A gestação é um período de intensas transformações físicas, emocionais e sociais, podendo desencadear desafios significativos para a saúde mental da mulher. A literatura aponta que cerca de 25% das gestantes apresentam sintomas de ansiedade e depressão durante a gravidez, podendo impactar tanto a vivência da maternidade quanto o desenvolvimento do bebê (FAUCHER et al., 2020; LOPES; LEITE; NASCIMENTO, 2022). A ausência de suporte psicológico adequado nesse período pode levar a complicações como parto prematuro, dificuldades na vinculação mãe-bebê e maior predisposição à depressão pós-parto (OLIVEIRA et al., 2021). Diante desse contexto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a inclusão do suporte psicológico no acompanhamento pré-natal, visando a promoção da saúde mental materna e a prevenção de agravos (OMS, 2022).
Considerando a relevância dessa questão, foi implantado no município de Santa Cruz/PB, a partir de Julho de 2024, o projeto pré-natal psicológico, que continua em andamento, ofertando atendimento psicológico a gestantes acompanhadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). O projeto foi desenvolvido em parceria com a equipe multiprofissional da atenção primária e conta com a participação de psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais de saúde. A iniciativa surgiu da necessidade de ampliar o cuidado à saúde mental das gestantes, uma vez que muitas relataram dificuldades emocionais e pouca oferta de suporte psicológico durante o pré-natal.
A importância dessa experiência para a atenção primária e para o Sistema Único de Saúde (SUS) está na integração do cuidado psicológico ao pré-natal, garantindo uma abordagem mais humanizada e resolutiva para as gestantes. Estudos demonstram que intervenções psicológicas durante a gestação reduzem significativamente os níveis de estresse e ansiedade, contribuindo para a melhora dos desfechos obstétricos e da saúde mental materno-infantil (ROCHA et al., 2023). Além disso, essa estratégia está alinhada com as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), que enfatiza a necessidade de um cuidado ampliado e humanizado durante o ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2018).
Dessa forma, a experiência do Pré-Natal Psicológico representa uma inovação dentro da assistência à gestante na atenção primária, fortalecendo a oferta de suporte psicológico no SUS e ampliando a qualidade do cuidado materno-infantil. Os impactos positivos observados até o momento reforçam a necessidade de continuidade e expansão do projeto para outras unidades de saúde, garantindo que um maior número de gestantes tenha acesso a esse suporte essencial.
Objetivo Geral
Implementar o pré-natal psicológico no município de Santa Cruz/PB como estratégia de fortalecimento do suporte à saúde mental materna no contexto da Atenção Básica.
Objetivos Específicos
• Identificar sintomas de ansiedade e depressão nas gestantes por meio da aplicação de questionários e escalas psicológicas validadas;
• Oferecer atendimento psicológico individualizado, com foco na regulação emocional e no gerenciamento da ansiedade gestacional;
• Promover grupos terapêuticos e educativos sobre as transformações emocionais e fisiológicas da gestação, fortalecendo o vínculo materno-infantil;
• Realizar visitas puerperais para avaliar a saúde mental da puérpera e prevenir transtornos pós-parto.
• Contribuir para a humanização do pré-natal no SUS, ampliando a atenção à saúde mental materna como parte fundamental do cuidado obstétrico.
METODOLOGIA
O Pré-Natal Psicológico foi implementado em Julho de 2024 no município de Santa Cruz/PB, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), e segue em andamento. O projeto integra o atendimento psicológico ao acompanhamento pré-natal realizado pela equipe de enfermagem, garantindo um modelo de atuação multiprofissional. Durante as consultas de pré-natal, enfermeira e psicóloga realizam consulta conjunta, onde, além dos procedimentos clínicos habituais, é aplicado um questionário estruturado contendo informações sobre condições socioeconômicas, rede de apoio, suporte do parceiro ou parceira, relação familiar, vínculo com o bebê, histórico de saúde mental e aspectos da saúde gestacional.
As gestantes também são avaliadas com instrumentos psicológicos validados, como a Escala de Ansiedade de Beck (BAI) para identificação de sintomas de ansiedade e a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS) para rastreamento do risco de depressão puerperal. As mulheres que apresentaram indicadores de sofrimento psíquico são encaminhadas para atendimento psicológico individualizado, com foco na regulação emocional e no manejo da ansiedade gestacional. Além disso, todas as participantes têm acesso ao Grupo de Gestantes, onde são abordados temas como transformações emocionais da gestação, vínculo materno-infantil, suporte social e estratégias para fortalecimento da saúde mental durante e após a gravidez.
Após o parto, é realizada uma visita puerperal para monitoramento da saúde mental da mãe e prevenção da depressão pós-parto, permitindo um acompanhamento contínuo da puérpera no período de adaptação. O projeto envolve profissionais da enfermagem, psicologia e assistência social, garantindo um cuidado integral. Para avaliação dos resultados, é realizado um comparativo dos escores das escalas psicológicas antes e após o acompanhamento, além da coleta de depoimentos das gestantes, refletindo os impactos do projeto em sua saúde emocional e experiência materna.
O objetivo do projeto é promover o bem-estar psicológico das gestantes, identificar precocemente sintomas de ansiedade e depressão e oferecer intervenções terapêuticas que favoreçam um processo gestacional mais saudável. Para isso, são realizadas consultas conjuntas entre enfermeira e psicóloga durante o pré-natal, aplicação de questionários para rastreamento de sintomas emocionais, atendimentos psicológicos individuais, grupos terapêuticos e visitas puerperais.
Desde sua implementação, o pré-natal psicológico trouxe impactos significativos para a saúde mental das gestantes acompanhadas. Até o momento, 80 gestantes participaram do projeto, recebendo atendimento psicológico durante as consultas de pré-natal e no grupo de gestantes, além do suporte no pós-parto através da visita puerperal.
Os dados coletados apontaram que 60% (48 gestantes) apresentaram sintomas de ansiedade segundo a Escala de Ansiedade de Beck (BAI), e 30% (24 gestantes) relataram histórico de depressão pós-parto em gestações anteriores. A aplicação da Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS) revelou que 25% (20 gestantes) estavam em risco para desenvolver depressão pós-parto, evidenciando a importância do acompanhamento psicológico durante a gestação.
Com a participação no projeto, os resultados foram extremamente positivos: 75% das gestantes que apresentavam sintomas de ansiedade (36 mulheres) tiveram uma redução significativa desses sintomas após as intervenções psicológicas. Além disso, 80% das gestantes (64 mulheres) relataram que a participação no grupo de gestantes ajudou a reduzir a ansiedade e fortalecer a rede de apoio. O fortalecimento do vínculo materno-infantil também foi um dos destaques do projeto, com 85% das gestantes (68 mulheres) afirmando que se sentiram mais preparadas emocionalmente para a chegada do bebê.
Além dos impactos individuais, o projeto fortaleceu a atenção primária à saúde no município, integrando a psicologia ao pré-natal de forma estruturada e ampliando o olhar sobre a gestação para além do aspecto físico. A experiência demonstrou que a saúde mental da gestante é peça-chave para uma gravidez saudável e para a prevenção de transtornos emocionais no pós-parto, reforçando a necessidade de manter e expandir essa abordagem dentro do SUS.
O projeto implementado demonstrou ser uma estratégia eficaz e necessária para a promoção da saúde mental das gestantes. Os resultados alcançados evidenciaram que a integração do acompanhamento psicológico ao pré-natal contribuiu para a redução significativa da ansiedade e para a prevenção de transtornos emocionais, especialmente a depressão pós-parto. A adoção de técnicas de regulação emocional e gerenciamento da ansiedade, aliada ao fortalecimento da rede de apoio e ao acompanhamento multidisciplinar, permitiu que as gestantes se sentissem mais preparadas para a maternidade.
Os números expressivos, como a redução dos sintomas de ansiedade em 75% das participantes e o relato de fortalecimento do vínculo materno-infantil por 85% das gestantes, demonstram que o suporte psicológico durante a gestação impacta diretamente na experiência materna e na saúde do bebê. Além disso, a visita puerperal foi um diferencial essencial, possibilitando uma abordagem humanizada no pós-parto, momento crítico para a saúde mental da puérpera.
Diante desses achados, fica evidente a importância da ampliação desse modelo de atendimento, consolidando a psicologia como um pilar fundamental na atenção primária à saúde da mulher. O projeto reforça a necessidade de que a saúde mental seja tratada como uma parte indissociável do cuidado gestacional, garantindo um acompanhamento mais completo e eficaz para as gestantes no SUS. Dessa forma, recomenda-se a manutenção e expansão do pré-natal psicológico, permitindo que mais gestantes tenham acesso a esse cuidado essencial, prevenindo complicações emocionais e promovendo maternidades mais saudáveis e seguras.
Secretaria de Saúde de Santa Cruz - PB
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