Belém (PA) se prepara para receber, entre os dias 10 e 21 de novembro, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) — um dos mais importantes eventos globais dedicados à sustentabilidade. A conferência reúne líderes de todo o mundo com o objetivo de reforçar os compromissos firmados no Acordo de Paris e conter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5ºC até o final do século.
Neste contexto, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentou a Carta Aberta da Fiocruz: contribuição para a COP30, lançada durante o Fórum de Líderes Locais, no Rio de Janeiro, em 4 de novembro. O documento expressa o posicionamento da instituição diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e traz 11 recomendações centrais para integrar saúde, meio ambiente e justiça social nas políticas públicas.
“A crise climática é uma crise de saúde”
Durante o lançamento da Carta, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, destacou que o enfrentamento da crise climática precisa colocar a saúde no centro das decisões globais. “As mudanças climáticas impõem ao sistema de saúde múltiplos riscos — ampliam doenças, comprometem água e alimentos, fragilizam territórios e intensificam sofrimentos psicossociais. Esta Carta é um alerta da Fiocruz de que o desafio ambiental é uma ameaça direta à saúde coletiva e à sustentabilidade socioambiental. É preciso atuarmos de forma integrada e em rede”, afirmou.
As 11 recomendações da Carta apontam caminhos concretos, como fortalecer a resiliência dos sistemas de saúde, promover a justiça climática, valorizar os biomas como patrimônio da vida, ampliar a participação social e garantir financiamento climático para ações em saúde.
Soluções concretas para desafios globais
Integrada às ações da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), a qual a IdeiaSUS está vinculada, e em total alinhamento às recomendações da Carta Aberta, a Plataforma IdeiaSUS Fiocruz destaca experiências reais do Sistema Único de Saúde (SUS) que demonstram como comunidades e profissionais têm atuado de forma integrada, solidária e inovadora para promover saúde e sustentabilidade.
Entre essas experiências, o projeto “Meu Bairro, Minha Casa”, em Joinville (SC), mobiliza moradores para limpeza urbana e controle de doenças, transformando o território por meio da educação ambiental e da participação social. Já em Palmares (PE), o projeto “Vigilância ambiental e sustentabilidade no combate ao Aedes aegypti” une saúde pública e reciclagem, retirando mais de 4 mil pneus do meio ambiente e reutilizando-os em hortas e praças.
Outras iniciativas ganham destaque pela diversidade de contextos e públicos:
- “Saúde das Populações Tradicionais na Sub-Bacia do Canal do Cunha” (RJ), que promove vigilância popular e educomunicação em áreas de vulnerabilidade;
- “Vigidesastre”, ação intersetorial para resposta rápida a desastres ambientais, em Barra do Piraí (RJ);
- “Atenção à saúde indígena em Tocantinópolis (TO)” e o projeto “Psicologia e saberes indígenas na UBS Brasil Novo”, voltados ao fortalecimento do cuidado integral e intercultural;
- “Saúde e prevenção nas comunidades indígenas do Oeste do Paraná”, ampliando o acesso a ações de prevenção e diagnóstico de doenças.
Vozes que inspiram: saúde, território e pertencimento
Essas práticas também ecoam na série audiovisual “Vozes da Saúde”, produzida pela IdeiaSUS em parceria com a VideoSaúde Fiocruz. A série, que já ultrapassou 150 episódios, dá visibilidade a quem faz o SUS acontecer em diferentes territórios, com histórias de resistência e inovação.
Em episódios como “Equidade no SUS por meio da articulação regional: saúde mental indígena”, a pajé Andréa Moreira fala sobre o diálogo entre saberes tradicionais e cuidados em saúde. O psicólogo Ailton Kokama, em “Conhecendo o Controle Social: formação junto à Comunidade Indígena Nova Esperança Kokama”, compartilha o processo de formação do movimento social indígena para o controle social em saúde.
Também se destacam vozes como as do indígena Wallace Apurinã (AM), defensor dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena, e de Vitor Cesar Mathias (RJ), agente comunitário que atua em áreas afetadas por desastres naturais.
Outros episódios abordam experiências em Condado (PB), com o controle biológico do Aedes aegypti; em Recife (PE), com o projeto O legado da Jurema; e no litoral do Piauí, com a Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), protagonizada por Vania Conceição Sacramento, que luta pela permanência das comunidades tradicionais em seus territórios.
Episódios recentes também retratam ações de resposta e resiliência frente a desastres ambientais, como “Vigidesastre: resposta rápida intersetorial para o impacto de um desastre ambiental na saúde humana” e “Saúde e Resiliência: a experiência de reparação, manejo e recuperação de desastres”, mostrando como o SUS atua com agilidade, empatia e cooperação interinstitucional diante de emergências climáticas.
O SUS como exemplo de ação integrada
As experiências reunidas pela IdeiaSUS Fiocruz mostram que os princípios de cooperação, participação social e justiça climática já estão sendo praticados em diversas regiões do país. Elas reforçam a mensagem central da Carta Aberta da Fiocruz: a defesa da vida depende da integração entre saúde, ambiente e equidade.
Com essas ações, a Fiocruz e sua Plataforma IdeiaSUS se somam aos esforços globais da COP30, levando ao debate internacional exemplos concretos de que a transformação sustentável começa nos territórios — e que o SUS é um dos pilares mais potentes para enfrentar os desafios climáticos do século XXI.
Por Katia Machado (Ascom IdeiaSUS Fiocruz)