Realizar a vacinação de pessoas sempre foi e será desafiante, as equipes de saúde ainda precisam fazer esforços para demonstrar a população que as vacinas são fundamentais para a proteção, controle ou a eliminação de doenças infectocontagiosas graves. Também vale ressaltar a importância que a vacinação teve no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus através da vacinação em massa da população brasileira. Na cidade de Wuhan na China, no ano de 2019, trabalhadores e clientes de um mercado atacadista de frutos do mar, considerado como o provável foco inicial da contaminação pelo manuseio de animais vivos, estiveram entre os primeiros casos de pessoas infectadas11. No Brasil, o segundo óbito por coronavírus registrado foi o de uma empregada doméstica no Rio de Janeiro, cuja doença foi contraída no exercício do trabalho1. Essas situações, a exemplo de tantas outras, demonstram que tanto o desenvolvimento das atividades laborais quanto as condições de trabalho, são potenciais fontes de exposição ao vírus. Em março de 2020 o Ministério da Saúde declarou transmissão comunitária em todo território nacional6, com uma População Economicamente Ativa (PEA) estimada em 100 milhões7, era previsível que as atividades de trabalho seriam grandes potenciais fontes de disseminação da doença. Dados oficiais da Previdência Social2 mostraram que de 113 casos de doenças por vírus notificados como relacionados ao trabalho em 2019, houve um salto em 2020 para 20.797 casos registrados com B34 ou U07, códigos da Classificação internacional de Doenças (CID) recomendados para o registro da COVID-19. Durante a pandemia vários setores produtivos foram considerados atividades essenciais e mantiveram sua produção, entre os quais inclui-se o setor frigorífico. Tais ambientes são locais extremamente frios, úmidos e apresentam fortes ruídos, o que leva a aproximação das pessoas para se comunicarem. De acordo com Xavier, Ramos e Giovanaz13, no setor de abates dos frigoríficos brasileiros, nos anos de 2018 e 2019, a causa mais comum de adoecimento era por esforço repetitivo (40%), já em 2020, a causa mais comum de adoecimento (71,3%) foi associado ao contato com pessoas doentes. De acordo com Heck e Júnior9, vários municípios do interior da região sul do país, apresentaram um aumento expressivo de casos da COVID-19 em 2020. No estudo, foi observado que esses municípios possuíam forte concentração da atividade frigorífica de aves e suínos. Por conta da doença, algumas fábricas em Passo Fundo, Lageado (RS) e Ipumirim (SC) precisaram ser interditadas. Essas situações geraram transtornos para as empresas que viram sua cadeia de produção reduzida em função da falta dos profissionais, além de transtornos nas exportações dos produtos e a possibilidade de ocorrer abate sanitário. Houve prejuízo para os trabalhadores, que precisaram cumprir o isolamento social e para o sistema de saúde, que ficou sobrecarregado devido à grande demanda de atendimentos. Verificando que as situações descritas no estudo estavam ocorrendo no município, no decorrer do ano de 2021 e 2022 a Secretaria da Saúde, através dos profissionais da Vigilância Epidemiológica, realizaram uma série de ações de imunização em uma empresa frigorífica de aves em Capinzal – SC.
Sempre procurando levar conhecimento e abordar a prevenção em saúde, os profissionais da Vigilância Epidemiológica também participaram no mês de agosto de 2022 da Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT), onde a empresa aproveitou o momento pra levar orientação para seus colaboradores. Infelizmente um dos maiores desafios encontrados foi a não aceitação da vacinação e a banalização do risco de contrair as doenças que elas protegem. Diante disso, as profissionais trabalharam a sensibilização do trabalhador, levando informações sobre os imunizantes, possíveis efeitos colaterais, mas, principalmente ressaltando os benefícios que a imunização de uma pessoa gera para si próprio, para sua família e consequentemente sua comunidade. As orientações tendem a desmistificar mitos e atenuar as fakes News. Essas intervenções fazem com que estreite os laços entre os trabalhadores, as equipes de vacinadoras e consequentemente as equipes da Atenção Básica. A confiança gerada pela relação profissional x cliente é construída ao longo do tempo através de várias conversas e explicações. Esses momentos de orientação, demostram uma sólida formação e conhecimento por parte da equipe vacinadora, passando segurança e capacidade no exercício diário dessa atividade.
Dentre as diversas ações realizadas durante a pandemia no enfrentamento da COVID-19, a vacinação destaca-se como a mais eficiente delas. Sendo a vacina, um direito de cada cidadão a fim de que se preserve sua saúde e segurança, conforme preveem os artigos 6º e 196 da Constituição Federal3: “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. A lei 13.979/20 dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019, em seu artigo 3º, inciso III, prevê4: “Art. 3º. Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes medidas: (Redação dada pela lei 14.035, de 2020) III – determinação de realização compulsória de: a) exames médicos; b) testes laboratoriais; c) coleta de amostras clínicas; d) vacinação e outras medidas profiláticas;” Capinzal, além da empresa frigorífica de aves descrita no estudo, apresenta empresas do ramo de equipamentos industriais e saneamentos que possuem uma quantidade significativa de colaboradores, sendo as que mais empregam no município. Ações de vacinação dentro das empresas, devem ser constantemente incentivadas e realizadas, dessa forma, é viável buscar parcerias para a realização de vacinação com outras empresas. Ofertar vacinas dentro do ambiente de trabalho, facilita para o colaborador, que não precisa se deslocar até a Unidade de Saúde; para a empresa, onde os funcionários adoecem e faltam menos ao trabalho; e, para o município, que observa sua cobertura vacinal aumentar.
Ter realizado a parceria com a empresa foi fundamental, primeiramente para a instituição que mantém seu quadro de funcionários imunizados e consequentemente com menor risco de contrair e transmitir aquelas doenças e, segundo, que o município consegue proteger sua população de doenças graves e aumentar as coberturas vacinais preconizadas pelo Ministério da Saúde. De uma forma geral, desenvolver a Saúde do Trabalhador incentivando a realização de imunizantes é fundamental para a sociedade. A prevenção gerada com a aplicação das vacinas, reduz significativamente as despesas com tratamentos e internações, medicamentos de alto custo, benefícios previdenciários, etc. Além disso, sabe-se que a vacinação e, consequentemente a prevenção, evita que a pessoa adoeça, perca anos de vida saudável e, muitas vezes evita mortes prematuras.
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