A dispensação orientada realizada pelo farmacêutico, chamada de reconciliação medicamentosa, é uma das diversas etapas que estão inclusas dentro do ciclo de assistência farmacêutica. Essa modalidade vai além de uma simples dispensação com a entrega do medicamento ao paciente, pois essa atividade é a oportunidade do profissional prestar informações voltadas ao tratamento medicamentoso, à patologia e ao hábito de vida aumentando a adesão do paciente à farmacoterapia e as chances de sucesso terapêutico (SILVA et al, 2008). Considerando que muitos dos erros de medicação ocorrem no estágio de prescrição do medicamento ou pela interpretação equivocada da receita médica pelo paciente no momento da autoadministração, a utilização de sistemas de prescrição de medicamentos, com suporte de orientação clínica, já se mostraram eficazes na redução significativa dos eventos adversos relacionados aos medicamentos, melhorando a qualidade e a eficiência do tratamento farmacológico, com redução de custos para o sistema de saúde. Para Frizon, 2014, a reconciliação de medicamentos é descrita como um processo para obtenção de uma lista completa, precisa e atualizada dos medicamentos que cada paciente utiliza em casa (incluindo nome, dosagem, frequência e via de administração), e comparada com as prescrições médicas feitas na admissão, transferência, consultas ambulatoriais com outros médicos e alta hospitalar. Essa lista é usada para aperfeiçoar a utilização dos medicamentos em todos os pontos de transição do paciente dentro do sistema de saúde e tem como principal objetivo, diminuir a ocorrência de erros de medicação quando o paciente, muda de nível de assistência à saúde, indo do nível de atenção secundária para o primário. Muitas instituições implantaram sistemas onde o sistema de prescrição está associado à orientação das mesmas por farmacêuticos clínicos no momento prévio à saída do paciente da unidade hospitalar, sendo essa a última etapa da reconciliação medicamentosa. Esta interação proporciona o envolvimento do farmacêutico no processo de avaliação do tratamento medicamentoso, de resolução de problemas, de monitoramento, inclusive quando necessário, de intervir com o objetivo de aumentar o efeito benéfico dos medicamentos, além de reduzir seus efeitos adversos (HEPLER & STRAND, 1990). Portanto, considerando a atual situação econômica, estrutural e física do hospital infantil e a necessidade de garantir a segurança nas terapias medicamentosas, a aproximação dos serviços farmacêuticos ao paciente de alta hospitalar influenciará na adesão à terapia com segurança para o paciente e essa poderá ser uma estratégia relevante para a inserção e consolidação dos serviços farmacêuticos nas ações da equipe de saúde?
Durante anos, várias técnicas e ferramentas têm sido criadas com o intuito de contribuir para um tratamento mais seguro e eficaz dos usuários dos serviços de saúde. Contemporaneamente, vários desses métodos vem sendo amplamente utilizados no cuidado ao paciente para uma melhor adesão ao tratamento, com a diminuição de reações adversa, aumentando a resposta satisfatória aos tratamentos escolhidos. Dentro da nova realidade da farmácia clínica hospitalar, destacam-se o apoio ao farmacêutico ao prescritor no momento da prescrição, a atenção farmacêutica e a farmacovigilância. Inclusa dentro da atenção farmacêutica encontra-se a orientação da alta hospitalar, levando em conta o elevado número de pacientes que recebem alta com receituário de medicamentos para a terapia sequencial oral, para ser auto administrada, no domicílio, com pouca ou sem nenhuma orientação, e também, o elevado número de pacientes que ficam internados no serviço de saúde hospitalar utilizando apenas terapia oral, aumentando os custos hospitalares e os riscos de infecção hospitalar.
A atuação de farmacêuticos ofertando serviços clínicos deve existir, preferencialmente, na detecção, notificação de erros para evitar a ocorrência dos eventos adversos, intoxicações relacionadas aos medicamentos e inefetividade do tratamento por doses inadequadas. Quando esse profissional identifica um erro de medicação, este pode intervir requisitando modificação da prescrição para prevenir futuras repetições do erro, garantindo a segurança do paciente (KAWANO, 2006). Nunes 2008, apud Leape at al (1999) demonstrou que a integração do farmacêutico como membro pleno da equipe de saúde nas visitas ao paciente promoveu uma redução de 66% na ocorrência de eventos adversos relacionados aos medicamentos decorrentes da prescrição médica. A Atenção Farmacêutica surgiu a partir do aprofundamento da prática Farmácia Clinica, com a inserção de um componente fortemente humanístico. Essa nova filosofia de pratica farmacêutica é focada diretamente no usuário e não nos medicamentos propriamente ditos, na Atenção Farmacêutica e no acompanhamento farmacoterapêutico do paciente documentado e com o propósito de alcançar resultados específicos que melhorem a sua qualidade de vida (HEPLER e STRAND, 1990). Essa nova abordagem do profissional tem um papel essencial na atenção sanitária da comunidade, no que diz respeito a garantir uma maior efetividade da farmacoterapia efetiva, assim como da promoção à saúde (Organização Mundial de Saúde, 1993). No entanto, acesso limitado à profissionais ligados a esse tipo de serviço, vem demonstrando aumento dos níveis de morbimortalidade, principalmente associados ao uso dos medicamentos (GÓMEZ, 2013). A farmacovigilância consiste na detecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou quaisquer outros possíveis problemas relacionados a medicamentos, produtos fitoterápicos, medicamentos, tradicionais e complementares. Tem como objetivo, melhorar a segurança em relação ao uso de medicamentos, assim como todas as intervenções médicas, melhorando e contribuindo para a avaliação dos benefícios, danos, efetividade e riscos com relação ao uso do medicamento individual e coletivamente, assim como os impactos do uso dessas na saúde pública (OMS, 2005). Crianças são as maiores vítimas quando o assunto se trata de problemas relacionados a medicamentos, pois sofrem com as consequências da prática da automedi¬cação, erros de administração, prescrição médica inadequada. Em estudo realizado pelo Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), com 151 crianças, menores de um mês e, 912 crianças entre um e onze meses, os antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos foram responsáveis por 15,2% das internações re¬lacionadas a intoxicações e efeitos adversos de medicamentos em menores de um mês e, 21,1% em crianças de um a onze meses. Os antibióticos sistêmicos responderam para essas mesmas faixas etárias por 12,6% e 18,5% das internações, respectivamente. Os analgésicos, antitérmicos e anti-reumáticos não opiáceos tiveram participação menor, com 7,3% das internações para menores de um mês e 6,6% para crianças de um a onze meses. Um grande número de casos foi observado para crianças de zero dias, levando a considerar possíveis intoxicações por via transplacentária e por aleitamento materno. Nesse sentido, o estudo também mostra a importância de um bom acompanhamen¬to pré-natal, bem como para uma criteriosa prescrição de medicamentos para a mãe e a criança (LESSA, 2008). De uma maneira geral, os problemas relacionados aos medicamentos são reais e necessitam de soluções para reverter ou minimizar este quadro, e o papel do farmacêutico no que norteia estes cenários é de grande importância no sentido de avaliar por meio desses métodos e indicadores para uma maior economia, eficácia, efetividade e segurança dos tratamentos farmacoterapêuticos e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida aos usuários dos serviços de saúde.
202 Sul Rua NS B, Plano Diretor Sul, Palmas - TO - CEP 77020452.
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO