem se consolidando como uma estratégia potente para a promoção da equidade, do pertencimento e da valorização cultural no cuidado em saúde da comunidade quilombola.
Recomenda-se que o planejamento para a inserção de PICS em comunidades quilombolas seja pautado em estudos e diagnósticos prévios, com foco na realidade local e na escuta sensível às necessidades específicas da população. Evidencia-se que tal promoção da saúde também atua como estratégia de preservação dos saberes tradicionais e ancestrais em saúde.
Outra recomendação importante é a valorização dos profissionais da Estratégia Saúde da Família, que convivem diretamente com o cotidiano desses territórios marcados por vulnerabilidades históricas e estruturais. São profissionais que lidam com os efeitos concretos dos determinantes sociais da saúde e das heranças ancestrais de resistência do povo negro, sendo, portanto, agentes fundamentais na promoção de um cuidado enraizado no território e na dignidade das comunidades quilombolas.
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