A afasia é definida por MURDOCH (1997), como uma perda da função de linguagem, manifestada por dificuldade de produção de fala, leitura e escrita, envolvendo uma redução da capacidade de interpretar e formular elementos linguísticos com significado. Nesses sujeitos, ocorre uma alteração da linguagem em que a mesma reduz-se a significantes aparentemente não interpretados, podemos compreender que o sujeito desloca-se da posição de falante para uma posição contrária, devido à desorganização do discurso. Diante das limitações lesionais, o fonoaudiólogo encontra-se habilitado a promover uma adequação da linguagem alterada, abrindo novas possibilidades no processo de reabilitação. Diante disso, vimos a possibilidade de associar recursos da técnica teatral para potencializar a capacidade expressiva dos pacientes atendidos na reabilitação de fala e linguagem.
O desenvolvimento do teatro com afásicos iniciou-se no ano de 2009 e teve seu término em 2013 com a participação de duas fonoaudiólogas de Centro Especializado à Saúde da Pessoa com Deficiência Reabilitar do município de São Vicente e do professor de teatro. O presente trabalho foi desenvolvido com um grupo de dez pacientes, em processo de reabilitação de fala/linguagem, através de encontros semanais com a participação das fonoaudiólogas e do professor de teatro, tendo duração de duas horas em cada encontro. Durante todo o decorrer da oficina foram trabalhadas: formas expressivas (verbais, gestuais, expressões faciais, emoções), relaxamento corporal, importância do desenvolvimento corporal no processo de encenação, trabalho com resgate da memória, evocação, abstração, capacidade de elaboração, improvisação e exteriorização de sentimentos.
As atividades propostas envolviam a interação dos pacientes com a utilização de músicas, danças, jogos cênicos e construção de atividades dentro de espaços imaginários ( mímica e adivinhação ). O trabalho em questão, foi desenvolvido com pacientes de ambos os sexos, com alteração de fala/linguagem pós Acidente Vascular Cerebral (AVC) tendo como critério de seleção, a preservação (no mínimo razoável) da capacidade de compreensão. Com relação às condições comunicativas presentes nos pacientes, as dificuldades variaram, existindo a presença de fala estereotipada, agramatismos, presenças de jargões, parafasias fonêmicas e anomias. Os aspectos motores também apresentaram variáveis, com a presença de pacientes hemiplégicos, hemiparéticos, cadeirante e sem sequela motora (apenas déficit sensorial).A cada três meses, as fonoaudiólogas realizaram processo de monitoramento do comportamento comunicativo e avaliação de aspectos relacionados às habilidades expressivas e comunicativas dos pacientes. Em todo o processo de reavaliação, constatava-se, que a possibilidade de colocar corpo/fala em movimento, repercutiram positivamente no comportamento geral dos pacientes, com maior incentivo para o tratamento fonoaudiológico.
Necessidade da criação de estratégias diversificadas, a fim de desenvolver as ações comunicativas e interativas principalmente através do uso funcional da linguagem, onde a construção da mesma se faz através do próprio discurso dos pacientes/atores, permitindo a reorganização de seus próprios conteúdos verbais e tendo como agente facilitador, a interação discursiva de todo o grupo.
Concluiu-se que a arte dramática permite desenvolver a socialização dos pacientes e aumentar sua confiança e autoestima. Tal efeito positivo decorre da possibilidade de compartilhar experiências diferentes em um clima de aceitação e reasseguramento.
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