- Atenção Primária à Saúde
Samily Batista da Silva
- 20 set 2024
Amapá
O Brasil deverá registrar 704 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para a região sudeste, que concentra 70% da incidência. Quando se trata de câncer, o município de Petrópolis, conta somente com dados de mortalidade para pensar estratégias de combate a doença. Dados provenientes das estatísticas de mortalidade podem ser afetados por várias fontes de erros, mas, dentro de uma perspectiva epidemiológica, fornecem dados valiosos sobre o estado de saúde das populações. Todavia, a qualidade dos dados depende, entre outros, do adequado preenchimento dos registros e da acurácia na determinação da causa básica do óbito. Em investigações de doenças que apresentam alta letalidade as taxas de mortalidade são particularmente úteis, entretanto, os dados sobre morbidade são extremamente importantes para o entendimento de tendências na mortalidade. A implantação de serviços e novas tecnologias para levantamento de dados de morbidade representam um grande desafio para o SUS, por conta, entre outros motivos, da dificuldade de absorção da nova tecnologia pela Rede de Atenção à Saúde, seja pelo aprendizado da nova tecnologia, ou pela mudança do fluxo de trabalho. Sendo assim, buscando contribuir na construção de um perfil de morbidade relacionada ao câncer no município utilizando recursos já disponíveis, foi desenvolvida uma planilha de territorialização do câncer para ser aplicada, inicialmente, nas unidades de saúde da Atenção Básica (AB). Identificar nos territórios cobertos pela AB do Município de Petrópolis os casos de câncer atuais e suspeitos, bem como aqueles pacientes que tiveram a doença em algum momento da vida. A territorialização do câncer na AB foi realizada no ano de 2023, através da aplicação de um instrumento de coleta de dados incluindo: nome do paciente, sexo, idade, raça/cor, se tem câncer, se teve câncer ou se tem suspeita de câncer, tipo de câncer, se está em acompanhamento, local do acompanhamento, ano do diagnóstico e se tem metástase, que deveria ser preenchido pela equipe das Estratégias de Saúde da Família e Unidades Básicas de Saúde. Ao todo 57 unidades da AB foram notificadas com a solicitação do preenchimento do instrumento de coleta de dados, tendo a territorialização atingido 95,8% de cobertura com as respostas recebidas.
A implantação de serviços e novas tecnologias para levantamento de dados de morbidade representam um grande desafio para o SUS, por conta, entre outros motivos, da dificuldade de absorção da nova tecnologia pela Rede de Atenção à Saúde, seja pelo aprendizado da nova tecnologia, ou pela mudança do fluxo de trabalho. Sendo assim, buscando contribuir na construção de um perfil de morbidade relacionada ao câncer no município utilizando recursos já disponíveis, foi desenvolvida uma planilha de territorialização do câncer para ser aplicada, inicialmente, nas unidades de saúde da Atenção Básica (AB).
Foram obtidas informações de 678 pacientes acompanhados pela AB do Município. Desses, 48% (327) tiveram câncer em algum momento da vida, 43% (292) tem câncer, e 10% (71) estão em suspeita oncológica. 63% (424) são mulheres e 37% (253) são homens, a média de idade foi de 64,4 (14,4) anos, sem grande variação por sexo. Quanto ao quesito raça/cor, a informação foi coletada para 663 pacientes, sendo 67% (443) brancos, 17% (114) pardos e 16% (106) pretos. Dentre os pacientes que tem câncer, o câncer de mama foi o mais frequente com 27% (80), seguido pelo de próstata 17% (49), intestino 13% (38) e pele 9% (25). Para os pacientes que tiveram câncer os mais frequentes também foram os de mama, próstata, intestino e pele, enquanto que os pacientes com suspeita oncológica também apresentaram os mesmos tipos de câncer como mais frequentes, acrescidos da tireóide. O período de 2018 a 2023 foi o que concentrou o maior número de diagnósticos dos pacientes com câncer, sendo o ano de 2022 o de maior pico (21%). Dos pacientes com câncer, 16% (46) possuem metástase. As unidades que compõem a 3ª Região de Saúde, localizadas no Bairro Castrioto, Bataillard, Pedras Brancas, Mosela, Comunidade Menino Jesus de Praga, Comunidade São João Batista, Moinho Preto e Fazenda Inglesa, concentram a maioria dos pacientes com câncer (22% (63)).
A territorialização do câncer mostrou-se uma iniciativa relevante para auxiliar na identificação dos casos de câncer nos territórios e construção de um perfil de morbidade relacionada ao câncer no município, e contribuiu diretamente para o planejamento estratégico de ações de prevenção direcionadas aos tipos de câncer predominantes em cada região no ano de 2024, bem como na vigilância dos casos em acompanhamento no município. Como exemplo, no ano de 2024 foi realizada pela primeira vez no município a Campanha Março Azul Marinho, onde as equipes da AB foram mobilizadas para a realização de ações de prevenção e promoção relacionadas ao câncer colorretal, uma vez que foi detectada elevada prevalência desse tipo de câncer nos territórios, acompanhando a tendência nacional.
Para facilitar a implementação de prática similar em outros municípios sugerimos que após a construção do instrumento de coleta de dados seja realizada uma capacitação para o seu correto preenchimento para os profissionais que serão responsáveis, bem como a realização de um teste piloto para verificação da qualidade da coleta da informação. Conscientizar os profissionais da Rede de Atenção à Saúde do impacto que esses dados coletados e atualizados no cotidiano do trabalho têm para a qualidade da vigilância e informação em saúde, além de contribuir para construção de indicadores de qualidade e permitir a criação políticas públicas mais direcionadas.
Rua Figueira de Melo, 106 - Centro, Petrópolis - RJ, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO