- Vigilância em Saúde
Jaqueline de Alcântara Ferreira
- 15 abr 2024
Finalidade da experiência: o grupo socialização tem como objetivo instituir um espaço coletivo de informação e de incentivo à cidadania, lazer e cultura. Orientar os usuários sobre os direitos socioassistenciais, buscando o fortalecimento do empoderamento e do protagonismo social. Dinâmica e estratégia dos procedimentos usados: o grupo é aberto, participam apenas os usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Belas Tardes, Ponta Grossa (PR), conforme conste no seu Projeto Terapêutico Singular (PTS), o qual é elaborado a partir das necessidades e desejos dos usuários em conjunto com a equipe de referência territorial. Acontece todas as segundas-feiras de 13h30 às 15h00 através das atividades: elaboração de cartazes com os temas: cidadania e direitos, incentivo à leitura, reflexões através de letras de música, dinâmicas de grupo, atividades lúdicas e visitas a instituições culturais e de direitos sociais. Indicadores, variáveis e coleta de dados: utiliza-se o grupo socialização como método de coleta de dados. Os relatos acontecem de modo escrito e/ou oral conforme o desenvolvimento das atividades. Buscamos também observar e explorar o conteúdo implícito, mas presente nas entrelinhas da comunicação como gestos, olhares e expressões. Observações, avaliação e monitoramento: durante o desenvolvimento de uma determinada dinâmica, os usuários puderam refletir sobre seus sentimentos e relataram: eles pensam que eu não tenho força de vontade e que sou muito fraca. O segundo usuário comenta que: o morador de rua é considerado lixo do mundo e escória de todos, o terceiro diz: a droga é mais forte que eu, e o quarto: vou morrer e não vou resolver meus problemas. Durante o desenvolvimento do grupo, observou-se através de relatos que o usuário de substância psicoativa possui baixa autoestima, sente-se excluído e frustrado por não conseguir alcançar objetivos propostos por si mesmo, objetivos esses, um tanto quanto difíceis de atingir a curto prazo.
As substâncias psicoativas podem produzir mudanças nas sensações, no grau de consciência, no estado emocional, psicológico e comportamental das pessoas. Essas alterações variam de acordo com as características individuais, psicológicas, físicas e sociais do indivíduo, do tipo da substância utilizada, da quantidade, frequência e da circunstância do uso. O uso abusivo, além dos comprometimentos clínicos pode estar associado ao prejuízo na vida social, levando ao abandono e a rupturas dos laços afetivos e conflitos com sua rede de apoio devido ao preconceito e estigma que sofrem. O processo da reforma psiquiátrica brasileira trouxe a criação dos serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico. A partir daí, originou-se as leis que garantem os direitos das pessoas com transtorno mental e reorganiza toda a gestão da saúde mental do país: Lei nº 10.216 de abril de 2001, a Portaria/ GM nº 336 de 19 de fevereiro de 2002 que define e estabelece diretrizes para os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS têm como característica buscar a reabilitação psicossocial de seus usuários no território onde constrói suas vidas. O CAPS AD oferece atendimento para pessoas com transtorno decorrentes do uso abusivo de crack, álcool e outras drogas. Em Ponta Grossa (PR), o CAPS AD Belas Tardes, iniciou suas atividades em 2 de abril de 2004 e oferece atendimento individual e em grupo, acolhimento diurno, visita domiciliar, acompanhamento familiar e consulta psiquiátrica conforme avaliação da mini-equipe de referência territorial e conste no Projeto Terapêutico Singular (PTS) construído em conjunto com o usuário. A partir da demanda do serviço surgiu a necessidade de implantar um grupo com informações acerca dos direitos socioassistenciais, refletindo sobre o nosso país através da leitura de jornal e de letras de músicas, dinâmicas, atividades culturais e de lazer buscando elevar a autoestima, a cidadania e o empoderamento dos pacientes, denominou-se então, grupo socialização (GS).
Sabe-se que a terapêutica da dependência química é complexa e, conforme a reforma psiquiátrica, o tratamento a partir do isolamento social proporcionado pelas internações, e o uso exclusivo de medicações, não é satisfatório, não havendo, portanto, intervenções prontas. Acredita-se que, na saúde mental seja essencial trabalhos de Socialização que contribua para que o usuário possa se aceitar como pessoa, como cidadão, que tenha uma visão crítica do uso da substância e que seja empoderado para decidir sobre sua vida, e de práticas que combatam os processos de segregação. Portanto, o grupo continuará a desenvolver suas atividades através de dinâmicas, rodas de conversa, jogos, filmes, leituras diversas, discussões sobre os temas autoestima, cidadania, direitos sociais, buscando o empoderamento e autonomia dos usuários, contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida.
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