A dimensionalidade em saúde pública nas comunidades ribeirinhas e povos da floresta no município de Laranjal do Jari (AP)

O Estado do Amapá tem 70,2% de seu território constituído por espaços legalmente
protegidos, entre unidades de conservação ambientais e terras indígenas. O Município de Laranjal do Jari, situado no sul do estado, é composto por cerca de 56% de seu território de unidades de conservação ambiental. Sua população atualmente é de cerca de 51 mil habitantes, sendo que cerca de 4 mil moram em áreas ribeirinhas e na floresta, divididas em 17 comunidades. A Secretaria de Municipal de Saúde de Laranjal do Jari tem catalogadas cerca de 600 famílias nesses locais e mais moradores das adjacências, e todas as famílias recebem assistência em saúde periódica. A comunidade mais próxima da cidade fica a 1h de vodeira, as demais são via terrestre por quase 3 h em estradas de chão e mais 3h de voadeira. A equipe de saúde necessita estar preparada com os insumos necessários ao atendimento, além de itens como alimentação, água, combustível e muitas vezes material para alojar-se em pernoite. A equipe parte para o atendimento nas zonas ribeirinhas e de florestas, chamadas de zona rural, às 5h da madrugada munida do que possa ser necessário, porque não dá para voltar e buscar. A maioria das comunidades tem acesso à telefonia rural e internet, facilitando o contato com os técnicos de enfermagem e agentes comunitários que vivem nas comunidades. A partir desses atendimentos periódicos, no final de março, a equipe passou a realizar atendimentos voltados também ao combate da COVID-19.

• Mitigar os efeitos da chegada da COVID-19 nas comunidades da zona rural de Laranjal do Jari-AP, aproveitando o próprio fator da dificuldade de acesso ao interior.

• Conscientizar a população rural da importância do isolamento social, considerando que as unidades habitacionais são bem pequenas, em áreas alagadas e próximas umas das outras.

• Realizar educação em saúde, pois o nível de informação e a baixa escolaridade dificultam o entendimento do “novo normal” prazido pela pandemia.

A garantia ao acesso à saúde pelos povos ribeirinhos e da floresta durante a pandemia de COVID-19, teve grande êxito graças ao misto dos elementos: catalogação das famílias há pelo menos há 6 anos, com o histórico de saúde delas documentado em prontuários, bem como o atendimento ser realizado pela mesma equipe de profissionais (pelo menos a maioria deles nos últimos 3 anos). Esses elementos foram de relevância significativa nesse momento de pandemia, em que era necessária pressa no trabalho de combater a expansão da doença, pois, para poder realizar o diagnóstico, prestar as orientações e conseguir a adesão do paciente ao tratamento oferecido, já havia a confiança do paciente na equipe, pelo dos profissionais já conhecerem as comunidades, o ambiente, a cultura e já ter vínculo criado com as famílias, já que nessas regiões as pessoas tendem a não ser muito receptivas à ciência e preferirem apegar-se às crendices populares. Desse modo, ficou bem evidente que os processos de trabalho, como uma visão global de gestão de cada fase, ou seja, de forma dimensional, não devem ser negligenciados, pois interferem diretamente na resolutividade dos serviços em saúde. Observou-se que dentre os cerca de 4 mil assistidos, até o momento, houve apenas 86 notificações positivas, tendo apenas 02 óbitos de pacientes que já estavam com idade bem avançada e apresentavam problemas respiratórios pré-existentes. O trabalho continua incessante, para que esse número não sofra alterações.

Mundo distópico é a melhor forma de definição para o cenário atual. Todos tinham uma noção de pandemia e uma vaga ideia da quão devastadora ela pode ser, mas que seria muito difícil e até impossível acontecer atualmente, fato destacado pelas faculdades de saúde, e diante do “impossível de acontecer” todos se viram impotentes. Não foi diferente em Laranjal do Jari/AP, inicialmente a incredulidade, por se localizar bem isolado, achava-se que seriam poucos casos e brandos, mas aí já se notava o despreparo sobre o tema, e não havia tempo para capacitações e planejamentos a médio e longo prazo. Nesse momento, percebeu-se que a gestão de trabalho da equipe de saúde da zona rural foi resultado de um trabalho organizado e planejado de forma sólida ao longo dos anos. Desse modo, não só a capacidade técnica da equipe como o perfil para a resolutividade dos atendimentos baseado no princípio da humanização e do trabalho dimensional, afastou de Laranjal do Jari o velho conceito da “praticidade” de chegar, sentar, atender e ir embora. Assim, observa-se que se não houver a unicidade de profissionais e gestores capazes de viver e ofertar a saúde técnica com humanização e olhar holístico não há resultados positivos, nem resolutividade.

Principal

DANYELA DARIENSO

danydarienso@yahoo.com.br

Coautores

DANYELA DARIENSO, ROSANGELA ALMEIDA ROSA , REGIANY CARDOSO , OSCAR AMARAL, ALINE DAYANE DE SÁ, GUILHERME JÚNIOR PINTO RIBEIRO

A prática foi aplicada em

Laranjal do Jari

Amapá

Norte

Esta prática está vinculada a

JOSE MARIA CASTELO, 400 Prox IFAP CAJARI Laranjal do Jari - Amapá CEP: 68.920-000

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Instituição Pública

Foi cadastrada por

Monique Melo Gomes

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11 set 2024

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11 set 2024

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Concluída

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