A infância é um período em que se desenvolve grande parte das potencialidades humanas. No entanto, os distúrbios que se desenvolvem nessa época são responsáveis por graves consequências para os indivíduos e comunidades. A alimentação e a nutrição são fatores determinantes e condicionantes da saúde de um indivíduo. Há evidências exaustivas de que déficits de crescimento na infância estão associados à maior mortalidade, excesso de doenças infecciosas, prejuízo para o desenvolvimento psicomotor, menor aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva na vida adulta. Para as crianças, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno exclusivo (AME) seja ofertado até os seis meses de idade, com inserção gradativa de alimentos complementares após esse período, sendo essa recomendação fundamental na prevenção de distúrbios nutricionais prevalentes na infância, incluindo a anemia, desnutrição e sobrepeso/obesidade. Dentro da atenção primária à saúde, a puericultura surge como uma ferramenta oportuna para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, e para a realização de educação em saúde considerando a criança no seu contexto socioeconômico, cultural e familiar contribuindo para construção de novos cenários em saúde. Nos primeiros anos de vida, a variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos influenciam a formação da preferência e a relação da criança com a alimentação. A criança que tem acesso a alimentos saudáveis e adequados durante a primeira infância tem maior probabilidade de se tornar um adulto consciente e autônomo para fazer escolhas alimentares saudáveis. Além do conjunto de ações que deve compor a consulta da criança na puericultura, o desenvolvimento de uma estratégia baseada na troca de saberes, na empatia, e na formação de um vínculo afetivo entre a equipe de saúde e a família, se destaca enquanto ferramenta que favorecerá a adesão à puericultura e ao processo de cuidado da criança com autonomia, tomada de decisão conjunta e instituição de planos eficazes de ação e prevenção, promoção e recuperação da vida saudável. Instituir ações de promoção à alimentação complementar ao aleitamento materno e analisar as práticas alimentares entre crianças menores de dois anos assistidas pela Atenção Primária à Saúde. As atividades foram iniciadas em maio de 2018 na Unidade de Saúde da Família Sapucaia no município de Timbaúba (PE), e permanecem atualmente no cronograma da unidade em encontros vinculadas à assistência de puericultura que assiste 105 crianças na faixa etária da estratégia. A elaboração da proposta de intervenção foi baseada no Planejamento Estratégico Situacional, observando a necessidade local de uma prática assistencial integrada, orientada pelas práticas alimentares saudáveis, englobando atributos como oportunidade, adequação nutricional, segurança e respeito às características culturais de cada família, de forma contextualizada, participativa e multiprofissional. A abordagem seguiu a linha de transformação cognitivo-comportamental, com base na intervenção educacional. Os encontros quinzenais são realizados dentro da unidade de saúde e contemplam exposições em rodas de conversas e oficinas culinárias além da consulta de puericultura coletiva procurando sensibilizar e conscientizar os participantes à promoção de hábitos alimentares saudáveis, estimulando o aleitamento materno e a sua complementação em tempo oportuno, expondo o valor nutricional dos alimentos e a elevada demanda de energia, proteínas e micronutrientes como o ferro, o zinco, o cálcio, a vitamina A, a vitamina C e os folatos, no crescimento infantil, além de trabalhar a segurança nos insumos, de acordo com as recomendações do manual de dez passos da alimentação saudável para crianças brasileiras menores de 2 anos, do Ministério da Saúde e OPAS/OMS. Nas oficinas culinárias muitos produtos utilizados nas receitas são obtidos através da horta comunitária da USF Sapucaia, onde estas oficinas permitiram a criação de um espaço de identificação mútua, trocas de experiências e preparação de receitas simples, rápidas, culturais de baixo custo às famílias, complementadas com a entrega de alimentos cultivados na horta da unidade para famílias em vulnerabilidade social. As informações do consumo alimentar foram coletadas por meio do formulário de marcadores de consumo alimentar para Indivíduos menores de 2 anos, disponível pelo Sisvan e seguiu as recomendações e os instrumentos padronizados pelo Ministério da Saúde. Os formulários, usados foram os específicos para crianças menores de seis meses e crianças de seis a 23 meses e 29 dias de idade, destinado à avaliação da prática alimentar de crianças publicados pela OMS através do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN).
Introdução inadequada da alimentação complementar em crianças menores de 2 anos de vida.
A adesão à consulta de puericultura repercutiu de forma satisfatória na comunidade, 95% dos participantes demonstraram interesse e disseram ter adquirido novos conhecimentos sobre a introdução da alimentação complementar nesse espaço. Esse resultado é importante porque, embora seja atribuição dos profissionais de saúde a sua promoção, a execução desses conhecimentos na prática é da mãe/família/cuidador, já que na fase de introdução alimentar a criança ainda é um ser passivo. Nas rodas de conversa e nas oficinas culinárias, os participantes tiveram a oportunidade de discutir e conhecer assuntos sobre densidade energética dos alimentos, preparação de pratos culturais ricos em nutrientes essenciais, e compreender os atributos indispensáveis na alimentação complementar como oportunidade, adequação nutricional e segurança para o pleno desenvolvimento da criança. Em relação aos hábitos de alimentação complementar coletadas por meio do formulário para ambas as faixas etárias, a maioria das questões se referiram ao dia anterior ao do inquérito e a análise é referente aos últimos dois meses (abril a maio de 2019). Entre as crianças menores de 6 meses, verificou-se que 57% dos lactentes não receberam leite materno, consumindo mais preparações de fórmulas infantis e 14% ingeriram açúcar, comidas de sal e frutas. No inquérito destas crianças, as questões demonstram a necessidade de mais investimentos em ações que visem incentivar a promoção do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade. Para as crianças entre seis meses e menos de 2 anos, os inquéritos objetivaram caracterizar a introdução da alimentação complementar em tempo oportuno, à identificação de marcadores de risco ou proteção para as carências de micronutrientes. Nessa faixa etária verificou-se que 71% das crianças consumiram frutas, 81% consumiram comidas de sal duas vezes ao dia, dessas 77% consumiram na consistência e preparo recomendados, 84% ingeriram legumes e verduras, 87% carne, 64,5% fígado, e 74% feijão. Porém, 58% das crianças não receberam leite materno, das quais, 80% consumiram mingau com leite e 19% ingeriram bebidas adoçadas. No que se refere ao consumo dos alimentos complementares adequados nas crianças maiores de 6 meses, houve maior ingestão de alimentos nutricionalmente ricos do que ultaprocessados, favorecendo a exposição das crianças a maiores fatores de proteção, sendo considerados indicadores de alimentação complementar saudável ao se aproximarem da meta do Ministério da Saúde (80%). Esses indicadores permitiram avaliar os hábitos alimentares das crianças atendidas e intensificar ações de cuidado para os grupos mais vulneráveis.
Profissionais de saúde que assistem crianças menores de 2 anos, mães e cuidadores. A elaboração da proposta de intervenção foi baseada no planejamento estratégico situacional, observando a necessidade local de uma prática assistencial integrada, orientada pelas práticas alimentares saudáveis, englobando atributos como oportunidade, adequação nutricional, segurança e respeito às características culturais de cada família, de forma contextualizada, participativa e multiprofissional. A abordagem seguiu a linha de transformação cognitivo-comportamental, com base na intervenção educacional.
As práticas alimentares saudáveis nos dois primeiros anos de vida da criança interferem positivamente no seu estado nutricional e na sua sobrevivência. Na puericulrura, a educação em saúde se destaca como uma ferramenta facilitadora da estratégia de adequação nutricional e promoção da alimentação complementar saudável em tempo oportuno, além de contribuir no empoderamento e autocuidado, dando voz e vez as mães/família/cuidadores, considerando seus conhecimentos, crenças, hábitos e papéis, de modo a assegurar a sustentabilidade da assistência em saúde da criança.
R. Valfredo Ferreira Lima, 151 - Centro, Timbaúba - PE, 55870-000, Brasil
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