As vacinas são umas das intervenções de maior importância para a população, evitam doenças imunopreveníveis e trazem qualidade de vida e bem estar. No município de Wenceslau Braz, foram encontradas algumas fragilidades para manter elevadas as coberturas vacinais. Um dos entraves encontrados é o fato de que a vacina injetável é causa de dor para as crianças, gerando sofrimento, medo e ansiedade. Estudos mostram que 40% dos pais se preocupam com a dor no momento da vacinação e 95% desejam aprender formas de reduzi-la durante o procedimento. Este trabalho visa, portanto, defender a utilização de uma prática humanizada e acolhedora e isso requer postura profissional, para o atendimento carinhoso e amoroso e a valorização do outro na equipe. Esse processo deve começar ainda durante a gestação, período em que os pais já aprendem como apoiar suas crianças, por meio de técnicas de distração e encorajamento durante os procedimentos de vacinação. No processo de imunização, é essencial o envolvimento ativo dos pais e a realização do manejo da dor pela equipe de enfermagem, incentivando a prática da amamentação antes, durante e após a vacinação, conforme recomendação emitida pela Nota Técnica n°39/2021- COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. Essa prática humanizada, durante a aplicação da vacina, proporciona não só um momento menos estressante para as crianças, como também gera expectativas de maior adesão às vacinas pela equipe de enfermagem, famílias e comunidade. Desse modo, uma atitude positiva em relação ao manejo da dor, além de facilitar o relacionamento da equipe de enfermagem com as famílias, cria o vínculo necessário para manter os índices de vacinação de toda comunidade em dia. Assim, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com as organizações municipais, se torna possível estabelecer os pilares para um atendimento humanizado, de acordo com os princípios e diretrizes do Programa Nacional de Humanização (PNH).
Diante do quadro observado nos últimos anos, percebemos baixos índices de coberturas vacinais, o que é considerado um perigoso sinal de alerta para o retorno de doenças já eliminadas. Vários fatores podem ser levados em consideração e, dentre os principais problemas identificados, podemos citar as fake news – que questionam a eficácia e a segurança dos imunizantes – e a dor e angústia vivenciadas pelos pais e/ou responsáveis no momento da vacina. A dor é considerada um dos prováveis fatores para a hesitação vacinal. Portanto, a promoção e utilização de estratégias para minimizar o sofrimento em crianças e seus familiares pode gerar grandes benefícios para alcançar metas vacinais e uma população mais participativa nas ações de imunização. As recomendações utilizadas serão as seguintes para tratamento da dor no momento da vacinação: 1. Seguir as recomendações do Programa Nacional de Imunização (PNI) e o manual das boas práticas de injetáveis. 2. Amamentação: deve ser estimulada, quando oportuno, pela enfermagem, como uma prática benéfica para o alívio da dor, devendo ser iniciada antes da aplicação, estimulada durante e após a aplicação da vacina. Bebês alimentados com mamadeira também podem se beneficiar, pois o utensílio confere os benefícios de conforto físico, sucção e ingestão de substância de sabor doce. Se a mãe optar por não participar do momento de vacinação da criança, orientamos a amamentação antes da vacinação. 3. Posicionamento: as crianças podem ser posicionadas de diversas maneiras durante a vacinação e essa escolha deve levar em consideração a posição de conforto, que proporcione um melhor contato com os familiares. 4. Intervenções psicológicas: orientações sobre como lidar com o momento da dor, na sala de vacinação, para o encorajamento dos familiares, que poderão ajudar as crianças a se sentirem seguras e apoiadas, validando seus sentimentos, respondendo suas dúvidas e utilizando palavras positivas e acolhedoras.
Como ponto de partida para a aplicação das técnicas de humanização, em um primeiro momento, foram traçadas estratégias para valorização da equipe que trabalha diretamente com a imunização, pois acreditamos que se os profissionais forem bem cuidados, cuidarão com amor e carinho de cada pessoa que adentre a sala de vacinação. E esse é o princípio básico que deveria perpassar qualquer formação na área da saúde: o conforto dos pacientes. Valorizando esses profissionais, cada um deles recebeu um certificado de reconhecimento pelos importantes serviços prestados ao município. Embora seja um gesto simples, foi muito bem recebido pela equipe e abriu espaço para o diálogo e a interação. O trabalho de humanização passa por diversos fatores, mas é necessário, antes de tudo, ter uma equipe unida e coesa, aberta à aprendizagem e à aplicação de novas técnicas. Assim, visando melhorar as condições de aplicação das vacinas e, consequentemente, o aumento da cobertura dos índices para imunização da população infantil, iniciamos um treinamento sistemático, no início deste ano. O treinamento ocorre semanalmente e será constante no decorrer do ano. Nele, são abordados temas sobre a história e evolução das vacinas e seus benefícios, doenças que podem ser prevenidas pela imunização, acolhimento, formas de abordagens para um atendimento humanizado, maneiras de aplicação de vacina com menor trauma, reações adversas, orientações às famílias, a exigência de um curso anual em plataforma online sobre vacinação e demais temas, que transformam o perfil do vacinador em colaborador, em um profissional apto a melhorar a cada dia. Essa capacitação com a equipe de trabalho, sobre aconselhamento e diretrizes para prática da utilização de diversas ações para o manejo da dor, durante a vacinação, se baseia em vários documentos e, especialmente, na Nota Técnica n°39/2021- COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS, emitida pelo Ministério da Saúde, que trata da amamentação como medida não farmacológica para redução da dor durante a administração de vacinas injetáveis. Já na porta de entrada da sala de vacinação, foi afixado um cartaz informando sobre os benefícios que a amamentação traz no momento da aplicação da vacina, como conforto físico, sucção, distração e ingestão de substâncias que têm o efeito de alívio da dor. Leite materno é um alimento incrível e uma das maneiras mais carinhosas de acalmar a criança no momento da vacinação. Essas estratégias, aparentemente simples, não seriam possíveis sem que fosse traçado um plano de trabalho, em consonância com as diretrizes do município, pois necessitam de estudo, organização e, sobretudo, de políticas públicas que apoiem o fortalecimento da formação continuada dos profissionais, propiciando o conhecimento necessário para o desenvolvimento de habilidades, que levem em conta não somente índices e números, mas a valorização dos profissionais e o conforto das crianças e suas famílias.
A iniciativa de se trabalhar sob a perspectiva da humanização, no processo de vacinação, com o manejo da dor, é relativamente novo no município, mas já pudemos perceber os benefícios a curto prazo: muitas mães, que desconheciam a possibilidade de amamentação, no momento da imunização, relatam se sentirem mais seguras e houve grande adesão a essa técnica. Percebemos também que essa ação possibilitou um menor atraso na procura da vacinação e na manutenção das doses. Outro fator importante, é o maior empenho e comprometimento da equipe de enfermagem, mais unida e motivada, facilitando um melhor relacionamento com os usuários e suas famílias. Merece destaque, ainda, o fato de que a integração de vários setores para o fortalecimento das ações já executadas e das novas ações, gera grande expectativa de retomarmos os altos índices de coberturas vacinais no município. E, por fim, vale destacar que a equipe de imunização de Wenceslau Braz recebeu convites de municípios vizinhos para relatar sobre a experiência de implantação do processo humanizado de vacinação, o que reafirma a importância dessa ação, visto que é uma necessidade não apenas local. A vacinação é um serviço de saúde essencial e promover sua humanização, com o manejo da dor, é uma das ações com benefícios a curto e longo prazo. Buscamos, desse modo, um atendimento baseado nos princípios da Política Nacional de Humanização (PNH), que busca transformar as relações de trabalho em corresponsabilidade, permitindo que os usuários sejam os protagonistas. O ser humano nasce e morre precisando de cuidados e a enfermagem, nesse aspecto, tem papel preponderante ao realizar a arte do cuidado amoroso e carinhoso, auxiliando as famílias e as crianças a lidarem com o momento da vacina de forma mais agradável e gentil. Sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas temos a certeza de termos dado passos importantes. Parafraseando Madre Teresa de Calcutá, poderíamos facilmente chegar à conclusão de que somos apenas gotas d’´água no oceano, mas sem essa gota o oceano seria menor.
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